Bolsonaro coloca polícia para intimidar manifestantes contrários

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Foto: Rawfilming/Acervo pessoal

As manifestações de sábado contra o presidente Bolsonaro representaram duas derrotas para o governo, um problema para a oposição e um alerta para estado de direito e democrático.

A primeira derrota para o governo é que a extrema direita perdeu o monopólio das ruas. A pandemia sempre jogou favor de Bolsonaro. Há um ano ele estimula seus seguidores a sair de casa e defender teses contra a democracia, como intervenção militar, sem se preocupar com as acusações de promover aglomerações e desestimular o uso da máscara. Aliás, isso faz parte do figurino do governo que defende a tese de quanto mais gente contaminada, e mais rapidamente, melhor para a economia. A tal imunidade de rebanho.

A segunda má notícia é que o bolsonarismo perdeu eficiência nas redes sociais em comparação ao que conseguiu fazer, por exemplo, com o ato “Ele, não”, em setembro de 2018, véspera das eleições, considerada a maior manifestação de mulheres na história do país. As redes sociais de apoio ao presidente abusaram das fake news, usaram vídeos antigos para passar a ideia de quem era contra Bolsonaro defendia Sodoma e Gomorra. Conseguiram ressignificar o protesto como sendo uma manifestação contra a família e os bons costumes. Conseguiram. No sábado não foi assim. A milícia digital bolsonarista está menos efetiva.

Para a oposição, o problema é que não poderá mais condenar atos políticos de aglomeração de Bolsonaro com a mesma ênfase. Este foi o grande dilema no último ano: como resolver a contradição de promover aglomeração para chamar um presidente de genocida porque ele, entre outros problemas, promove aglomeração?

Bolsonaro mata mais que o vírus. Portanto, vale a pena arriscar a sua vida para salvar a de milhares de pessoas;
É possível fazer aglomeração, reduzindo os riscos, com distanciamento e uso de máscaras.
Distanciamento e passeata não combinam. Mas o número de pessoas com máscaras era infinitamente maior do que nas manifestações bolsonaristas. Não dá nem para comparar. Esse é o dado curioso: usar máscara é ato civilizatório. Não é de direita, nem de esquerda, porque o vírus ataca sem pedir atestado ideológico. Mas, no Brasil, usar máscara virou posicionamento político.

Por fim, o alerta ao estado democrático de direito. A repressão aos manifestantes em Recife é precedente grave e perigoso. No último fim de semana, o governador do Rio, Cláudio Castro, colocou a Polícia Militar à disposição para garantir a segurança de quem se manifestava em favor do presidente. Teve até general da ativa do Exército como enfeite no palanque.

Em Pernambuco, a PM agiu para reprimir os protestos. Dois pesos e duas medidas. O que mais preocupa é que o bolsonarismo tem grande penetração nas polícias e gosta de caracterizar as manifestações de oposição como atos de vandalismo. Um tiro disparado ou uma bomba de gás lacrimogêneo lançada fora dos protocolos de contenção e proteção de multidão podem desencadear fatos que se ajustam à retórica da balbúrdia.

Não vamos deixar de registrar que o presidente da Câmara, Arthur Lira, ganhará mais poder se as manifestações por impeachment crescerem. Como ele já disse, remédios políticos podem ser utilizados, são conhecidos e todos amargos; alguns, fatais”.

G1