‘Jesus morreu como prisioneiro político’, diz Frei Betto

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Foto: Karime Xavier

Antes de se encontrar com Lula, no sábado (12), o ator Paulo Betti procurou o escritor Frei Betto pedindo que ele dissesse palavras sobre a importância de reinserir o ecumenismo no discurso progressista de esquerda. O artista queria levar o assunto ao ex-presidente. Em resposta, Betto enviou um áudio no qual aponta que “as religiões do povo brasileiro” estão entre os “valores que nós temos perdido e deixado esse pessoal de extrema direita se apropriar”.

“Não se trata de partidarizar as religiões. Mas a religião, seja ela cristã, judaica, muçulmana, de matriz africana, indígena, não importa, é um grande valor do nosso povo e tem que ser respeitada”, afirma Betto. “Deus não tem religião. Não vamos ficar nessa disputa. […] O que importa na religião não é se você sabe repetir a Bíblia de cor ou se é uma autoridade. O que importa é se você ama, o amor.”

“Não podemos ficar fazendo pescaria no texto bíblico, como faz o Bolsonero, pegando texto de João ‘A verdade vos libertará’ etc. […] O mais importante é pegar o conjunto da obra, e o conjunto da obra é que Jesus morreu como prisioneiro político. Ele não morreu de hepatite na cama nem de desastre de camelo numa esquina de Jerusalém. Ele foi preso, torturado e dependurado numa cruz pelo Império Romano”, diz o escritor.​

Leia abaixo a transcrição da íntegra da mensagem:

“Oi, querido Paulo, falando aqui frei Betto. Estou sabendo de sua reunião aí com o querido Lula. Dê a ele o meu abraço. Olha, acho muito importante essa reunião. Agora acho muito importante a gente pensar em alguns valores que nós temos perdido ultimamente, e deixado a esse pessoal da extrema direita se apropriar deles. E um desses valores é a religião do povo brasileiro ou as religiões do povo brasileiro.

Primeiro é preciso a gente estar atento que não se trata nem de confessionalizar a política e nem de partidarizar as religiões. Mas a religião, seja ela, cristã, judaica, muçulmana, de matriz africana, não importa, indígena, ela é um grande valor do nosso povo e tem que ser respeitada.

Então é preciso a gente estar atento para alguns aspectos como, primeiro: Deus não tem religião. Não vamos ficar nessa disputa. Todos nós somos filhos e filhas de Deus. Deus não tem religião.

Segundo: o que importa na religião, não é se você sabe repetir a Bíblia de cor ou se você é uma autoridade, papa, pastor, xeque, rabino. O que importa é se você ama, o amor. E o amor nas tradições religiosas está voltado, preferencialmente, para os mais pobres, os desamparados, os explorados, os oprimidos. Essa que é a questão fundamental.

E nós cristãos não podemos ficar nessa de ficar fazendo pescaria no texto bíblico, como faz aí o Bolsonero, pegando texto de João: ‘A verdade vos Libertará’ etc. O mais importante é pegar o conjunto da obra, e o conjunto da obra é que Jesus morreu como prisioneiro político. Ele não morreu de hepatite na cama nem de desastre de camelo numa esquina de Jerusalém. Ele foi preso, torturado e dependurado em uma cruz pelo Império Romano.

Por que? Porque no reino de César ele ousou anunciar um novo projeto civilizatório, ou se você quiser, um novo projeto político, que ele denominava Reino de Deus, em contraponto ao Reino de César. E que tinha dois pilares: na relação pessoal o amor e na relação social, a partilha dos bens.

Fica aí a minha contribuição para a sua reflexão e participação nessa reunião com o querido Lula , um grande abraço, fica com Deus e coragem.”

Folha de S. Paulo