Empresário da vacina superfaturada é velho conhecido de políticos

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Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO (22/6/2021)

No centro das suspeitas de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin, o empresário Francisco Maximiano, de 48 anos, dono da Precisa Medicamentos, costuma levar uma vida de luxo. Voos de helicóptero, passeios de lanchas e fins de semana em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, fazem parte de sua rotina.

Com depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid marcado para esta quinta-feira, 1º, o empresário também acumula série de ações, que envolvem desde a compra de um barco, o aluguel de uma cobertura até desvios de recursos públicos do Ministério da Saúde.

Sua empresa ocupa o último andar de um prédio de escritórios em Alphaville, na Grande São Paulo, e ali ele é conhecido por andar em carros blindados e com seguranças.

Em Angra, Max, como é conhecido, sua família e alguns amigos frequentam um condomínio na região do Frade, área conhecida pela aglomeração de lanchas e barcos de luxo. O percurso de São Paulo até lá geralmente é feito com um helicóptero alugado. A cidade é objeto de atenção especial da família do presidente Jair Bolsonaro, que pretende construir no local uma “Cancún brasileira” – o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) já admitiu conhecer Max, por meio de “amigos em comum” de Brasília.

Ainda na cidade do litoral fluminense, Max era adepto de passeios de barcos e, em 2017, comprou uma lancha Tec Craft de dois motores, com 24 metros de comprimento, por R$ 10 milhões (em valores da época). Pouco tempo depois, transferiu a embarcação para uma de suas 12 empresas, a 6M Participações. No ano seguinte, foi alvo de uma cobrança judicial por falta de pagamento, que terminou extinta.

Um dos sócios de Max na 6M Participações é o também empresário do setor farmacêutico Danilo Berndt Trento, que costuma acompanhá-lo nos passeios a Angra e outros destinos turísticos, como Trancoso, no litoral baiano. Em uma das viagens à Bahia, desta vez de jatinho, o empresário incluiu pedidos para serem servidos gim de marcas inglesas, licores italianos e garrafas de vinho branco e rosé. O voo regado a drinks, feito em 2018, resultou em processo judicial por não pagamento a uma empresa de táxi aéreo.

Em São Paulo, Max e o sócio chegaram a alugar uma cobertura no Campo Belo, na zona sul, de 190 metros. A parceria também foi alvo de uma ação judicial por falta de pagamento. A ação foi suspensa em abril deste ano.

Nas 12 empresas em que é sócio, Max tem parcerias com sua mulher, com dois de seus quatro filhos, seu cunhado, Trento e com Danilo Fiorini Filho – que se reuniu com Max e com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, em outubro do ano passado, em uma reunião intermediada pelo “amigo em comum” Flávio Bolsonaro.

Além da relação com Flávio, a proximidade de Max com políticos é conhecida em Brasília. O dono da Precisa é amigo do empresário Ogari Pacheco, dono da indústria farmacêutica Cristália, uma das mais importantes do País. Pacheco é o suplente do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso.

Como revelou o jornal O Globo, o empresário também foi citado em delação do vereador Alexandre Romano (PT), apontado como responsável por intermediar propina a um diretor dos Correios.

Na CPI, senadores querem saber se houve irregularidades na contratação da vacina indiana Covaxin, a mais cara comprada até agora pelo Ministério da Saúde (US$ 15 por dose). O imunizante, produzido pela farmacêutica Bharat Biotech, da Índia, foi o único comprado pelo governo brasileiro por meio de uma intermediária que não pretende produzir o produto. Como revelou o Estadão, o valor cobrado pela Precisa foi 1.000% mais alto do que a própria fabricante estimava seis meses antes.

Em depoimento à CPI na semana passada, Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe do setor de importação do Ministério da Saúde, afirmou ter sofrido “pressão atípica” de superiores para acelerar a compra do imunizante indiano. O servidor apontou uma tentativa de pagamento antecipado e, ao lado do irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro em março para apontar indícios de irregularidades.

Na ocasião, segundo relatou o deputado, o presidente atribuiu às suspeitas a “mais um rolo” do deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), ex-ministro da pasta e atual líder do governo na Câmara. Ainda segundo Miranda, Bolsonaro disse que acionaria a Polícia Federal para investigar o caso, mas nenhuma investigação foi aberta na época.

Não é a primeira vez, porém, que o empresário teria se envolvido em um “rolo” de Barros. Os dois respondem a ação judicial por um contrato do Ministério da Saúde em que a Global, uma das empresas de Max, recebeu R$ 19,9 milhões para fornecer remédios de alto custo, mas nunca entregou.

Além da venda dos imunizantes contra o coronavírus para o Ministério da Saúde, a Precisa também tentou articular venda de vacinas para clínicas privadas, oferecendo os produtos da Bharat Biotech aos membros da Associação Brasileiras de Clínicas de Vacina (ABCVac). Perto de 30 clínicas chegaram a assinar contratos com a empresa.

Como revelou ontem o Estadão, a Precisa previa cobrar até US$ 40 por dose que seria vendida na rede privada, o dobro do preço máximo estipulado pela fabricante para exportação. A CPI da Covid apura se houve atraso intencional na compra de imunizantes pelo governo Bolsonaro para favorecer iniciativas como de Max.

Segundo a ABCVAC, embora o número de acordos tenha sido baixo (menos de 10% dos associados), a entidade teve de auxiliar as clínicas nas tratativas com a Precisa para evitar prejuízos. “Até o momento, menos de 10 clínicas solicitaram nosso auxílio, por relatarem dificuldades de obterem seus ressarcimentos e até onde temos conhecimento, todos esses casos foram solucionados”, disse a ABCVAC. A clínica gaúcha MDC Vacinas, que firmou um contrato de R$ 660 mil com a Precisa e, após não receber os imunizantes, procurou a Justiça, não se valeu do auxílio da associação.

Por meio de nota, a defesa de Maximiano informou que “se mostra perplexa com a quantidade de informações inverídicas e maliciosas que estão sendo difundidas, com o único objetivo de gerar um caos político e prejudicar a vacinação da população brasileiro”. Segundo o texto, “a empresa não entrará em disputas políticas e está a disposição da CPI para esclarecer os fatos, rebater as ilações maliciosas difundidas com o objetivo de frustrar uma contratação de suma importância para todos” e que quer a vacinação de todos os brasileiros. O Estadão não conseguiu contato com Trento.

Estadão

 

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