Fake news sobre vacinas estão matando mulheres grávidas

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Foto: Danilo Verpa

A taxa de letalidade da Covid-19 entre gestantes e puérperas é a pior desde o início da pandemia, mas ainda assim a vacinação neste grupo está bem abaixo do esperado, o que preocupa ginecologistas e obstetras. No país, apenas 6% delas receberam ao menos uma dose da vacina.

Até o último dia 17, o país computava 1.412 mortes maternas por Covid. Só neste ano, foram 959 óbitos, um número 111,7% maior do que o de 2020 inteiro (453).

No mesmo período, mais do que dobrou a taxa de letalidade nesse grupo —de 7,4% para 17%, segundo o Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19, com base em dados do Ministério da Saúde.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, até eesta segunda (21) cerca de 170 mil gestantes haviam sido vacinadas. Os números não incluem o estado de São Paulo.

Uma das hipóteses para a explicar a baixa adesão à vacinação é que a morte por trombose de uma gestante no Rio de Janeiro após a vacinação e a disseminação de notícias falsas nas redes sobre a imunização têm assustado as gestantes e as mães que tiveram bebês recentemente.

A relação da morte com vacina está sendo investigada pelo Ministério da Saúde, mas, por recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a aplicação da vacina da AstraZeneca/Oxford foi suspensa nesse grupo no dia 11 de maio. Não há nenhuma restrição em relação às vacinas Coronavac e Pfizer.

A situação levou a Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) a realizar um mutirão de emergência a partir desta terça (22) para esclarecer dúvidas das gestantes e mães.

“Têm circulado muitas fake news. Eles invertem dados de estudos, inventam que a vacina causa aumento de aborto, de malformações fetais. Isso assusta as gestantes”, afirma a obstetra Rossana Pulcineli Francisco, presidente da Sogesp.

A médica diz que ela e os colegas têm recebido diariamente centenas de mensagens de grávidas e puérperas com muito medo e angústia.

“Fica claro que elas são alvo de campanha de contrainformação, via fake news, de grupos contrários à imunização. Diante disso, temos de reagir já. Mobilizamos nossos especialistas e faremos plantão online, uma espécie de live de emergência.”

A médica Fátima Marinho, pesquisadora da Vital Strategies que tem estudado mortes maternas e infantis pela Covid-19, lembra que o Brasil tem tradição em imunizar gestantes com vacinas que usam vírus atenuado, como a da gripe, e que elas se mostram muito seguras.

“Por isso não se espera problemas com a Coronavac. Além disso, as gestantes estão na lista de prioridade da vacinação nos EUA desde o início do ano e eles não tiveram problema nenhum com a vacina da Pfizer. O Brasil deveria priorizar essa vacina para as gestantes.”

Para Marinho, é muito importante que as autoridades públicas olhem com atenção para esse grupo, já que as mortes maternas por Covid-19 estão em alta.

Segundo ela, também há indícios de óbitos maternos tardios, que ocorrem após o período de puerpério (até 45 dias após o parto) e não estão entrando nas estatísticas desse grupo.

A morte de bebês por Covid após o nascimento é uma outra situação que tem preocupado a pesquisadora. “Eles estão sendo infectados dentro de casa. Se a lactante [a mãe] é vacinada, ela protege também o bebê.”

Em São Paulo, as lactantes maiores de 18 anos com até dois anos de amamentação passaram a ter prioridade na fila de espera para doses remanescentes da vacina desde a última sexta (18).

Segundo Rossana Pulcineli, da Sogesp, outro fator que pode estar atravancando a vacinação de gestantes e puérperas é a exigência de muitos municípios de encaminhamento ou relatório médico para que essas mulheres sejam vacinadas. São Paulo, que começou a imunizar esse grupo no último dia 7, é um deles

“Na rede privada, o acesso aos médicos é mais fácil. Nas unidades básicas, teria que agendar, passar por consulta. Isso leva tempo, expõe a gestante [a lugares com aglomeração] e não existe razão técnica para isso. Essas gestantes estão correndo muito mais riscos sem a vacinação”, diz.

Desde o início da pandemia, 1 em cada 5 gestantes e puérperas que morreram por Covid não teve acesso a unidades de terapia intensiva (UTI) e 33% não foram intubadas, o último recurso que poderia salvá-las.

Entre março de 2020 e 16 de junho de 2021, foram 14.042 casos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) por Covid e 1.412 óbitos (10,1%).

Houve ainda mais 11.785 de registros com 296 mortes entre gestantes e puérperas com Srag não especificada, que, na avaliação dos pesquisadores, pode ser também casos de Covid-19.

Os encontros virtuais promovidos pela Sogesp acontecem entre os dias 22 e 25 de junho e no dia 28, sempre às 19h. Três ginecologistas e obstetras vão esclarecer as dúvidas das gestantes e puérperas.

Folha de S. Paulo