Sem auxílio, desempregados vivem de vender máscaras

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Foto: Arte: Metrópoles

A noite para Maria Gildacy, 40 anos, tem outro significado há quase um ano. Desde o início da pandemia, ela, que é vocalista de um grupo de forró, trocou o microfone pela máquina de costura. Acostumada ao agito das apresentações noturnas, agora ela ouve somente o barulho do motor elétrico do aparelho.

A decisão de confeccionar máscaras de proteção caseiras contra a Covid-19 veio assim que a quarentena foi instaurada em São Paulo, há quase um ano.

Impossibilitada de se apresentar ao vivo, Gil, como é conhecida na periferia de Itaquaquecetuba, na região metropolitana, acreditou que costurar seria uma boa saída para manter a casa onde vive com o marido, também forrozeiro, e os três filhos.

Dessa maneira, isolou-se em um quarto dentro de casa para confeccionar os itens de segurança para vender. Ela passa mais de 12 horas por dia sentada à máquina de costura, dorme por duas horas e volta a produzir. Nem mesmo a reabertura de comércio, bares e restaurantes no fim de 2020 diminuiu seu ritmo.

Gil vende uma máscara de algodão e tricoline por R$ 5; a partir de 20 unidades, o valor sai, em média, por R$ 3,50 cada. Por semana, costura cerca de 200 máscaras, e consegue faturar até R$ 2 mil ao fim de cada mês.

“Com esse dinheiro eu consigo pagar as contas sem atraso, saí do vermelho, e consigo alimentar meus filhos”, diz ela, que tem como clientes pessoas que vendem máscaras em estações de trem e metrô.

Na Europa, países como França, Alemanha e Áustria não recomendam mais o uso de máscaras de tecido, e agora exigem os modelos cirúrgicos N95 ou PFF2. Esses itens descartáveis são mais seguros por oferecer um grau mais elevado de proteção em situações de risco, como em hospitais.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) indica o uso de ambas as máscaras, e pede que os usuários fiquem atentos à reutilização do material. Contudo, confirma que a N95 garante maior proteção ao impedir a propagação de gotículas.

Se houvesse uma reviravolta dos órgãos de saúde, Aldirene Leite, 40 anos, não estaria tão preocupada. O que tira seu sossego é o aumento do preço dos tecidos. No início da pandemia, ela pagava R$ 12 pelo metro de tricoline; agora, desembolsa R$ 20.

 

Ela, que é diarista, mas está sem trabalho, só compra material para fazer máscaras de personagens infantis se a demanda for grande. Nas lojas, o metro não sai por menos de R$ 40, quando há seis meses custava a metade.

Entretanto, isso não significa que o preço do seu produto subiu. “A concorrência de vendedores é grande. Não adianta cobrar mais e não vender. Na periferia não funciona assim”, afirma Aldirene, que também vive em Itaquaquecetuba.

De acordo com ela, a demanda por máscaras caiu a partir de novembro, época em que o estado de São Paulo permitiu a retomada do comércio. Em alguns momentos, Aldirene pensou que teria de procurar outra ocupação para se manter.

Desde o início de 2021, quando os indicadores da pandemia pioraram na Grande São Paulo, ela voltou a trabalhar mais. Duas vezes na semana, começa a costurar às 9h e termina às 21h, com intervalos apenas para almoçar e descansar o corpo.

Aldirene também concilia os estudos com a máquina de costura. Ela está no segundo ano do curso técnico de enfermagem. No tempo livre, tenta complementar a renda com penteados e escovas progressivas. “Eu moro em apartamento, tenho que evitar barulhos. Se eu pudesse, trabalhava até de madrugada”, confessa.

Para o presidente do instituto de pesquisas Locomotiva, Renato Meirelles, os brasileiros periféricos souberam encontrar uma saída para a crise econômica na pandemia. De acordo com ele, o empreendimento nessas regiões se dá por necessidade, e não por opção.

“Com as máscaras, vemos uma crescente demanda da população brasileira querendo se proteger [do vírus]. Os empreendedores customizaram o produto. De um lado temos pessoas que geram renda e do outro aqueles que querem marcar sua própria identidade com uma máscara que o diferencia da multidão. É um cenário muito propenso”, avalia.

Mesmo com a produção em alta, Maria Gildacy, a Gil, lamenta um ano de pandemia que São Paulo completa. Por isso, ela não vê a hora de subir de novo nos palcos para cantar ao vivo.

“Eu sinto muito por ganhar dinheiro em uma situação como essa. Não fico feliz por vender máscara, eu fico triste. Quero que a pandemia acabe logo.”

Metrópoles

 

 

 

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