Lula e FHC pretendiam formar um partido juntos

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Foto de Antonio Carlos Piccino/Agência O GLOBO

A foto de Lula e Fernando Henrique de punhos encostados num cumprimento que se tornou normal na pandemia causou alvoroço nas redes sociais, mas esta não é a primeira demonstração de afinidade dos dois históricos rivais políticos. O petista e o tucano se conhecem, e muitos dizem que se admiram, desde os anos 70. Em 1978, quando o metalúrgico pernambucano já despontava como um líder sindical no ABC Paulista, ele chegou a fazer campanha com o sociólogo e cientista político, que, então, concorria a uma vaga no Senado Federal pelo MDB.

“Em 78, primeiro ano das greves do ABC, o MDB estava lançando sua chapa de senadores. Algumas pessoas, alguns jornalistas cujos nomes não vou dizer, queriam que a gente apoiasse Cláudio Lembo, da Arena. Fui apresentado a Fernando Henrique Cardoso. Aí fomos para a campanha. Fui representar Fernando Henrique Cardoso em vários comícios”, contou o petista ao jornalista Jorge Bastos Moreno, que publicou a entrevista em sua coluna no GLOBO, em 2010.

Naquele ano, ainda em plena ditadura militar, Lula havia liderado greves de metalúrgicos na região do ABC, um movimento que culminaria com paralisações e manifestações gigantes nos dois anos seguintes. Ele ainda nem pensava em disputar eleição, mas entrou de cabeça na campanha do novo amigo. Na época, havia uma grande euforia na esquerda em torno da candidatura do intelectual. O compositor Chico Buarque fez até um jungle: “A gente não quer mais cacique/ A gente não quer mais feitor/ a gente agora está no pique/ Fernando Henrique senador”.

O Brasil de então caminhava para a abertura política, após mais de 14 anos de ditadura, e a política, basicamente, dividia-se entre aqueles que eram contra o regime e os outros, a favor. No Dia do Trabalhador de 2012, a página do Instituto FHC no Facebook compartilhou uma foto daquela campanha que mostra Fernando Henrique e Lula distribuindo panfletos a funcionários de uma montadora de carros em São Bernardo, berço político do petista. Lula levava o então amigo a esses locais para apresentar o candidato a um público que ainda não o conhecia.

Relatos de bastidores dão conta de que os dois pensavam até mesmo em fundar um partido juntos. A ideia não foi adiante, como nos conta a História. Em 1978, FH foi eleito suplente do senador Franco Montoro (MDB). Depois que este foi eleito governador de São Paulo, Fernando Henrique assumiu a cadeira no Senado Federal. Em 1988, ajudaria a fundar o PSDB, partido pelo qual se tornou presidente da República, em 1994. Já Lula foi um dos fundadores do PT, em 1980, e também se tornou presidente, em 2003, após dois mandatos do tucano.

A relação entre os dois políticos desde 1978 é de, principalmente, rivalidade, muitas vezes com troca de críticas duras. Lula perdeu duas eleições presidenciais para FH, em 1994 e em 1998, mas venceu dois candidatos do PSDB na disputa pela chefia do Executivo, em 2002 e em 2006. Mesmo assim, ao longo desses mais de 40 anos, não foram raras as ocasiões em que as diferenças foram deixadas de lado, em nome de forças maiores. Numa imagem de maio de 1987, quando grupos progressistas se uniam em torno da elaboração da Constituição, os dois aparecem tomando um cafezinho juntos, em Brasília.

Lula e FH viriam a se encontrar em acalorados debates durante as campanhas que disputaram e, ainda na troca da faixa presidencial, quando o petista foi eleito. Mas algumas conversas aconteceram em contexto de ordem pessoal, como em 2012, quando o sociólogo visitou o ex-metalúrgico no hospital, quando ele se tratava de um câncer, e em 2017, quando morreu Dona Marisa, mulher de Lula.

O Globo