Fake news sobre “volta” de Trump pode incitar extrema-direita a arruaças

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Foto: ANDY JACOBSOHN / AFP/11-7-21

É a nova profecia sem embasamento das teorias de conspiração que proliferam nas margens das redes sociais: Donald Trump, de alguma maneira, tomará novamente posse como presidente dos Estados Unidos tão brevemente quanto no mês que vem.

Ainda assim, as alegações — impulsionadas por adeptos da QAnon e pelo diretor executivo e promoter da My Pillow, Mike Lindell — são suficientes para acender o alerta de Christopher Wray, o diretor do FBI, e outros funcionários do alto escalão da segurança nacional dos Estados Unidos. O temor é que os apoiadores mais fervorosos do ex-presidente possam novamente recorrer à violência.

Wray e seus colegas, atormentados pelas críticas de que não estavam suficientemente preparados para o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio, que deixou cinco mortos, se veem diante de um impasse. Ao contrário de janeiro, quando Trump convocou seus apoiadores para Washington como parte de sua cruzada para bloquear a certificação de Joe Biden como presidente, as ameaças que atualmente circulam na internet são amorfas no que diz respeito a hora e lugar.

Sem uma noção clara do que é crível e do que é apenas barulho on-line, as agências responsáveis pela aplicação da lei precisam estar alertas por todo o país, disse John Demers, ex-chefe da Divisão de Segurança Nacional do Departamento de Justiça, que deixou o cargo recentemente.

— O desafio é como o do guarda que precisa se manter vigilante. Quando não há nada acontecendo, algo pode acontecer em um instante — disse Demers em uma entrevista. — Então, é necessário estar pronto.

No entanto, também há um ponto positivo, ele diz. Não há um ponto de concentração para as pessoas tão grande como em 6 de janeiro, quando o Congresso estava contando, em uma sessão conjunta, os votos do Colégio Eleitoral para oficialmente confirmar a vitória de Biden.

A situação é reflexo de um desafio em longo prazo para o FBI e para Wray, que começará em agosto o quinto ano de seu mandato de uma década: como desenvolver fontes melhores e conduzir análise de dados “para separar o trigo do joio” na enxurrada diária de trocas nas redes sociais e em outras plataformas, disse o diretor à Comissão de Orçamento do Senado em junho.

O FBI e o Departamento de Segurança Nacional vêm fornecendo informações a funcionários nos níveis federal, estadual e local sobre riscos de terrorismo doméstico durante o verão do Hemisfério Norte.

Em junho, o Departamento de Segurança Nacional emitiu um documento afirmando que seguidores da teoria da conspiração QAnon podem se tornar violentos pois sua expectativa de que Trump fosse empossado em janeiro não foi cumprida. Alguns deles podem crer que “têm uma obrigação de passarem de soldados digitais ao engajamento com violência no mundo real”, diz o documento.

O Departamento de Justiça e o FBI já acusaram formalmente mais de 530 pessoas por violência durante a invasão do Capitólio. Cerca de 40 delas respondem por crimes de conspiração, de acordo com as estatísticas mais recentes.

Na semana passada, promotores do Departamento de Justiça se opuseram ao pedido feito por um dos participantes da invasão para remover sua tornozeleira eletrônica e o GPS que o rastreia.

Em um documento apresentado ao tribunal, as autoridades disseram que “Trump continua a fazer acusações falsas sobre a eleição, insinuar que pode ser novamente empossado como presidente em um futuro próximo, sem novas eleições, e minimizar o ataque violento ao Capitólio. Redes de televisão continuam a veicular e noticiar tais alegações, com algumas delas dando credibilidade às informações falsas”.

Lindell, o fundador da MyPillow, empresa que comercializa travesseiros, disse em uma entrevista por telefone que irá apresentar em um “simpósio virtual”, marcado para ocorrer entre os dias 10 e 12 de agosto, evidências de que Trump ganhou o pleito. Ele afirma esperar que alguns estados levem as supostas provas para a Suprema Corte.

Ele não sugeriu, pessoalmente, que se recorra à violência para pôr o ex-presidente novamente no Salão Oval.

Independentemente das ameaças serem ou não críveis, Wray está sob pressão para não perder novamente os sinais de alerta — algo que críticos sugerem que a liderança do FBI fez em janeiro.

Em um depoimento ao Congresso, Wray citou um relatório produzido pelo escritório do FBI em Norfolk, no estado da Virgínia, no dia da invasão do Capitólio. O documento, que falava da ameaça representada pelos manifestantes violentos reunidos em Washington, foi descrito pelo diretor como “uma peça de informação que era crua, sem verificação ou atribuição”.

Wray disse que o relatório foi comunicado às agências de execução da lei de três maneiras diferentes, incluindo à Polícia do Capitólio. Não disse, no entanto, se ele ou outros funcionários importantes do FBI acenderam os alarmes nos níveis mais altos.

— Nós ainda não temos um cenário muito claro da compreensão que o FBI tinha da ameaça nos dias que antecederam o ataque — disse a senadora Dianne Feinstein, uma democrata da Califórnia. — Não há dúvidas, quando se tem imagens de quem estava lá e do que estavam fazendo, que as pessoas tinham intenção de fazer o que fizeram.

Em um comunicado na manhã de segunda-feira, o FBI disse que “continua a trabalhar com parceiros nas esferas federal, estadual, tribal e local para detectar e interromper quaisquer ameaças potenciais às comunidades que servimos. Os homens e mulheres do FBI continuam vigilantes em nossos deveres de conter o extremismo violento e garantir a segurança do nosso país e de nossos cidadãos”.

Wray, de 54 anos, disse que o FBI está aprendendo com os processos já apresentados e com as investigações correntes:

— Isso está longe do fim, e com cada prisão e com cada processo que apresentamos, estamos não apenas caminhando em direção a responsabilizar aqueles que realizaram o ataque, mas também aprendendo mais sobre quais [informações] estavam disponíveis anteriormente para que possamos melhorar daqui para a frente — disse ele na audiência de junho. — Estamos absolutamente determinados a garantir que façamos a nossa parte para que isso nunca aconteça novamente. Quero ser muito claro sobre isso.

Wray disse que a agência está analisando a encriptação, porque muitas comunicações entre terroristas domésticos “está acontecendo via plataformas encriptadas as quais não temos uma solução de acesso pronta ou legal. E, é claro, vamos analisar o modo como revisamos e avaliamos informações de código aberto, redes sociais, esse tipo de coisa”.

O Departamento de Segurança Nacional emitiu um boletim no fim de junho avaliando a possibilidade de terroristas domésticos explorarem o alívio das restrições para conter a Covid-19 para realizar novos ataques. Entre eles, há preocupações com os adeptos de teorias da conspiração que promovem a ideia de que Trump retornará à Presidência em agosto.

O departamento está “focado na relação entre violência e ideologias extremistas” e está “melhorando sua capacidade de prevenir atos de terrorismo doméstico inspirados pela desinformação, teorias da conspiração e narrativas falsas espalhadas pelas redes sociais e outras plataformas on-line”, disse um comunicado do Departamento de Segurança Nacional.

Os funcionários americanos, contudo, enfrentam um desafio para tentar diferenciar entre o que é apenas barulho e ameaças reais, e evitar a violação dos direitos constitucionais dos cidadãos.

“Especialistas dos escritórios de direitos e liberdade civis, privacidade e aconselhamento jurídico do Departamento de Segurança Nacional estão envolvidos de perto para garantir que todas as iniciativas sejam consistentes com as proteções de privacidade, direitos e liberdades civis, direitos garantidos pela Primeira Emenda e outras leis aplicáveis”, disse o órgão em seu comunicado.

A maior ameaça potencial de ataque nas próximas semanas provavelmente vem de atores individuais ou pequenos grupos de indivíduos, ao invés de grandes grupos, disse Demers. Ele também afirmou que outras datas com algum significado especial para apoiadores de Trump já passaram sem violência, em particular uma teoria da conspiração de que ele seria reempossado em 4 de março.

O Globo

 

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