Escárnio, Copa América no Brasil é símbolo da destruição moral

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Foto: Reprodução

Ao terminar o jogo final, caberá ao presidente Jair Bolsonaro deixar a ala VIP e entregar o troféu ao vencedor. De um lado, o capitão da seleção enxugará o suor antes de levantar a taça. Mas corre o risco de, ao receber, notar que ela está manchada. De sangue.

A decisão de transferir a Copa América ao Brasil, um dos epicentros da pior pandemia em cem anos, é um escárnio e revela que autoridades – do futebol e da política – simplesmente não respeitam vidas, e nem mortes.

Símbolo da destruição moral, o evento cai como uma luva para quem perdeu sua legitimidade de governar por ter fracassado em seu papel mais fundamental: garantir a vida de seus cidadãos. Em seu anúncio, a Conmebol “agradece” ao presidente Jair Bolsonaro pelo gesto. Mais parecia um eco ao seu comentário “e daí?” diante das mortes.

A jogada, de um violência atroz contra sobreviventes e famílias daqueles que se foram, é o sinal evidente de autoridades populistas que apostam no futebol como remédio para trazer de volta a “normalidade”.

Elas não são as primeiras. A história de regimes questionáveis está repleta de exemplos de como governantes foram buscar em mega eventos e em suas seleções instrumentos para desviar o foco de atenção, manipular massas e ganhar legitimidade.

As prováveis datas ainda vão coincidir com uma das marcas mais dramáticas na história recente do país, com 500 mil mortos acumulados em pouco mais de um ano de crise sanitária. Muitas delas poderiam ter sido evitadas.

No mesmo dia em que a Copa América é anunciada no Brasil, a OCDE deixa claro que a situação sanitária no país é grave, que a vacinação é lenta, que a pobreza ameaça crescer e que o auxílio emergencial é insuficiente.

Não temos escolas, uma geração inteira sentirá por anos as consequências dessa crise definidora de nossa geração e, em inúmeras cidades, não há leitos de UTI.

Mas, aparentemente, teremos futebol.

Qualquer grande evento, diante de tal cenário de guerra, seria descabido. Mas trazer jogadores, comissões técnicas, cartolas e jornalistas de todo o continente para um país que se recusa a promover distanciamento social e que conta com um governo negacionista beira a um crime.

Uol