Temer articula candidatura única da terceira via

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Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Após um período de atuação mais discreta em razão das investigações da Operação Lava-Jato e da pandemia de Covid-19, o ex-presidente Michel Temer voltou à cena nas últimas semanas, em articulações com políticos e líderes partidários que trabalham por uma terceira via para as eleições de 2022.

Ele tem defendido nos bastidores uma composição entre o MDB e partidos como PSD, PSDB e DEM para a criação de uma aliança que tem chamado de “centro expandido”. Embora a proposta não seja de fácil viabilidade, Temer acredita que essa coalizão poderia lançar um único nome, alguém experiente, capaz de unir o Brasil e recuperar a economia. Questionado sobre quem se encaixa nesse perfil, ele responde que é cedo para falar em nomes.

O emedebista tem dito que uma inspiração para o candidato ideal seria o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, cuja gestão descreve como “harmônica” e “equilibrada”. No plano nacional, sua referência é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com quem mantém conversas.

— Acho que há muita gente desejosa no país de um sistema em que haja mais tranquilidade — disse Temer ao GLOBO. — Pode haver confronto de ideias, mas não pode ter ódio entre pessoas e instituições. Por isso, invoco o governo Fernando Henrique, que promoveu muito essa tranquilidade, assim como o Juscelino (Kubitschek) — completou.

Alguns aliados, como o ex-ministro Carlos Marun, chegaram a defender uma candidatura de Temer. Aos 80 anos, o ex-presidente descarta essa hipótese. Pessoas próximas e políticos experientes dizem, porém, que ele mantém sua influência no MDB e junto a lideranças de outros partidos. Temer é próximo a Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, que também tem se manifestado a favor de uma candidatura independente de centro.

De março para cá, Temer manteve contato e se reuniu com presidentes de outros partidos de centro, como Gilberto Kassab (PSD), ACM Neto (DEM), entre outros líderes políticos, para debater o cenário político nacional.

A alguns interlocutores, o ex-presidente distribuiu conselhos. Ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), recomendou “diálogo e entendimento”. O tucano enfrenta resistências internas a seu nome no PSDB. Há uma semana, Doria nomeou na Secretaria de Agricultura o deputado estadual Itamar Borges (MDB), aliado de Temer. Ao novo prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), sugeriu a velha máxima de “não mexer em time que está ganhando” e orientou que trate de seguir com a marca da “continuidade”, palavra que virou um mantra nas entrevistas do chefe do Executivo municipal.

Já ao ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), Temer citou a importância de uma candidatura que apresente um plano com propostas claras ao país, principalmente na área social — algo que falta ao atual governo, na sua visão.

Ainda que deixe clara sua discordância com Bolsonaro no tom, na forma de governar e na gestão da pandemia, Temer mantém canais com o atual presidente. Frequentemente é procurado por Bolsonaro e diz que dá “palpites”. No final do mês passado, recebeu a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda. No ano passado, Temer chegou a chefiar uma missão humanitária de ajuda ao Líbano, a convite do presidente.

Na área jurídica, Temer tem dito que sua reabilitação está vindo a galope e comemora vitórias recentes. Em março, o ex-presidente foi absolvido pela Justiça Federal de acusações de corrupção e lavagem de dinheiro no setor portuário. No início do mês, acabou inocentado no chamado “quadrilhão do MDB”, que apurava suspeita de um esquema de desvios em estatais.

O caso mais recente ocorreu no fim de abril, quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), indicado por Temer, anulou decisões da Lava-Jato do Rio, entre elas uma denúncia que transformou o ex-presidente em réu por peculato, lavagem de dinheiro e o levou a ser preso em março de 2019. Em 2020, ele foi absolvido em segunda instância da acusação de obstrução de Justiça no caso relacionado à delação de Joesley Batista.

Nos próximos dias, o ex-presidente deve se dedicar à atualização da “Ponte para o Futuro”, programa lançado no fim do governo Dilma Rousseff com medidas para recuperação econômica. Na ocasião, as propostas foram vistas por Dilma como uma iniciativa oposicionista. Temer diz que o receituáriopode servir a uma candidatura de centro ou até mesmo ao atual governo.

O Globo