PM é afastado por prender professor que xingou Bolsonaro

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Foto: Reprodução

O oficial da Polícia Militar responsável pela ação que resultou na prisão de um professor de Ensino Médio na tarde dessa segunda-feira (31/5), em Trindade, na região metropolitana da capital goiana, foi afastado de suas funções operacionais. A informação foi confirmada pelo Governo de Goiás. Toda a ação foi filmada pela vítima e seus familiares.

O educador Arquidones Bites, que também é sindicalista e dirigente do PT em Goiás, levava em seu carro uma faixa com os dizeres: “Fora Bolsonaro genocida”. Ele foi parado por uma guarnição de quatro policiais militares na rua e solicitado a retirar a indumentária do veículo.

De acordo com o tenente responsável pela abordagem, identificado como Albuquerque, o professor estaria infringindo a Lei de Segurança Nacional no trecho que proibiria calúnias ao presidente da República. Criada pela ditadura militar, e modificada em 2016, novas mudanças na lei estão em debate no Congresso e sob avaliação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em maio, a Câmara aprovou projeto que a revoga, mas ainda falta o Senado decidir sobre o tema.

Como o educador se recusou a retirar a faixa, foi preso pela PM. A ação foi toda filmada e ele denunciou ter sido vítima de agressão policial. O homem foi levado para uma delegacia em Trindade, onde os policiais civis se recusaram a prosseguir com a prisão. Não satisfeitos, os policiais militares se deslocaram até Goiânia, para a sede da Polícia Federal, onde também ouviram a negativa de autuar o professor.

Por fim, o oficial da PM pretendia levar Arquivaldo Bites para Trindade, para que ele pudesse ser enquadrado, com o apoio da Polícia Civil de Goiás, por desacato. No entanto, com a mobilização em torno do fato, acabou desistindo do intento. Já era tarde da noite e o professor foi liberado.

O que o policial conseguiu foi uma repreensão por parte da Secretaria de Segurança Pública e consequente afastamento das funções operacionais. Além disso, ele será investigado pela Corregedoria da PM por conta de sua conduta.

“O policial militar, envolvido nesse fato lamentável, foi afastado de suas funções operacionais. Ele responderá a inquérito policial e procedimento disciplinar para apuração de sua conduta. O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Segurança, informa que não coaduna com qualquer tipo de abuso de autoridade, venha de onde vier. Assim sendo, todas as condutas que extrapolem os limites da lei são apuradas com o máximo rigor, independentemente do agente ou da motivação de quem a pratica”, disse a SSP em nota.

Professor do ensino médio e dirigente do PT, além de membro do Sindicato dos Trabalhadores na Educação em Goiás (Sintego), Arquidones Bites é irmão do ex-secretário do Entorno do Distrito Federal e ex-vereador de Valparaíso de Goiás Arquicelso Bites, que morreu vítima da Covid-19 em 30/3.

No momento em que foi liberado, na noite de segunda, ele protestou em memória do irmão caçula. “Somos 19 irmãos, veio morrer justamente o caçula. Ele saiu da ordem”, lamentou Arquidones. “Saiu da ordem por causa que o presidente da República, esse genocida, não comprou vacina”, discursou ele, repetindo a frase que incomodou os PMs goianos.

Bites teria sido um dos organizadores do protesto contra o presidente Jair Bolsonaro em Goiânia no último sábado (29/5), e manteve a faixa no veículo após o evento. E foi justamente a presença dela no carro que levou os militares a efetuarem a prisão. Uma foto que circula pelas redes sociais e é atribuída ao oficial responsável pela ação, Tenente Albuquerque, o mostra ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Essa não é a primeira vez nos últimos dias que a PM de Goiás se envolve em polêmica relacionada com abordagem. No último final de semana, repercutiu em todo o Brasil o momento em que uma dupla de policiais abordam um jovem negro em Cidade Ocidental. O youtuber Filipe Ferreira filmava manobras em uma bicicleta para seu canal quando os PMs param a viatura, apontam as armas e o revistam. Ele disse que foi vítima de abuso de autoridade.

O titular da SSP, Rodney Miranda, disse ao Metrópoles que o caso será investigado.

Metrópoles