Antipetismo perdeu força com Bolsonaro, diz Boulos

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Foto: Reprodução

Para Guilherme Boulos (PSOL), líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e coordenador da Frente Povo Sem Medo, o sentimento anti-PT e anti-esquerda —que predominou nas eleições presidenciais de 2018— não deve ser força hegemônica para as eleições de 2022. Na avaliação dele, o motor da disputa eleitoral do ano que vem será um “sentimento contra [o presidente] Bolsonaro”.

“O sentimento que a gente já vê hoje no Brasil e que provavelmente irá pautar as eleições de 2022 é muito diferente do sentimento que pautou 2018”, disse Boulos ao participar hoje do UOL Entrevista, conduzido pela jornalista Fabíola Cidral e pelo colunista Josias de Souza.

Entre os motivos para essa mudança, Boulos citou acordos do governo Jair Bolsonaro (sem partido) e o chamado Centrão, além das investigações em torno do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), filho do presidente, por um suposto esquema de “rachadinha” em seu gabinete à época em que era deputado estadual no Rio de Janeiro. “Ficou evidente que o bolsonarismo era uma farsa”, disse ele.

O sentimento hegemônico hoje no Brasil, e toda pesquisa mostra isso, até o ‘DataBoteco’ mostra isso, é o sentimento contra Bolsonaro. É o sentimento das pessoas desesperadas e angustiadas para tirar o Bolsonaro do governo e virar essa página. Guilherme Boulos no UOL Entrevista

“Eu não vejo que aquela força anti-esquerda que pautou o Brasil em 2017, em 2018, seja hoje uma força dominante na sociedade e que vai se expressar como uma força decisiva em 2022”, disse ainda.

Com a realização de atos contra Bolsonaro no último fim de semana, apoiadores do presidente voltaram a inflar o discurso de polarização e reeditaram ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O líder do MTST disse acreditar em uma unidade das forças progressistas e de esquerda para “derrotar o bolsonarismo em 2022”. Nesse sentido, Boulos afirmou que Lula é o nome dentro da esquerda que aparece melhor nas pesquisas e disse ainda que a chance de uma aliança eleitoral com o PSDB seria nula.

“O que eu defendo é que o PSOL trabalhe por uma força de esquerda. Hoje o Lula está melhor posicionado nas pesquisas, isso coloca o nome dele na centralidade. Mas [a decisão por um apoio a Lula] precisa passar por uma discussão de projeto e programa [dentro do partido]”, disse ele, citando que o PSOL ainda não tem uma decisão tomada e o fará em um congresso a ser realizado no segundo semestre deste ano.

Quanto ao PSDB, Boulos afirmou não haver condições para se considerar uma aliança eleitoral com o partido, mas disse ser possível a formação de uma espécie de “aliança social”, visando principalmente temas como a vacinação e a defesa de direitos democráticos.

“Fazer uma frente mais ampla possível para defender a democracia, enfrentar o negacionismo, isso é razoável e já tem acontecido. Isso ajuda a isolar o bolsonarismo. Para mim, é muito mais importante que o PSDB esteja do lado de cá dessas batalhas do que esteja do lado de lá”, disse ele.

“Mas uma eleição é diferente, porque em uma eleição você não diz apenas quem você não quer, você não aponta apenas quem você vai enfrentar, Em uma eleição, você diz o que você quer, qual projeto de país vai oferecer para o povo. E nesse ponto existe um abismo entre a proposta da esquerda e a proposta do PSDB”, afirmou.

Manifestações e impeachment de Bolsonaro
Na entrevista, Boulos defendeu os protestos contra Bolsonaro que foram realizados no último fim de semana e afirmou que atos como esse, somados à situação política do presidente —que vem sendo pressionado pela CPI da Covid, no Senado— podem acelerar um “processo de degradação” do seu governo.

“Com o Bolsonaro no governo, não há saída da pandemia. Podemos ter uma terceira onda, podemos ter outras ondas. Essa política que estamos enfrentando, se seguir até o fim de 2022, o custo de vidas pode ser tremendo. E foi isso que nos levou à decisão de ir às ruas no último sábado”, afirmou.

“A CPI e as mobilizações de rua podem acelerar o processo de degradação do Bolsonaro e fazer com que esse setor [Centrão] que sustenta ele pule do barco. Ou você acha que o Centrão, pela primeira vez na história, vai ser fiel e afundar junto com o presidente que está afundando?”, questionou.

O psolista disse ver “chances reais” de um processo de impeachment que tire Bolsonaro do poder ainda em 2021. “Nesse cenário, com crise política, CPI, clima de perda de popularidade que tem a ver com a falta de saída da pandemia, crise econômica profunda, desemprego, fome. Somando isso às mobilizações de rua, acho que temos todas as condições de interromper o governo Bolsonaro”, declarou.

Segundo Boulos, em caso de impeachment de Bolsonaro, um eventual governo liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) seria forçado a adotar uma postura diferente em relação à pandemia do novo coronavírus.

“Quando o governo é derrubado, e derrubado pela força da sua impotência política e da opinião da sociedade, quem entra no lugar para fazer um tampão de um ano, não tem condições, não teria condições políticas, de fazer um contraponto ao sentimento da sociedade”, afirmou.

Boulos, que concorreu à Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2020 e chegou ao segundo turno, disse considerar “preocupante” a situação da capital paulista com a posse de Ricardo Nunes (MDB) após a morte do prefeito Bruno Covas (PSDB). Eleito vice-prefeito em 2020, o novo chefe do Executivo da capital paulista enfrenta denúncias de um suposto envolvimento na máfia das creches, além de ser investigado por lavagem de dinheiro. Nunes nega as acusações.

“Existe uma suspeita evidente em relação ao Ricardo Nunes. A maior parte da cidade não sabe hoje quem é o prefeito, e eu me preocupo muito pelo que vá acontecer em São Paulo nos próximos três anos e meio, com alguém que não foi eleito de forma direta —não foi a população que escolheu o Ricardo Nunes”, disse Boulos.

“Vamos seguir fazendo oposição”, afirmou ainda. “[Vamos] Fazer uma oposição, que ao mesmo tempo em que é uma marcação cerrada, também é propositiva, apresentando alternativas, projetos”, declarou.

Uol