Tirar só Salles não resolve, dizem no exterior

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Foto: Reprodução

A Operação Akuanduba, realizada nesta quarta-feira pela Polícia Federal, que incluiu buscas contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o afastamento do presidente do Ibama, foi recebida com ceticismo por observadores de fora do Brasil. Se é vista como um sopro de independência entre poderes e a ação mais efetiva contra o que acreditam ser a pior política brasileira para o setor na história, há muito temor de que acabe apenas como um ato de pirotecnia.

A reação inicial de interlocutores no exterior que tratam do meio ambiente é que “não era sem tempo” de a Polícia e da Justiça fazerem algo mais assertivo contra o ministro do Meio Ambiente. Símbolo máximo do descaso do governo Bolsonaro com o tema, Salles não é considerado um interlocutor confiável em fóruns internacionais.

A primeira dúvida é se ele terá de largar o cargo de ministro. A expectativa dos mais céticos é que a ação da PF pode torná-lo mais forte no governo. O antigo titular da pasta do Turismo Marcelo Álvaro Antônio aparecia mais sorridente ao lado de Jair Bolsonaro após cada denúncia de irregularidade e só caiu após tentar avançar nos temas do Planalto e atacar o seu colega Luiz Eduardo Ramos, então na Secretaria de Governo.

O segundo questionamento entre os estrangeiros é se a operação “é para valer” e terá continuidade. Ainda está fresca na memória a exoneração do delegado Alexandre Saraiva da Superintendência da PF no Amazonas, após apresentar queixa-crime contra Salles. A recente mudança no Ministério da Justiça gerou alertas de policiais federais de que o órgão poderia perder autonomia perante um aliado ideológico do bolsonarismo comandando a pasta. A independência da PF foi a gota d’água que, há 13 meses, levou à saída de Sergio Moro da pasta.

Por fim, mesmo que a operação siga eficaz e independente e leve à retirada de Salles do cargo, por si só passos difíceis, surge um novo questionamento: qual será a política do governo? Um especialista americano, que pediu anonimato, foi enfático: “esta operação da Polícia Federal, por melhor que seja, não deve mudar a cabeça de Bolsonaro”.

Ou seja, os nefastos impactos da gestão ambiental do governo deverão contaminar a imagem do país, os investimentos e as exportações brasileiras. A operação Akuanduba pode ser o primeiro passo, mas tudo indica que a divindade dos indígenas Araras do Pará que nomeou a ação não fará o milagre que os ambientalistas tanto esperam.

O Globo