Doria volta ignorar recrudescimento da pandemia e discute flexibilização

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Foto: Bruno Escolastico/Photopress/Estadão Conteúdo

O governo de São Paulo faz uma nova coletiva hoje, para atualização do Plano São Paulo, de reabertura econômica. Nas últimas apresentações, o governador João Doria (PSDB) anunciou a progressão da reabertura do comércio e dos serviços. O assunto ainda está sendo discutido e as novas medidas deverão ser fechadas em reunião nesta manhã, pouco antes da entrevista no Palácio dos Bandeirantes.

Depois de pouco mais de um mês de queda, as internações em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) para covid-19 voltaram a subir no estado. Dados da Secretaria Estadual de Saúde indicavam, até ontem (18), que a taxa ocupação era de 78,8% —o crescimento foi impulsionado pelo interior. Por isso, os médicos do Centro de Contingência do Coronavírus defendem, pelo menos, a manutenção das restrições.

O Centro de Contingência, formado por 21 médicos, já se reuniu no ontem. Para médicos ouvidos pelo UOL, já foi flexibilizado o possível na chamada “fase de transição”, criada após o período de fases emergencial e vermelha, as mais restritivas. Na quarta etapa, no entanto, ela já está tão ou mais permissiva que a laranja —a segunda fase com mais restrições à época do lançamento do Plano SP, no ano passado.

“Nós avaliamos os indicadores atualizados diariamente e está claro que a situação voltou a apertar. A nós, não parece o momento de maiores concessões, já há um número alto de circulação de pessoas, mas a pandemia ainda não acabou”, disse um dos membros do comitê.

Debate sobre como e se novas flexibilizações serão adotadas
Atualmente, todo o estado está na fase de transição, que vai até o próximo domingo (23), de acordo com o governo. Nesta etapa, comércio e serviços podem funcionar até as 21h, com capacidade de ocupação de 30%. Também está vigente o toque de recolher entre 21h e 5h.

Esta já é a quarta etapa desta fase, que sucedeu o período de restrições gerais no estado:

Na primeira etapa, foram liberados igreja e comércio das 11h às 19h;
Na segunda, restaurantes, serviços gerais, atividades culturais e academias, também das 11h às 19h;
A terceira ampliou o horário do comércio e serviços para entre 6h e 20h;
A quarta ampliou para 21h e aumentou a capacidade de ocupação para 30%.
Entre os médicos e pessoas próximas ao Palácio dos Bandeirantes, a avaliação é que novas restrições gerais para o estado, como aconteceu nas fases emergencial e vermelha, não serão tomadas. O debate na reunião de hoje será focado em se e como novas flexibilizações acontecerão.

Uma das possibilidades é a retomada do faseamento por regiões, com as fases reestruturadas —o que possibilitaria, em parte dos casos, maior período de funcionamento dos estabelecimentos em áreas onde a taxa de ocupação dos hospitais está mais baixa, por exemplo.

A liberação de bares e aglomerações está descartada.

Ocupação de leitos voltou a subir
Nos últimos dias, o estado, registrou um aumento de 79% para 85% de internação em UTIs, segundo a Folha de S. Paulo com dados do SindHosp (sindicato dos hospitais, clínicas e laboratórios paulistas). Os piores indicadores são do interior.

Até ontem, mais da metade das 17 regiões do estado estavam com mais de 90% de lotação de UTI:

Araraquara (92,8%),
Barretos (96,6%),
Bauru (92,7%),
Franca (91,2%),
Marília (94,7%),
Presidente Prudente (92%),
Registro (92,6%),
São João da Boa Vista (90,4%) e
Ribeirão Preto (91%).
Algumas cidades, como Bebedouro e Batatais, têm anunciado medidas próprias de enrijecimento, como Araraquara fez no seu pior momento da pandemia, no fim de fevereiro.

Por todo o estado, você vê números que não batem com a retomada da vida normal, como dizem. Se avaliamos como positivas as quedas proporcionadas pelas fases mais rígidas do Plano SP, não podemos fechar os olhos quando os números voltam a subir.
Médico membro do Centro de Contingência

Na capital, onde os índices estão mais controlados, o secretário municipal de Saúde Edson Aparecido já vê uma nova onda com receio. “Temos tomado medidas, como autorização para compra de respiradores e kit intubação, para caso ela eventualmente venha”, afirmou.

O governador tem procurado imprimir um cenário mais otimista. À imprensa, Doria tem indicado que o estado irá flexibilizar suas regras, mas coloca o Centro de Contingência como condicionante.

“Poderemos, tendo a liberação por parte do Centro de Contingência, anunciar uma nova etapa a partir do dia 24 de maio. Talvez uma etapa com um pouco mais de flexibilidade do que a fase atual”, disse o governador, em entrevista à CNN Brasil na última terça (17).

Em evento no interior ontem, ele declarou que “em praticamente todo o estado”, há uma queda na ocupação de leitos primários e de UTI. “Uma redução pequena, mas que vem se apresentando dia a dia. Se esse comportamento se mantiver dessa forma, vai nos permitir avançar nessa fase mais flexível. Não muito flexível”, afirmou o governador, apesar de os indicadores do estado mostrarem tendência oposta.

O tom de otimismo, falando em “retomada”, também se seguiu durante o anúncio de uma parceria de investimento de R$ 4 bilhões entre o estado e iniciativa privada para a criação de empregos.

“O governador nos ouviu e fechou o estado quando tinha de fechar, no pior momento. Agora, há mais pressão e está mais difícil. Não acho que será o caso [de reabertura], como ele tem indicado”, completou mais um membro do comitê.

Ao UOL, o governo do estado reforçou que as atualizações do Plano SP são feitas “após consulta ao Centro de Contingência” e que “opiniões isoladas de membros do grupo não representam o conjunto do colegiado, tampouco posicionamentos majoritários”.

Onde assistir:

Coletiva do governo de São Paulo
Data: quarta-feira, 19 de maio de 2021;
Horário: 12h45;
Transmissão: UOL, TV Cultura e Youtube mostram ao vivo o pronunciamento.

Uol