O obstáculo à ideia de Lula para o Rio

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Foto: Editoria de Arte

Dias depois da manifestação de 29 de maio contra o presidente Jair Bolsonaro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), brincou por telefone com o vereador Chico Alencar (PSOL). O ato, disse Paes, estava com bandeiras vermelhas demais enquanto a cor amarela, presente na logo do partido do parlamentar, poderia ter sido mais usada para atenuar o perfil de esquerda do movimento. É justamente esse o argumento utilizado por apoiadores do presidente para desqualificar quem foi para as ruas protestar contra o Planalto.

Embora o episódio exponha o bom diálogo de Paes com segmentos da esquerda fluminense, há uma distância gigantesca entre a boa convivência e a união do prefeito com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) para enfrentar o governador Cláudio Castro (PL) em 2022. Foi para conversar sobre essa hipótese de uma frente ampla que o ex-presidente Lula desembarcou no Rio e esteve com ambos entre quinta e sexta-feira.

O petista, contudo, deixou a cidade com ainda mais convicção de que será difícil colocar Paes e Freixo em um mesmo palanque no primeiro turno, ainda que publicamente os dois não descartem a possibilidade. O fato é que Paes não deseja apoiar Freixo — por isso lançou neste momento a pré-candidatura do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz.

Historicamente, ambos sempre estiveram em campos opostos. Em 2012, quando se enfrentaram pela prefeitura, trocaram acusações em debates na TV — o ex-psolista acusou Paes de fazer acordo com milicianos, e ouviu em resposta que era leviano e despreparado.

Os atritos arrefeceram ao longo dos anos, mas nada que alterasse o distanciamento. Mesmo com os movimentos de Freixo para apoiar Paes no segundo turno contra o ex-governador Wilson Witzel, em 2018, e contra o ex-prefeito Marcelo Crivella, em 2020, os dois jamais deixaram se fotografar juntos para oficializar qualquer tipo de parceria. Um chope em um bar chegou a ser cogitado por Paes após a eleição do ano passado, mas Freixo, na época ainda patrulhado por alas radicais do PSOL, recuou do encontro.

Agora, o maior nome da esquerda do Rio está em busca de repaginar sua imagem de político isolado. Está entrando no PSB, sendo orientado pelo ex-marqueteiro de Sérgio Cabral, Renato Pereira, e abrindo conversas com o economista André Lara Resende. Até com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, Freixo já esteve pedindo o apoio do novo partido de Paes.

O prefeito resiste. Na sexta-feira, um post publicado pelo pastor Silas Malafaia, apoiador de Paes e aliado do presidente Jair Bolsonaro, simboliza a dificuldade para o prefeito de caminhar tão explicitamente com a esquerda em 2022: “Alerta ao prefeito Eduardo Paes! Os governos Lula e Dilma são responsáveis pelo maior esquema de corrupção da história política do Brasil. Destruíram a economia, saquearam o país, produziram milhões de desempregados. Pense bem na escolha que vai fazer. Estamos atentos!”, escreveu o evangélico ao comentar a foto de Paes com Lula.

O Globo