Capitã Cloroquina acusa críticos de “genocídio”

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Foto: Anderson Riedel/PR

Em um artigo publicado em fevereiro, Mayra Pinheiro, a secretária de Gestão do Trabalho e Educação no Ministério da Saúde, que ganhou o apelido de Capitã Cloroquina, faz uma defesa sobre a nota informativa NI9, que tem orientações do Ministério da Saúde para “Manuseio Medicamentoso Precoce de Pacientes com Diagnóstico de COVID-19”. Em um dos trechos, Mayra diz que se a efetividade do uso do Kit Covid (Hidroxicloroquina + Azitromicina ou Cloroquina + Azitromicina) for provada, quem batalhou contra será responsável pela morte de milhares de brasileiros.

“Se a efetividade de tais medicações contra a Covid-19 for comprovada, aqueles que lutaram para banir o uso da medicação contida na NI9 serão responsáveis por um verdadeiro genocídio de milhares de brasileiros. Se não for comprovada, as doses demonstradas na NI9 são seguras, utilizadas há décadas para diversas condições e de custo relativamente pequeno que não prejudica outras medidas de enfrentamento da Covid-19”.

Ao contrário do que está no texto, foi comprovado que a cloroquina tem diversos efeitos colaterais. Além disso, a Organização Mundial da Saúde publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada como tratamento preventivo da Covid-19. Mayra será ouvida na terça pelos senadores na CPI da Covid.

O texto “Fundamentação bioética do tratamento precoce no Brasil em tempos de pandemia”, foi publicado na Revista de Direito Sanitário da Comissão de saúde do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Assina com ela, o médico Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. Eles defendem que a nota não é um protocolo formal na regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), mas de uma orientação genérica para quem “deseja exercer sua autonomia com maior segurança e utilizar tais medicações”.

Segundo o artigo, é uma questão de “justiça” liberar o uso do coquetel preventivo nos hospitais públicos. “O cenário atualmente vivido pela sociedade brasileira, no qual cidadãos com maiores recursos têm acesso aos tratamentos contidos na NI9, e cidadãos que dependem completamente dos cuidados do SUS não o têm, o fato de não permitir a prescrição e a dispensação de tais medicações consistiria em um grave atentado contra princípios”.

Em outro trecho, os médicos afirmam que uma expressiva fração da população brasileira “clama pela liberdade” de utilizar determinadas medicações.

“O princípio da autonomia foi especialmente enfatizado desde a metade do século XX, quando o mundo testemunhou os horrores dos regimes totalitários como o comunismo e o nazismo, e os governos entenderam que fazia parte de sua missão a proteção das liberdades individuais de seus cidadãos e a liberdade de escolha dentro do cenário mais equilibrado e seguro possível”.

No texto, defende que as orientações para liberdade do uso do medicamento têm “pouca probabilidade de impactos negativos imprevistos porque, entre outros motivos, a economia não foi impactada pela recomendação como foi por outras medidas (como o isolamento social e a restrição radical à mobilidade)”. A mesma opinião do presidente Bolsonaro que desde o início tentou confrontar ciência e economia.

O Globo