Renan facilita discurso de governistas citando perguntas das “redes sociais”

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

“Esta pergunta também foi sugerida pelos internautas.” Era o senador Renan Calheiros (MDB-AL), ao passar de um assunto para outro no depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, no final da manhã desta quarta-feira (19).

Renan havia solicitado perguntas via Instagram e, ao que parece, escolheu algumas que se encaixavam em seu roteiro.

A estratégia reflete mais do que um esforço superficial de imagem do político. Evidencia a influência crescente das plataformas de mídia social sobre o teatro político, um poder de opinião pública antes restrito a radiodifusão ou imprensa.

Na CPI, o maior risco é transformar o que seria um fórum de investigação em “Tribunal do Feicebuqui”, na música de Tom Zé.

Um tribunal com todo o arsenal de manipulação, tanto por usuários como pelos próprios algoritmos. Também com a irracionalidade, o movimento de bloco que parte em defesa de um ou outro, escolhendo previamente mocinhos e bandidos.

Escolher a versão do ex-negociador da Pfizer, contra o ex-ministro e, pelo que ele diz agora, contra os órgãos de controle da gestão pública, é mais do que pré-julgamento.

Abre o flanco para Pazuello obscurecer com igual facilidade o que tenha feito de errado. Permite, como ele falou, “explicar” aos senadores que “uma postagem na internet”, em mídia social, pode ser arroubo retórico.

E não faltaram alertas sobre abraçar a farmacêutica americana, cujas cláusulas impostas a países em desenvolvimento foram questionadas, por exemplo, pelo New York Times. “É compreensível que alguns países tenham rejeitado”, afirmou o jornal, em editorial.

Não à toa, as atenções em mídia social, para o ataque ou a defesa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que é o que mobiliza o tribunal, se voltaram no final da manhã quase inteiramente ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Pazuello havia desarmado com facilidade a primeira bateria do Instagram de Calheiros. Só foi titubear duas horas depois, diante da tragédia de Manaus, lembrada e cobrada pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM).

Folha