Novo partido de Bolsonaro tem presidente nepotista

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Foto: Divulgação – 27.set.2013/PEN

As prestações de contas do Patriota relativas aos anos de 2017 a 2020 mostram que o presidente do partido, Adilson Barroso, destinou dinheiro público da legenda ao próprio bolso e para ao menos dez familiares, incluindo a atual mulher, a ex-mulher, irmãos, filha, cunhada e sobrinhos.

Ao todo, R$ 1,15 milhão da verba pública do fundo partidário foi usado nesses anos para pagar o salário do próprio Adilson e dos parentes identificados pela Folha. Só no ano passado o presidente do Patriota recebeu uma remuneração partidária de R$ 225 mil, com um contracheque mensal de R$ 25 mil.

O fundo partidário é dinheiro que sai dos cofres públicos para alimentar o dia a dia das siglas e para gastos eleitorais, em valores proporcionais ao desempenho de cada uma delas nas eleições gerais para deputado federal. No ano passado, foram R$ 21 milhões repassados ao Patriota.

De acordo com a prestação de contas de 2020, o maior salário da família, depois de Adilson, é o da atual mulher do cacique, Cassia Freire Sá, com R$ 112 mil ao ano. Em seguida vem o irmão Aguinaldo Barroso de Oliveira (R$ 92 mil ao ano).

Depois, vem uma cunhada, Andresa Nabarro, com holerites que somam R$ 56 mil ao ano. Em seguida, Rute Ferreira de Lima Oliveira, ex-mulher de Adilson, com R$ 50 mil ao ano. A lista ainda é formada pela filha Fabiana Barroso, com salário anual de R$ 47 mil, e por um sobrinho, Willian Oliveira do Amaral (R$ 48 mil ao ano).

Em anos anteriores, figuram na lista de pagamento do Patriota ao menos outros quatro familiares de Adilson.

Não é a primeira vez que a verba do partido é direcionada para fins questionáveis.

Conforme revelou a Folha, dinheiro do fundo partidário do Patriota foi usado em 2019 para a aquisição de cinco carros, entre eles uma Mitsubishi Pajero Sport zero quilômetro, de R$ 260 mil. Ao todo, a sigla nanica desembolsou R$ 644 mil de verba pública na compra de carros naquele ano.

Apesar de não haver vedação para contratação de parentes pelos dirigentes partidários, vários especialistas apontam a necessidade de as siglas se pautarem pelos princípios da moralidade, eficiência e economia na gestão de recursos que, na origem, são públicos.

A prática de remunerar dirigentes partidários com dinheiro público era condenada, inclusive, pelo próprio Adilson.

Em entrevista ao jornal O Globo, em 2015, o dirigente partidário deu a seguinte declaração: “Muitos partidos pagam salários de R$ 10 mil para primeiro-secretário [cargo ocupado à época por sua mulher, Rute]. Não tenho um membro do partido que tem salário, nem eu. Pega outros presidentes de partidos, e eles têm salários gordos, inclusive nos partidos corruptos que tem por aí”.

Procurado, o presidente do Patriota não respondeu aos questionamentos.

Dirigentes do partido afirmam, nos bastidores, que sabiam da prática adotada por ele no diretório nacional. Contudo, disseram que não tinham noção da quantidade de familiares que ocupam ou ocupavam cargo na sigla.

Adilson é um dos fundadores do Patriota e constantemente reforça sua origem humilde como cortador de cana de açúcar no interior do estado de São Paulo. No entanto, ele é visto por outros integrantes da legenda como uma pessoa que concentra o poder em si mesmo. Por isso, os atos e nomeações do presidente não são questionados por membros da sigla.

Uma das menores siglas da Câmara, com apenas seis deputados, o Patriota (antigo PEN, Partido Ecológico Nacional) apregoa como uma de suas bandeiras a eficiência na gestão pública, com o menor gasto possível para a promoção de bens e direitos, e a “verdadeira austeridade fiscal com busca ao déficit nominal zero”.

Com a filiação do senador Flávio Bolsonaro (RJ) nesta segunda-feira (31), abre-se caminho para que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), faça o mesmo.

Durante toda a sua carreira de 28 anos como deputado do baixo clero da Câmara, Bolsolnaro passou por várias siglas —oito, desconsideradas as fusões entre elas. Se consideradas, cinco: PDC, PPR, PPB e PP, frutos de fusões e mudanças de nome, além de PTB, PFL (hoje DEM), PSC e PSL.

O prazo para que ele se filie a uma nova sigla é o final de março de 2022, seis meses antes da disputa presidencial.

Em 2018, Bolsonaro chegou a ensaiar o ingresso no Patriota, mas acabou optando, na última hora, pelo PSL, partido com a qual rompeu em novembro de 2019.

Bolsonaro tentou colocar de pé a Aliança pelo Brasil já para as eleições municipais de 2020, mas a empreitada tem se revelado até agora um fracasso.

De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em cerca de um ano e meio de existência a Aliança conseguiu validar nos cartórios eleitorais 107.845 assinaturas de apoio, ou seja, menos de um quarto do que precisa para dar início ao pedido de registro da nova sigla (492 mil).

Folha de S. Paulo