Embaixador brasileiro nos EUA comemorou doação de cloroquina por Trump

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Foto: Reprodução

O embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, comemorou em maio do ano passado a doação de 2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina ao Brasil pelo governo dos EUA, segundo documentos obtidos pela CPI da Covid aos quais a TV Globo teve acesso.

A hidroxicloroquina é uma das substâncias cuja ineficácia no tratamento da Covid foi cientificamente comprovada, mas que o presidente Jair Bolsonaro e seguidores insistem em propagandear (vídeo abaixo). Em outubro e novembro, o governo gastou mais de R$ 23 milhões em propaganda do tratamento com drogas sem eficácia, de acordo com planilhas obtidas pela TV Globo.

Forster recebeu a confirmação da liberação dos comprimidos de Amy S. Radetsky, diretora para Brasil e Cone Sul do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca.

“Nestor, boas notícias — conseguimos obter as autorizações legais para enviar os 2 milhões de doses. Estamos tentando, mas não podemos confirmar se podemos enviar hoje à noite, sujeito à disponibilidade do avião”, disse Radetsky em e-mail a Forster.

O embaixador encaminhou essas considerações a Norberto Moretti, então secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty.

“Caro Norberto, Habemus hidroxicloroquinam!”, escreveu o embaixador em e-mail para Moretti. A troca de e-mails aconteceu em 29 de maio de 2020.

Naquele momento, o uso do medicamento já era desaconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Dois dias antes, o presidente Jair Bolsonaro havia afirmado a apoiadores que o Brasil receberia a doação de cloroquina do governo dos EUA, então comandado por Donald Trump.

“Ele está mandando para nós aqui 2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina”, disse Bolsonaro na ocasião.

A doação se concretizou no final daquele mês. Em 31 de maio, o então ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo anunciou o recebimento dos comprimidos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) havia recomendado ainda em maio que a cloroquina fosse usada somente em ensaios clínicos e apontou que não havia eficácia da droga — tradicionalmente utilizada contra a malária — no tratamento da Covid-19.

“Sobre a hidroxicloroquina e a cloroquina, que já são licenciadas para muitas doenças, eu diria que, até esse estágio, nem a cloroquina nem a hidroxicloroquina têm sido efetivas no tratamento da Covid-19 ou nas profilaxias contra a infecção pela doença. Na verdade, é o oposto”, disse diretor de Emergências da OMS, Michael Ryan, em 20 de maio, dias antes da troca de e-mails do Itamaraty sobre a doação norte-americana.

Em junho, a agência sanitária dos EUA cancelou a permissão do uso de hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19.

Na ocasião, o Donald Trump foi questionado pela GloboNews se manteria doações de cloroquina ao Brasil e outros países, e o republicano respondeu que “sim”.

G1