OMS prevê que Copa América vai agravar pandemia no Brasil

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Getty

A OMS não foi consultada pelo governo brasileiro sobre a realização da Copa América e nem tem o poder de decidir se um país deve ou não sediar um evento. Mas, nesta segunda-feira, a agência de saúde apelou para que o Brasil seja “extremamente cuidadoso” na organização do torneio para evitar que a competição se transforme em uma ocasião para ampliar a crise sanitária. Para a OMS, se não houver como implementar medidas para administrar o risco, governos devem reconsiderar sediar eventos, sob o risco de que torneios “exacerbem” ainda mais a proliferação da covid-19.

Mike Ryan, diretor de operações da OMS, respondeu a uma pergunta da coluna durante a coletiva de imprensa e deixou claro que a agência “não pode decidir em nome de um país”. Quando consultada, a OMS faz avaliações de risco para qualquer evento de massa, seja esportivo ou religiosos.

O Brasil, porém, não pediu a ajuda da agência e nem consultou a organização sobre as medidas a serem tomadas, conforme o UOL revelou na semana passada.

Ainda assim, Ryan deixou claro sua recomendação. “Grandes eventos esportivos internacionais são complexos e exigem muito planejamento e muita avaliação de risco e muita administração de risco”, disse.

Segundo ele, deve-se entender que não há como reduzir o risco a zero. “Levar o risco a quase zero exige medidas de administração de risco metodicamente implementadas, muito bem planejadas e muito bem implementadas”, insistiu Ryan.

“Portanto, aconselhamos que qualquer país organizando qualquer tipo de evento de massa, especialmente onde há a transmissão comunitária do vírus, seja extremamente cuidadoso para garantir que tenha as medidas de administração de risco implementadas”, pediu.

Ryan foi além. “Se essa administração de risco não pode ser garantida, então certamente países deveriam reconsiderar sua decisão de sediar qualquer evento se as medidas de administração de risco não são implementadas”, afirmou.

Eventos, sem administração de risco, “tem o potencial de exacerbar ainda mais a proliferação (do vírus)”. “Obviamente, países devem levar isso em consideração”, afirmou.

“É uma decisão dos estados soberanos e dos comitês organizadores”, disse Ryan. “Mas nós pedimos que todas as partes garantam que medidas de avaliação de risco sejam implementadas para impedir que esses eventos sejam problemáticos no que se refere à transmissão de doenças”, completou.

Pandemia em “dois trilhos”
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, afirmou ainda que a pandemia vive dois caminhos diferentes hoje no mundo. De uma forma geral, os números da covid-19 caíram pela sexta semana consecutiva, com as mortes sendo reduzidas por cinco semanas.

“Mas ainda temos um cenário misto”, disse. Segundo ele, se há uma queda nos números nos países que avançaram na vacinação, ainda há uma alta importante nas Américas e na África. “Temos uma pandemia em dois trilhos”, disse. “Temos ainda países vivendo em caminhos perigosos, enquanto outros começam a promover suas reaberturas”, afirmou.

Tedros, porém, pediu cautela para governos que estejam começando a relaxar suas medidas sociais. Segundo ele, a possibilidade da introdução da variante Delta pode voltar a gerar uma alta importante em casos. “Isso seria desastroso para aqueles que ainda não foram vacinados”, disse.

Segundo ele, a desigualdade no acesso à vacina ainda é o motivo que leva a pandemia a continuar a se expandir. Em seis meses de vacinação, os países ricos acumularam 44% de todas as doses do mundo, enquanto as economias mais pobres ficaram com apenas 0,4%.

“O mais frustrante disso é que nada mudou por meses”, lamentou Tedros. Segundo ele, a falta de vacinas para os mais pobres é uma ameaça para todos, inclusive para os países mais protegidos.

Tedros espera que os líderes do G7 se comprometam a enviar 100 milhões de doses para os países mais pobres em junho e julho. A meta da OMS é de garantir a vacinação de 10% da população dessas economias até setembro e 30% até o final do ano.

Uol