Doença indiana aparece em SP

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Foto: Hoy – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP está investigando um caso de mucormicose —a temida doença conhecida como “fungo negro”— em um paciente com Covid-19.

O surgimento do “fungo negro” em pacientes de Covid-19 na Índia acendeu o sinal de alerta no mundo. Mais de 9 mil pacientes infectados pelo novo coronavírus tiveram a doença. No Brasil, outros dois casos são investigados, em Santa Catarina e em Manaus. O Ministério da Saúde já está acompanhando o caso de SP.

A doença, no Brasil, é extremamente rara —mas fulminante e fatal. Ela necrosa os tecidos da face, atingindo nariz, olhos e podendo invadir o cérebro. “O fungo se multiplica e invade os vasos sanguíneos”, afirma o médico Marcello Mihailenko Chaves, da clínica de moléstias infecciosas e parasitárias do HC. A região escurece —daí a doença ser chamada popularmente de ‘fungo negro’.

Para evitar o óbito, os médicos têm que realizar complexas cirurgias que muitas vezes implicam na retirada dos olhos e até mesmo de um pedaço do cérebro. A pessoa fica mutilada. Cerca de 50% não resistem e morrem.

O paciente brasileiro agora em estudo no HC é jovem (tem menos de 40 anos), teve um quadro moderado de Covid-19 e não apresenta as comorbidades associadas ao “fungo negro”.

A diabete é uma das condições associadas à doença. Ela aumenta a glicose e favorece a proliferação do fungo. Pacientes com transplante de medula óssea e com doenças onco-hematológicas também estariam predispostos.

No caso de pacientes com quadros graves de Covid-19, a hipótese é que vários fatores podem contribuir para a proliferação do fungo, segundo Mihailenko Chaves. O uso de corticoides, por exemplo, aumenta a glicose. A contração dos vasos sanguíneos (vasoconstrição) pode levar à acidose (quando o sangue fica mais ácido). E a Covid-19 pode gerar uma inflamação exuberante. As três condições, combinadas, facilitariam o surgimento da mucormicose.

O médico reforça que a doença no Brasil é rara mesmo em pacientes que poderiam estar predispostos a ela, como os diabéticos. Por isso, as pessoas não devem se assustar. “Atendemos de dois a três casos de mucormicose por ano no Hospital das Clínicas”, diz. A instituição chega a tratar de 70 mil pessoas internadas por ano.

O fungo negro, além disso, não é transmissível e “não deve se transformar em um problema de saúde pública no Brasil”, afirma Mihailenko Chaves. O país não apresentaria as mesmas condições da Índia, onde a diabetes atinge um número explosivo de pacientes. As nossas condições sanitárias são melhores e o clima é diferente.

Ele afirma, no entanto, que os médicos devem ficar alertas para qualquer tipo de situação que possa facilitar o surgimento de uma doença tão dramática.

Folha de S. Paulo