País de maioria negra, Brasil quase não vende bonecas negras

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Foto: Arte: Gui Prímola / Metróples

A pesquisa “Cadê Nossa Boneca”, da organização Avante – Educação e Mobilização Social, reveliu que a fabricação de bonecas negras no Brasil representa apenas 6% do total. Dessa ínfima parcela de bonecas negras que são fabricadas e chegam às lojas, além disso, cinco em cada sete são vendidas a valores mais altos que os de bonecas brancas.

Com base em sites de e-commerce de 22 fabricantes de brinquedos filiados à Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedo, as bonecas negras representavam apenas 6% do total das fabricadas e 9%, das comercializadas em lojas on-line.

Segundo o relatório de estatísticas de brinquedos de 2020 da Abrinq, o total de faturamento com todos os brinquedos em um ano chegou a pouco mais de R$ 7 bilhões, e, desse valor, 19,2% (R$ 1,3 bilhão) se referiam a bonecas. O percentual de faturamento com bonecas negras, entretanto, foi de pouco mais de R$ 120 milhões.

No último levantamento demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54% da população brasileira se autodeclarou preta e/ou parda. Considerando que bonecas são brinquedos que tendem a exercer uma influência representativa na infância, os índices de fabricação e vendas não condizem com a realidade demográfica.

“Durante a infância, é muito importante para a criança se ver representada em suas brincadeiras. Faz parte da descoberta do processo de pertencimento de um grupo. Nós, como seres humanos, sempre estamos tentando nos identificar com alguma coisa, ser, objeto, situação etc. Essa busca da identificação já se inicia quando bebê, com a relação com os pais, família e brinquedos, que têm um papel lúdico, mas também de identificação”, explica o psiquiatra Alisson Marques.

Apesar da pouca representatividade na produção e na venda, as bonecas negras costumam ter preços mais altos no comércio de brinquedos no Brasil. Isso se aplica, inclusive, a bonecas que são extremamente consumidas e mundialmente desejadas, como as famosas Barbies.

Em alguns casos, as personagens negras chegam a ser vendidas a valores mais altos do que os aplicados aos nomes principais do entretenimento. A título de exemplo, Milena – primeira protagonista negra e crespa das garotas da Turma da Mônica, um clássico que surgiu em 1959 –, que recentemente começou a ser comercializada, tem sido vendida por preço superior ao da própria Mônica, rainha dos gibis.

De acordo com a plataforma Zoom que compara preços em diferentes lojas e comércios, o valor da Milena chega a R$ 134,90, enquanto a Mônica mais cara chega a R$ 128,36, seguida pelo Cebolinha, a R$ 104,72, e Magali, a R$ 101,16.

1 – Busto De Boneca Com Acessórios – 25 cm

Negra – média de R$ 199,00.
Branca – média de R$ 147,87.
2 – Little Dolls Banheirinha

Negra – média de R$ 44,00
Branca – média de R$ 27,00

3 – Boneca Baby Alive Aprendendo a Cuidar

Negra – média de R$ 150,00
Branca – média de R$ 147,99

4 – Boneca Barbie Fashionistas Cadeirante

Negra – média de R$ 550,00
Branca – média de R$ 400,00

Thiago Blanco, médico psiquiatra especializado em infância e adolescência e pesquisador do desenvolvimento infantil, alerta para as consequências da ausência de figuras de identificação na infância: “Isso na vida adulta pode implicar em baixa autoestima, ou mesmo a desvalorização da pele negra, reforçando o racismo estrutural que reconhecemos na sociedade como um todo”.

Ainda segundo o levantamento da Abrinq, das empresas que fabricam os brinquedos, a Cotiplás foi a que mais produziu, proporcionalmente, bonecas negras – 19,7% da produção.

Ao Metrópoles, a empresa destacou, por e-mail, que a Cotiplás tem como uma de suas diretrizes desde a fundação “minimizar os paradigmas e as diferenças socioculturais que ainda existem em nosso cotidiano”.

“Entendemos que temos o dever de, através de nossos produtos, levar respeito, alegria e integração às pessoas, independentemente de sua classe social, etnia ou qualquer outro aspecto que possa causar segregação de pessoas. Não acreditamos que haja impedimentos para fabricar bonecas negras ou de qualquer outra etnia. Historicamente, sempre as tivemos em nossa linhas regulares de produção, pois sempre acreditamos que a disponibilidade é o que vai faz aumentar a procura e aceitação.”

A escassez na produção e nas vendas de brinquedos que fogem do padrão normativo não se limita a apenas questões raciais, mas também a indivíduos que normalmente são diferentes em características físicas, ou possuem algum tipo de deficiência, como pessoas cegas, cadeirantes ou portadoras de Síndrome de Down.

“Outras variáveis de diversidade também precisam ser consideradas nos brinquedos, nos desenhos, como forma do corpo, origem, estética, vestuário. Tudo isso contribuindo pra identificação do diferente apenas como diferente, não desqualificado por isso. É valiosíssimo que nós consigamos, enquanto sociedade, construir essa imagem de variedade sem desqualificação”, ressalta Blanco.

A jornalista Carol Rodrigues conta a história da tia, Valéria Pereira, que era portadora da Síndrome de Down. De acordo com Carol, até o momento da morte de Valéria, a família nunca encontrou uma boneca que a representasse. “Ela foi criada como criança até os 54 anos, quando faleceu. Sempre brincava com bonecas e com tudo o que uma criança gosta de brincar”, relata.

“Se bonecas com Down, em prateleiras de lojas, fossem comuns e houvesse um incentivo para a aquisição, ser diferente não causaria tanta curiosidade e estranheza”, avalia Carol. “Uma pena não existirem brinquedos que representem toda a diversidade que temos ou opções mais acessíveis financeiramente.”

Metrópoles

 

 

 

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