Luana Araújo informou senador governista sobre “especialista” pró-cloroquinas

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Foto: Waldemir Barreto (esquerda) / Leopoldo Silva (direita) / Agência Senado

A infectologista Luana Araújo perguntou ao senador Luiz Carlos Heinze, durante a CPI da pandemia nesta quarta-feira, se ele sabia do que se tratava o “prêmio Rusty Razor”, ao que o parlamentar respondeu não conhecer. O questionamento da médica ocorreu durante a fala de Heinze, defensor do chamado “tratamento precoce contra a Covid-19”, que é baseado em medicamentos sem eficácia comprovada cientificamente.

A pergunta surgiu a partir de uma citação do senador ao microbiologista francês Didier Raoult, de forma que sustentasse sua crença. Tal referência chamou atenção da médica, considerando que foi justamente ele quem foi eleito o pior promotor da pseudociência em 2020. O “prêmio” Rusty Razor significa em português “navalha enferrujada” e foi criado como uma forma de sátira pela revista britânica “The Skeptic”, conhecida por criticar teorias da conspiração, por exemplo.

 

Em 19 de novembro de 2020, quando a revista anunciou Raoult como “vencedor”, o cientista foi lembrado como um profissional que gerou manchetes no mundo todo no início daquele ano por seu estudo que promovia o uso da hidroxicloroquina como tratamento para Covid-19, afirmando que o medicamento reduziria a carga viral em pacientes e que esse efeito seria potencializado com a utilização também da azitromicina.

Posteriormente, contudo, foi verificado que o tamanho da amostra era bastante pequeno, com apenas seis pacientes recebendo a referida combinação farmacológica. O estudo apresentado por Raoult foi então considerado inadequadamente controlado, com dados excluídos para varios pacientes, cuja condição se deteriorou quando formam transferidos para a terapia intensiva ou morreram. Além disso, estudos subsequentes não mostraram nenhum benefício clínico para uso de hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19.

À época do anúncio da “navalha enferrujada” ao francês, o editor da “Skeptic”, Michael Marshall, destacou que a revista recebeu várias indicações de líderes globais para aquele titulo de pior promotor da pseudociência. E mencionou os nomes de Donald Trump, então presidente dos EUA, e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

“Recebemos muitas nomeações este ano de líderes mundiais como Donald Trump e Jair Bolsanaro, por promover curas pseudocientíficas para Covid-19 — e em cada caso, sua ‘cura’ ineficaz mais proeminente foi a hidroxicloroquina, como uma consequência direta do estudo de Raoult”, disse Marshall.

“É difícil encontrar um exemplo de charlatanismo que se espalhou até agora, influenciando a resposta da saúde pública a uma pandemia mortal e criando confusão generalizada em todo o mundo. Por sua promoção da hidroxicloroquina e pela ciência falha que formou a base dessa promoção, Raoult é um digno vencedor do prêmio 2020 Rusty Razor para pseudociência”.

O Globo