Centro-direita sem votos quer “manter distância” de protestos contra Bolsonro

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Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Políticos que tentam construir uma alternativa de centro para as eleições de 2022 pretendem se manter distante das manifestações de rua contra o presidente Jair Bolsonaro. Eles avaliam que os atos acirram a polarização entre bolsonaristas e militantes da esquerda e desrespeitam as regras de isolamento.

Um dos signatários de um manifesto em defesa da democracia junto com outro potenciais candidatos no campo do centro, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, aponta para o risco sanitário com a realização de manifestações. Os organizadores marcaram um novo ato contra Bolsonaro para 19 de junho.

— O país é um covidário hoje. Se você leva as pessoas à aglomeração, aumenta o número de casos. Se um caso desses resultar em morte, você colaborou para mais um ponto nessa estatística fúnebre.

O ex-ministro da Saúde ainda avalia que Bolsonaro quer insuflar os atos de esquerda para poder se beneficiar da polarização política no país.

— Vê que o Bolsonaro provoca, ao falar que não foi quase ninguém, para ver se na outra vai mais. E ele fica chamando: vem para rua, vamos brigar, vamos. Vamos ver quem tem mais ódio de quem. E o eleitorado da esquerda também quer a mesma coisa. Os dois têm pânico de ter espaço pra surgir o novo.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), diz que é compreensível que a insatisfação com Bolsonaro faça pessoas irem para as ruas, o que não significa que todos que são contra o presidente estejam no protesto.

— A apropriação por sindicatos e partidos políticos acabam sendo obstáculo para que essas mobilizações se digam tradutoras do sentimento popular —, disse Leite ao GLOBO.

Mesmo sendo um crítico contumaz do presidente Jair Bolsonaro, o governador João Doria não embarcou na onda dos protestos e tem focado nas realizações de seu governo, sobretudo na campanha de imunização contra a Covid-19.

Aliado de primeira hora do tucano, o presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, resume o sentimento do entorno de Doria:

— Nosso foco é na vacinação, na produção das vacinas para o Brasil e na retomada econômica para o país – afirma Vinholi.

Visão semelhante é compartilhada por um líder do MDB, para quem os políticos de centro não devem se envolver nas manifestações.

Ex-presidenciável, João Amoêdo (NOVO) também é contrário a adesão do centro aos protestos.

— Esses atos podem produzir engajamento, mas cansa e não produz nada. O principal é mostrarmos que temos condições de trazer propostas e trazer esperança para sair dessa briga do nós contra eles – afirma Amoêdo.

Um cacique do MDB reconheceu que os atos “foram fortes”, mas classificou a convocação de inoportuna diante da necessidade de se diferenciar do negacionismo dos seguidores do presidente. Ao organizar os atos, a mensagem passada pela esquerda, na avaliação desse emedebista, é ruim por se igualar aos bolsonaristas.

Ele também considera que as manifestações alimentam a polarização e não descarta que novos atos tanto a favor como contra o governo ganhem corpo diante do ambiente criado.

Para o cacique do MDB, os partidos de centro devem ficar fora desse tipo de mobilização e tentar se organizarem a partir de uma proposta “programática, de equilíbrio e de moderação”.

Para o cientista político da FGV, Claudio Couto, é compreensível que os políticos ao centro evitem as manifestações num primeiro momento para evitar associação com movimentos e partidos de esquerda, que assumiram protagonismo na organização dos atos. No entanto, Couto avalia que se os protestos crescerem, os políticos de centro terão que embarcar como forma de sobrevivência.

— Esses políticos ao centro não querem se confundir com esse segmento mais a esquerda num endosso a essas manifestações. É compreensível, mas não sei se é exatamente correto — afirma o professor, que ainda concluiu o pensamento. — A chance dessa candidatura de centro crescer depende do desgaste do presidente. Se colocar como antibolsonaro é um trunfo. Ao não apoiar essas manifestações, esses setores perdem a chance desse credenciamento.

O Globo