CPI da covid pegou no tranco

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Foto: Adriano Machado

A segunda semana de depoimentos da CPI da Covid trouxe novos elementos sobre as falhas do governo federal no combate à pandemia. Se o testemunho do ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten foi repleto de contradições, os depoimentos do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, e do ex-CEO da Pfizer no Brasil e gerente geral da empresa na América Latina, Carlos Murillo, trouxeram elementos concretos sobre os tropeços em momentos cruciais.

Torres confirmou ter participado de uma reunião no Palácio do Planalto em que defensores da cloroquina como a médica Nise Yamaguchi teriam tentado mudar a bula do medicamento para incluir a recomendação de seu uso contra a Covid-19. A reunião, da qual também teria participado o então ministro da Casa Civil e atual titular da Defesa, Walter Braga Netto, já havia sido mencionada no depoimento da semana anterior do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Com a autoridade que o cargo lhe confere, Torres foi didático ao explicar que a manobra seria irregular.

O depoimento de Carlos Murillo lançou luz sobre um dos episódios mais controversos da atuação do governo: a demora na contratação das vacinas da Pfizer. Murillo confirmou que o Brasil foi um dos primeiros países a ser procurado pela empresa e recebeu cinco ofertas para a compra do imunizante em 2020. Apesar disso, nenhuma delas foi aceita pelo governo no ano passado. Murillo disse ainda que se o Brasil tivesse fechado o contrato em 2020, o país poderia ter recebido, até março deste ano, 4,5 milhões de doses do imunizante, suficientes para vacinar 2,25 milhões de pessoas, uma enormidade diante do cenário de escassez e lentidão do programa de vacinação do país.

Um elemento inusitado e revelador do depoimento de Murillo foi a confirmação de que um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), teria participado de uma das reuniões entre Wajngarten e representantes da Pfizer. Em seu depoimento, Wajngarten omitiu a participação do vereador em seus encontros com a farmacêutica.

A expectativa, agora, se volta para a semana que vem e para a ida do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI. A Advocacia-Geral da União impetrou um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que ele possa exercer o direito de ficar calado. As chances de seu pedido ser acatado são enormes, diante dos precedentes. É preciso saber quais os efeitos do silêncio do general sobre a imagem do governo de seu ex-chefe.

O Globo