Fortalecimento do PT atrai quadros de outros partidos de esquerda

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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Com a saída do deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), o PSOL do Rio de Janeiro vê-se obrigado a recalcular a rota. Entre as missões, está lidar com a ameaça velada do PT de “roubar” sua base e com o risco de perder mais lideranças, além de enfrentar pressão por concessões para alianças em 2022.

Em paralelo, o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa à Presidência da República —conforme as últimas pesquisas— tem potencial para atrair a militância do PSOL em movimentos sociais e integrantes do partido que buscam maior flexibilidade para alianças no ano que vem.

Pré-candidato ao governo do Rio pelo PSB, Freixo pretende agora ter seu nome mais associado ao diálogo com partidos de centro. Para psolistas ouvidos pelo UOL, o movimento do parlamentar pode também abrir mais dissidências no partido.

A saída de Freixo desanimou lideranças que defendiam a aproximação do PSOL a uma frente de esquerda antibolsonarista em apoio a Lula em 2022.

O PSOL também assiste ao avanço de um “novo petismo” sobre a juventude do Rio —o objetivo é tentar emplacar o PT como a principal legenda da esquerda fluminense, papel desempenhado hoje pelo PSOL.

Nos últimos anos, outros nomes deixaram o PSOL para engrossar as fileiras do PT. Em 2018, a filósofa Márcia Tiburi filiou-se ao PT, sigla pela qual disputou o governo do Rio naquele ano.

Mais recentemente, o ex-deputado federal Jean Wyllys, eleito duas vezes para a Câmara dos Deputados pelo PSOL, anunciou sua filiação ao PT. No anúncio, afirmou que o motivo era “fortalecer ainda mais” a candidatura de Lula à Presidência da República.

De imediato, o PSOL do Rio não tem uma figura política que consiga, até as próximas eleições, tornar-se um “puxador de votos” —em 2018, Freixo arregimentou cerca de 340 mil votos na eleição à Câmara dos Deputados.

Em 2020, o PSOL formou bancada na Câmara Municipal com o mesmo número de parlamentares do antigo e do atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos) e Eduardo Paes (PSD).

Em 2016, teve chances reais de vitória na corrida à prefeitura —Marcelo Freixo registrou 40% de votos no segundo turno contra 59% de Crivella.

Nas ruas, a militância é jovem e conhecida por ser “aguerrida” e capilarizada, com núcleos em favelas, universidades, zonas pobres e ricas. Os votos de Freixo, afirmam interlocutores, vieram da força de seu nome, mas também da incansável campanha nas ruas.

No ano passado, os ventos começaram contudo a mudar. A campanha da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) à prefeitura causou mais barulho do que a da deputada estadual Renata Souza (PSOL).

O PT viu então a chance de se aproximar da juventude de favelas e de movimentos de mulheres — bandeiras históricas de Benedita que nos últimos tempos estiveram no Rio mais associadas ao PSOL.

No dia 12, Lula se reuniu com cerca de 20 jovens líderes de comunidades. Entre os presentes, filiados ao PSOL que inclusive já disputaram eleição.

Ao UOL, o presidente estadual do PT-RJ, João Maurício Freitas confirmou que o partido busca se “oxigenar”, mas sem “ataque” à base psolista.

Desde a eleição do Bolsonaro, o PT tem esse desejo de se reconectar com as bases. A renovação partidária não está direcionada à base de um ou outro partido e nem é recente. A candidatura do Lula só pavimenta o processo.”

João Maurício Freitas, presidente estadual do PT-RJ

O vereador do Rio Chico Alencar, ex-integrante do PT e membro do PSOL desde a sua criação, percebeu o movimento do antigo partido, mas diz não acreditar que isso abale de forma significativa a base de sua atual legenda.

“Acho que o PSOL deixa a garotada mais à vontade, pela característica revolucionária, que atrai muito a juventude. Talvez os jovens prefiram esse partido ainda pequeno, mas com vocação de grandeza, que seja um pouco insolente.”

Nomes novos e tradicionais para 2022
Em 2018, após perder a disputa para o Senado, Chico Alencar admitiu a interlocutores que pretendia se aposentar. Em 2020, voltou a concorrer à vereança na capital fluminense e se elegeu.

Mesmo com a saída de Freixo, Chico diz crer nos nomes mais jovens do PSOL para manter a missão de ser oposição aos governos de direita, mas não descarta voltar a disputar a Câmara dos Deputados, principalmente com o “sarrafo alto” da cláusula de barreira.

“Temos que ter uma chapa para [deputado] federal bem significativa, para não perdermos esses votos. Foram votos no Marcelo [Freixo], mas também no PSOL.”

De qualquer forma, Chico acredita que não há motivo para “remoer” a saída do ex-colega. “Ele fez uma escolha respeitável, que tem que ser considerada. Temos inimigos em comum a combater. Mas a minha sensação é que uma relação muito amorosa e construtiva se desfez”, diz.

A amizade se mantém. O que se perdeu, diz Chico, foi a “intimidade política” de ligar e questionar uma votação em plenário, por exemplo.

A definição dos nomes e da chapa para se manter firme no jogo da esquerda serão decididas em um congresso nacional no fim do ano. Até lá, a prioridade é “combater o bolsonarismo”, que no Rio se materializa na figura do governador e aliado do presidente, Cláudio Castro (PL).

A tendência é de que o PSOL apoie Freixo na disputa, mesmo com as alianças que ele pretende costurar com partidos mais ao centro.

Enquanto isso, o PT já vê no deputado estadual André Ceciliano, presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), um “bom nome” para a disputa ao Senado.

Uol