Filiação do filho de Bolsonaro irrita parcela do Patriotas

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução/redes sociais

A entrada de Flávio Bolsonaro no Patriota foi formalizada no início da tarde desta segunda-feira numa tumultuada reunião, numa sala apertada de um diretório do partido em Barrinha, no interior de São Paulo, em meio a gritos e protestos de parte dos membros do partido.

A votação comandada por Adilson Barroso, presidente da legenda, aconteceu em menos de dois minutos, conforme mostram imagens do vídeo que já se espalhou pela internet. Ao se desfiliar do Republicanos, na semana passada, Flávio disse que aguardaria uma definição do pai, Jair Bolsonaro, sobre em qual partido ingressar.

“O que manda é a democracia, é a votação da maioria!”, grita Barroso de pé, em meio ao quiprocó, abafando as vozes dos que tentavam se manifestar. “Eu estou colocando em votação a possibilidade, caso ele queira, da filiação do presidente da República. Alguém aqui é contra, se não for levanta a mão!”

A chamada logo provocou mais protestos de alguns dos presentes. “Espera aí, tem um tanto de gente aqui que é a favor, isso não é forma de votação Adilson! Não aja como moleque!”, disse o deputado federal Fred Costa (MG). O vídeo está incompleto, mas demonstra o contexto em que Bolsonaro entra na legenda.

No fim da tarde de domingo, o vice-presidente do Patriota, Ovasco Resende, e mais sete integrantes do Diretório Nacional entraram com uma ação no TSE pedindo que fossem anulados dois atos de Barroso decididos unilateralmente, sem uma convenção ou consulta aos outros membros da direção partidária: a destituição de delegados nacionais que se opõem à filiação de Bolsonaro e a mudança na composição dos membros da Executiva.

Todos os destituídos tinham poder de voto e foram substituídos por pessoas indicadas pelo próprio Barroso. Também foram dissolvidas comissões estaduais que eram contra a incorporação do presidente da República ao Patriota.

É essa destituição de delegados que Barroso tenta, aos gritos, oficializar. “Estou nomeando 47 novos membros da comissão executiva nacional que faz parte do Brasil todo”, exclama ele, anunciando também a alteração no estatuto. Apesar dos protestos, a maioria dos presentes levanta a mão e aprova as mudanças.

Além da resistência demonstrada na própria ação judicial, diversos vereadores, deputados e outros filiados ao Patriota já começaram a pedir a desfiliação do partido. A ação ainda vai ser julgada, mas o ânimo de Barroso ao longo dos dois minutos registrados em vídeo mostra que o presidente do Patriota está aflito para filiar logo Bolsonaro, seus filhos e seus seguidores.

Segundo o grupo que entrou com uma ação no TSE, o objetivo da manobra de Barroso é entregar toda a estrutura partidária a Bolsonaro e seu grupo. O Patriota hoje tem diretórios em todos os estados e recebe R$ 35,1 milhões de reais do fundo eleitoral.

“Comuniquei também a filiação, o prazer e a honra de ter o senador Flávio Bolsonaro como líder do Patriota na Câmara (sic), partido este que quem criou o nome foi o pai dele”, berra Barroso, na cena captada pelo vídeo, corrigindo logo depois o cargo do novo correligionário.

A entrada de Bolsonaro no Patriota foi negociada ao longo de três meses, desde que ele constatou o fracasso de sua tentativa de montar um novo partido, o Aliança do Brasil. Desde então, o presidente já conversou com líderes do PTB, do PP, do Republicanos e do Partido da Mulher Brasileira, o PMB, que chegou a alterar o estatuto e mudar de nome para Brasil 35 com o intuito de recebê-lo.

Em todos os casos, os caciques partidários afirmavam nos bastidores que não tinham conseguido um acordo razoável com o presidente, porque ele exigia controlar todos os diretórios ou quase todos, sacando de seus postos os dirigentes que já estavam no comando, em alguns casos há muitos anos.

Barroso, pelo jeito, achou que valia a pena dar uma nova chance a Bolsonaro, que em 2017 fez com que o então Partido Ecológico Nacional (PEN) se transformasse em Patriota para que ele se filiasse. Isso, porém, nunca aconteceu. Uma briga pela ocupação de cargos no partido levou Bolsonaro a trocar o Patriota pelo PSL, em 2018.

Depois disso, o partido atraiu alguns dissidentes de outras legendas de direita e centro direita — como, por exemplo, o deputado estadual de São Paulo Arthur Do Val, conhecido como Mamãe Falei, e o vereador paulistano Fernando Holiday, ambos do MBL.

Mas, ainda assim, vinha diminuindo. Só neste ano, o partido perdeu 2.494 filiados, segundo o TSE. O Patriota tem hoje 334.570 filiados. A chegada de Bolsonaro deve provocar nova evasão, já que vários dos políticos que se filiaram depois de 2018 são desafetos públicos do presidente.

(Com Mariana Carneiro)

O Globo