Quarta-feira teve maior panelaço já feito contra Bolsonaro

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Foto: Reprodução/ O Globo

Foi uma reação aos protestos que ocorreram em todo o Brasil no último sábado, a um dia em que a CPI da Pandemia foi mortal para seu governo e ao anúncio de João Doria Jr. de que todos os paulistas estarão vacinados com ao menos a primeira dose até 31 de outubro.

Jair Bolsonaro foi à TV tentando se mostrar mais moderado e brandindo vacina no lugar de cloroquina. Mas o resultado foi que levou seu pior panelaço, com urros de “fora Bolsonaro”, buzinaços e gritos nas janelas de todo o Brasil. Também foi retorquido com uma nota da CPI da Covid, que diz que o pronunciamento vem “com atraso de 432 dias e a morte de quase 470 mil brasileiros”.

A fala de 5 minutos de Bolsonaro foi algo desconexa. Para não dar o braço totalmente a torcer em relação ao seu histórico de discursos desacreditando e desencorajando a vacinação, começou o pronunciamento dizendo que o Brasil é um dos países que mais vacinam, e que “quem quiser” será vacinado até o fim do ano. Afinal, se ele repetiu tanto que não obrigaria ninguém a ser imunizado e até agora não teve a pachorra de ser vacinado para dar o exemplo, alguma concessão ao seu genuíno negacionismo teria de permanecer.

Na mesma toada, ele manteve a famigerada linha de dizer que seu governo sempre se preocupou “com o vírus e com a economia”, uma construção falaciosa que não leva em conta o que a Ciência preconizou desde o início: que sem uma política de distanciamento social e testagem e rastreamento de contatos, enquanto não havia vacinas, o vírus se espalharia sem controle, como aconteceu.

Nesse cenário de descontrole, não há economia que sobreviva.

Bolsonaro mostrou em sua fala que nada vai mudar caso se confirme a terceira onda já identificada por cientistas. Ele vai seguir boicotando medidas de distanciamento que eventualmente governadores e prefeitos tenham de anunciar novamente para enfrentar o caos hospitalar, caso ele se repita.

Diante disso, a fala soa reativa, inócua e insincera. Além de um tanto nonsense. A menção a como o Ceagesp (!) ajudou a salvar Araraquara e Aparecida, ambas cidades do interior de São Paulo, deve ter soado incompreensível para quase todo mundo que ouviu.

Trata-se de uma narrativa sem pé nem cabeça segundo a qual o governo federal teria mitigado efeitos do lockdown em Araraquara (cidade governada pelo PT) e da decisão de manter os templos religiosos fechados na Páscoa, que interrompeu o fluxo de romeiros a Aparecida. Os dados corretos mostram que o lockdown foi eficaz para reduzir os casos e internações, além de mortes, em Araraquara.

A ida à TV mostra que Bolsonaro sentiu o golpe dos protestos e da CPI, que nesta quarta-feira mostrou uma médica, Luana Araújo, que defendeu a ciência de forma clara, altiva, didática e altamente midiática, desmontando o embuste cloroquinista do bolsonarismo, exibido na véspera por Nise Yamaguchi.

De novo um tiro no pé: as janelas do país rugiram como nunca antes. Nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais, os vídeos de buzinas, vuvuzelas e panelas sendo espancadas, seguidas de gritos de “fora Bolsonaro” conseguiram incluir no coro aqueles que não foram às ruas no sábado por conta das restrições sanitárias.

O Globo