Extremista de direita e bolsonarista quer reconstruir estátua de carniceiro

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Foto: Reprodução

A fumaça da estátua do Borba Gato (1649-1718) mal havia sido controlada quando o deputado estadual Gil Diniz (SP) já estava prometendo direcionar parte de suas emendas ao Orçamento paulista para a reconstrução da obra.

Diniz, que se elegeu pelo PSL com o apelido de “Carteiro Reaça” e é um dos mais destacados defensores do presidente Jair Bolsonaro no estado de São Paulo, vem liderando uma campanha nas redes sociais pela identificação e punição dos responsáveis pelo ato de vandalismo contra a imagem do líder bandeirante.

“Esse atentado tem clara motivação política, e há indícios claros da participação de partidos e parlamentares no incêndio do Borba Gato. Os líderes do movimento ‘Revolução Periférica’ vivem em gabinetes esquerdistas!”, tuitou o deputado.

Diniz não é um caso isolado. Desde o atentado contra a estátua, no sábado (24), diversas vozes da direita se manifestaram sobre o tema, num coro de repúdio que uniu bolsonaristas e antibolsonaristas.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por exemplo, tuitou:

 

 

Na mesma linha escreveu o comentarista e escritor conservador Rodrigo Constantino:

Na direita que faz oposição, houve críticas do deputado estadual Arthur do Val (Patriota), ligado ao MBL.

Qual a razão para isso? Um pouco é conveniência política, como se depreende pela própria mensagem de Diniz: o ataque foi conduzido por um obscuro grupo esquerdista, e justificado com base em comparações entre o bandeirante e Bolsonaro. Cada um, em seu tempo, teria sido um “genocida”.

Mas há também uma razão mais de fundo. A direita tem uma admiração antiga pelos bandeirantes. Mexer com alguém como Borba Gato seria o mesmo que, para a esquerda, atacar Zumbi dos Palmares.

Os bandeirantes, como aprendemos nos livros escolares, eram exploradores que desbravavam o território em busca de ouro e pedras preciosas, ou na caça de índios e negros fugitivos. Eram contratistas, a serviço de grandes proprietários de terras, comerciantes e a elite econômica e política da época.

Nesse processo, criaram novas rotas, ajudaram na ocupação do interior e foram responsáveis por, na prática, expandir os limites coloniais, antes concentrados numa estreia faixa a partir do litoral. Por terem esse papel na construção da nação, são idolatrados por grande parte dos conservadores.

Mas os bandeirantes também cometeram atrocidades. Exterminaram populações indígenas, disseminaram doenças, deixaram um rastro de destruição por onde passaram. São, assim, vilificados por diversos esquerdistas.

Esse sentimento, como se sabe, é mais pronunciado em São Paulo, de onde partiram grande parte das bandeiras. A fixação dos paulistas sobre o tema é conhecida, nos nomes de rodovias e avenidas, de uma rede de comunicação, de colégios e incontáveis instituições.

Na direita, há também referências mais sinistras. Na ditadura militar, Operação Bandeirante era o nome de uma vasta rede de repressão à oposição montada pelo governo federal, com ajuda de órgãos estaduais e o financiamento de diversos membros do empresariado paulista.

A glorificação dos bandeirantes pela direita é parte de um movimento maior, de resgate de figuras do nosso passado colonial e monárquico.

Ícones como Dom Pedro 1º e 2º, José Bonifácio, Joaquim Nabuco e Princesa Isabel representam a matriz europeia de nossa formação, que, para grande parte dos conservadores, precisa ser revalorizada. Trata-se de uma reação à defesa feita pela esquerda dos componentes africano e indígena de nossa população.

Como ocorre com tudo no Brasil, a história acaba sendo discutida com base no filtro da hiperpolarização dos dias atuais, e os bandeirantes acabaram pegos na confusão.

Esse conflito aberto só deve crescer à medida em que se aproximam as comemorações do bicentenário da Independência. Que pelo menos seja sem pneus queimando e destruição de estátuas.

Folha de S. Paulo

 

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