Cientista que provou ineficácia da cloroquina relata ataques sofridos

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Foto: Lucas Silva/Editoria de Arte

“Mas você está sendo acusado por ter feito um estudo para salvar gente com Covid?” A pergunta do filho adolescente, ao saber que o pai era alvo de ataques e ameaças de morte nas redes sociais por seguidores bolsonaristas, fez o infectologista Marcus Lacerda chorar. Lacerda, que os governistas pretendem convocar para depor na CPI da Covid, é o convidado do terceiro episódio do A Malu tá ON, o podcast semanal de entrevistas da colunista de política Malu Gaspar.

O assédio e as ameaças contra o cientista da Fiocruz Amazônia começaram assim que foram publicados os resultados da pesquisa que ele e outros 26 pesquisadores conduziram em Manaus logo que a pandemia de Covid-19 começou.

O estudo foi o primeiro no mundo a demonstrar que a cloroquina não funciona para o tratamento de doentes graves de Covid-19. O trabalho também concluiu que doses mais altas do remédio provocavam arritmia cardíaca, bem no momento em que a cloroquina era propagandeada como um remédio salvador pelos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Em reação, o próprio filho de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, postou no Twitter que um “Estudo clínico realizado em Manaus pra desqualificar a cloroquina causou 11 MORTES após pacientes receberem doses muito fora do padrão. Este absurdo deve ser investigado imediatamente”.

Era fake news. O estudo foi interrompido assim que se percebeu que o coração dos pacientes se acelerava. Restou provado que os voluntários eram pacientes graves de Covid e morreram da doença.

Mesmo assim, os defensores da cloroquina desencadearam um ataque de grandes proporções. Procuradores da República alinhados com o bolsonarismo abriram investigações sobre o estudo que já foram arquivadas. O mesmo aconteceu com os inquéritos que apuram as ameaças. Lacerda segue fazendo suas pesquisas, agora buscando aferir quanto tempo dura a proteção da CoronaVac.

Na conversa, ele explica como Manaus se tornou um laboratório de experiências negacionistas do governo e avalia que o Brasil se tornou uma fábrica de fake news. E lamenta: “O Brasil fez a opção de controlar a pandemia inteira exclusivamente com a cloroquina”.

A Malu tá ON vai ao ar todas às sextas-feiras, ao meio-dia, e pode ser ouvido no seu tocador de podcasts preferido ou neste blog.

Nos dois primeiros episódios do programa, foram ouvidos o senador e relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), e o gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes.

Sempre conduzido por Malu Gaspar, o programa trará aos ouvintes entrevistas sinceras e diretas com gente que está fazendo a história acontecer.

O Globo