Cai apoio a Bolsonaro nas polícias

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Foto: Isac Nóbrega/PR

Obcecado pela reeleição em 2022, o presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo abalos em uma de suas bases eleitorais mais fiéis: os integrantes das forças de segurança. As insatisfações mais flagrantes estão concentradas nas corporações civis e federais, mas também é possível rastrear um princípio de descontentamento com o presidente nas Polícias Militares (PMs).

Para amenizar um dos muitos focos de reclamações, o Ministério da Saúde concordou nesta semana com uma proposta do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) para liberar a vacinação em nível nacional aos policiais e bombeiros que estão na linha de frente do combate à Covid-19. Cientes da escalada nas pressões dentro das corporações, governadores de diversos estados vinham incluindo os agentes nos programas de imunização sem que houvesse uma coordenação federal. Entre os congressistas mais influentes da Frente Parlamentar da Segurança Pública, popularmente conhecida como ‘bancada da bala’, o discurso é de que Bolsonaro perdeu o timing para fazer um gesto político aos policiais. Mais uma vez, a letargia do governo federal serviu para amplificar as ações dos gestores estaduais, entre eles rivais políticos do presidente, como o tucano João Doria (SP).

A vacinação dos agentes era uma pauta encampada pela bancada da bala há semanas. O inconformismo maior entre os policias diz respeito ao plano de vacinação nacional considerar que os presidiários devem ser imunizados antes dos membros das forças de segurança. Para aplacar a tensão, o líder do grupo parlamentar, deputado Capitão Augusto (PL-SP), apresentou no último dia 17 um requerimento para o Ministério da Saúde incluir a imunização dos agentes no calendário prioritário, mas o documento foi rejeitado em meio à troca de gestão na pasta. Uma reunião com Bolsonaro também foi requisitada pela frente e, mais uma vez, o pedido foi ignorado. “Há um divórcio acontecendo, sim. Na prática, nós perdemos mais em dois anos de gestão Bolsonaro do que nos 10 anos de administrações anteriores”, diz Capitão Augusto. “Não há nenhum sinal de prestígio nem aceno por parte do presidente. Existe um descontentamento muito grande nas polícias do Brasil. O pessoal começou a ver que já não adianta mais.”

Outro episódio interpretado pelas tropas como um descaso foi o silêncio de Bolsonaro em relação à morte do senador Major Olímpio (PSL-SP), vítima da Covid-19. Olímpio, que gozava de bastante prestígio entre os policiais militares, principalmente em São Paulo, já estava rompido com o presidente desde 2019, mas foi um dos primeiros políticos a acreditar na candidatura do então deputado do baixo clero ao Palácio do Planalto. “Aquilo foi um tapa na nossa cara”, afirmou o Capitão Augusto. Outro influente representante da PM paulista, em condição reservada, disse que o episódio ampliou o “zum-zum-zum” e o descontentamento em relação ao presidente entre praças e oficiais. É inegável que a figura de Bolsonaro permanece muito forte entre os PMs, mas alguns alertas são suficientes para o presidente prestar maior atenção à sua base. “Não vemos algo capaz de causar uma revolta, mas o mundo vive de sinais. Se a água bate muito forte na represa e de forma constante, uma hora podemos ter problemas”, declarou o coronel Marlon Jorge Teza, presidente da Federação Nacional de Entidades de Oficiais Militares Estaduais (Feneme).

No âmbito civil, os agentes das forças de segurança têm dado mostras mais evidentes da frustração acumulada com o governo. Entidades que representam várias categorias organizaram uma carreata contra Bolsonaro no dia 17 e, desde então, têm feito manifestações pontuais, como a paralisação das atividades profissionais por uma hora no último dia 22. Além da falta de prioridade na campanha de vacinação, as insatisfações dentro das instituições têm relação com pautas corporativas. As reclamações começaram já em 2019, quando as forças se sentiram preteridas ao terem mudanças muito mais amplas nas regras de aposentadoria do que aquelas anunciadas para os militares. Neste ano, com a aprovação da PEC Emergencial, os policiais argumentam que foram criados gatilhos capazes de bloquear reajustes salariais por até 15 anos. Segundo as entidades de classe, há também incertezas em relação à reforma administrativa que será discutida no Congresso, como a possibilidade de pessoas de fora da Polícia Federal (PF) serem escolhidas para cargos de direção ou a liberação para policiais atuarem como “trainees”, num regime em que trabalhariam na corporação sem que estivessem oficialmente contratados. A revolta com as mudanças é tamanha que os delegados das chefias da PF do Rio de Janeiro estudam entregar os cargos em protesto.

“Nunca os delegados estiveram tão nervosos como agora”, disse Edvandir Paiva, presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF). “No momento, não há conversas com ninguém no governo federal. Mesmo que esses canais existissem, eles perderam a credibilidade que tinham antes”, afirmou. Para o secretário-geral da União dos Policiais do Brasil (UPB), Marcos Camargo, nota-se hoje uma ampla decepção entre os policiais federais e civis que endossaram a candidatura de Bolsonaro em 2018. “É bom que se diga que instituições e corporações de estado nunca embarcaram no governo. Mas, em relação à base, muita gente está indignada. Não há nada condizente com o que o presidente falava na campanha e com a forma como o seu governo se porta”, declarou. Entre esses indignados está Dovercino Neto, presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), que disse em entrevista recente à BBC Brasil que Bolsonaro traiu toda a categoria.

É cedo para dizer se haverá uma debandada de policiais e bombeiros da base bolsonarista em 2022. Forças policiais são conhecidas em todo o mundo por seus funcionários terem um viés ideológico mais conservador. “A pergunta de um milhão de dólares não é saber o que as polícias pensam. Isso já se sabe há tempos. A novidade é entender por que isso se tornou tão relevante para o debate político do país”, diz um secretário de segurança pública influente entre os PMs. Segundo o último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), há um eleitorado de aproximadamente 18,5 milhões de pessoas formado por militares e policiais e seus familiares diretos. A prioridade de Bolsonaro, claro, é mantê-los a seu lado até a eleição de 2022. Como VEJA mostra em reportagem na edição desta semana, apaziguar os ânimos e garantir a lealdade desse grupo será uma das tarefas de Anderson Torres, o novo titular do Ministério da Justiça. Ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Torres tem bom trânsito no Congresso, é delegado da PF e amigo dos filhos do presidente. No Planalto, ele é visto como um personagem chave para impedir a escalada de uma crise que pode custar caro ao presidente.

Veja 

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