Doria tenta usar vacina para alavancar votos para 2022

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Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

O governador João Doria (PSDB-SP) desce a escadaria do Palácio dos Bandeirantes animado, cumprimenta os repórteres, cinegrafistas e auxiliares técnicos e olha para a câmera. “Hoje, cinco boas notícias”, diz, antes de iniciar a coletiva, pontualmente às 12h45.

Nem sempre são realmente boas notícias, mas é no clima de otimismo e com alta exposição que o governador paulista lançou oficialmente sua pré-candidatura à Presidência da República nesta semana.

Com indicadores pandêmicos ainda elevados em São Paulo, ele foca na imunização do estado mais populoso do Brasil e na distribuição nacional de vacinas como marca de seu governo —e provável peça de propaganda no futuro.

Em pleno domingo (13), Doria anunciou a antecipação do calendário de vacinação em um mês, para 15 de setembro. O dia atípico surpreendeu até pessoas mais próximas do governador paulista. Ele é conhecido por centralizar os informes sobre a situação da covid, mas quase ninguém nos círculos mais íntimos tinha uma previsão tão otimista.

Para apoiadores ouvidos pelo UOL, foi uma jogada acertada de marketing. Para a oposição, só promoção em cima da vacina. Os dois lados concordam, no entanto, que Doria conseguiu tirar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e da sua motociata em São Paulo as atenções do final de semana.

Segundo profissionais da saúde do estado e do município, a antecipação foi arriscada, mas deve vingar. Conforme o UOL calculou, o governo do estado precisará acelerar em quase três vezes a velocidade de vacinação para cumprir o prazo.

O ritmo tem aumentado em todo o país, mas, ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde já reduziu três vezes a projeção de doses só para junho. De toda forma, argumentam os tucanos, ele já é visto como o “homem que trouxe a vacina para o Brasil”, só seria preciso reforçar essa imagem.

Mas ele também precisará controlar os indicadores da pandemia no estado, que continuam altos. Embora a média de internações tenha voltado a cair, a situação se mantém crítica, em especial no interior, que vive o pior momento da pandemia.

No PSDB, o possível sucesso da antecipação no estado mais populoso do país, somado à distribuição nacional da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, cacifam Doria para ganhar as prévias do PSDB no final de novembro, segundo dizem lideranças do partido em São Paulo ouvidas pela reportagem.

Com resistência de alguns setores tucanos —que veem seu nome com mais força para a reeleição em São Paulo—, ele enfrentará nas prévias o governador gaúcho Eduardo Leite, o ex-governador cearense Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

A pessoas próximas no Palácio dos Bandeirantes, Doria diz não ter dúvidas de que será o candidato da legenda. O desafio real, avaliam os interlocutores, é a eleição em 2022, em uma situação ainda polarizada entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Sem um grupo homogêneo que forme a especulada “terceira via”, Doria tem investido em São Paulo e na propaganda das vacinas. Ele tem feito entregas, inaugurações e anúncios dos mais diferentes tipos pelo estado.

Só nesta semana, foram quatro entrevistas coletivas no Palácio dos Bandeirantes e três entregas de CoronaVac no Butantan, além das agendas no interior. Ao lado do diretor do instituto, Dimas Covas, e do secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, ele gosta de posar junto à caixa de CoronaVac com os escritos: “A vacina do Brasil”.

Esse excesso de exposição também tem causado receio entre quem trabalha e apoia o governador. Incisivo, Doria gosta de estabelecer prazo e criar slogans que às vezes não se cumprem.

Um dos exemplos foi o anúncio da eficácia da CoronaVac, no final do ano passado. Divulgada como “100% eficaz contra mortes” e “78% eficaz contra casos graves”, depois se descobriu que a eficácia real é de 50,38% e, hoje, sabe-se que casos de morte após a imunização com a vacina são raros, mas existem.

O mesmo ocorreu com a ButanVac. Anunciada como uma vacina “100% brasileira” no final de março, teve revelada pela Folha de S. Paulo que parte da pesquisa foi desenvolvida pelo instituto Mount Sinai, em Nova York. Confrontado, Doria disse que não sabia da participação, mas, no Butantan, circula a informação de que ele tinha conhecimento sobre o caso.

Aos apoiadores, este tipo de anúncio é “assertivo até demais” e tem dois lados: muitas vezes pode servir para projetá-lo, como na chamada “rinha das vacinas”, mas também se encaixar no estereótipo de “marqueteiro”, tanto usado por adversários políticos para atacá-lo.

Uol