Médicos estão pregando que grávidas não se vacinem

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Foto: iStock

Grávidas com covid-19 têm 17 vezes mais chance de morte do que gestantes sem a doença, segundo um estudo do IDSA (Infectious Diseases Society of America), publicado pelo periódico Oxford Academic, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Apesar disso, alguns ginecologistas obstetras aqui do Brasil estão contraindicando a vacina para gestantes e puérperas —mulheres que deram à luz recentemente.

A confeiteira Gabriela Diniz, 23, passou recentemente por isso com o médico com quem faz o pré-natal. A moradora de Salto, no interior de São Paulo, chegou a pedir um encaminhamento para tomar a vacina contra a covid-19, mas teve resposta negativa.

O profissional de saúde argumentou que o imunizante pulou muitas fases de testes e não está pronto para ser aplicado em grávidas, porque, segundo ele, “ainda não se sabe se pode ocorrer alguma reação”.

Cecilia Roteli Martins, presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), explica que, assim como todas as vacinas, a da covid também tem efeitos colaterais.

Entretanto, “são eventos adversos muito raros e muito discretos, que não causam tanto dano quanto a doença”. E alerta: “Tenha medo da doença, não tenha medo da vacina”.

Gabriela decidiu procurar informações em grupos de gestantes nas redes sociais e decidiu se vacinar, mas ainda tem medo de que o bebê tenha alguma má-formação por isso. Ela conta que terá de continuar com o mesmo médico até o fim da gravidez, já que o pré-natal é pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Com uma gestação saudável de 16 semanas, a confeiteira já não precisa mais de autorização, pois sua cidade já liberou a vacinação para todas as grávidas mediante agendamento. Agora, ela espera ser chamada.

A estudante Giovanna Gomes, 22, passou por uma situação parecida. Quando estava grávida de 16 semanas, ela questionou o médico sobre uma possível autorização para tomar a vacina. A paulistana também ouviu que não há muitos estudos sobre o imunizante, que ainda não se sabe se o bebê pode ser afetado e, por fim, que os riscos da vacina são maiores do que a covid-19.

“Fiquei meio ‘assim’ porque estou grávida e quando alguém fala que isso pode ser ruim pro bebê, meu coração quase sai pela boca”, conta a estudante. Apesar disso, o noivo não concordou com o profissional de saúde. O casal conversou, leu matérias sobre a vacinação em outros países e ouviu a opinião de familiares e de outras gestantes que foram vacinadas.

Assim, ela conta que decidiu confrontar o médico e conseguiu a recomendação. Giovanna tomou a primeira dose no início de junho, e hoje está de 24 semanas, esperando pelo nascimento de Benício.

Para outras grávidas, diria para seguir seu coração, sua intuição, pesquisar e se informar. Os médicos não são deuses, eles não sabem de tudo”.

De acordo com dados do OOBr Covid-19 (Observatório Obstétrico Brasileiro) divulgados no início de julho, na comparação entre 2020 e 2021, houve um aumento da mortalidade materna semanal por covid-19 de 328,8% em 2021 em comparação com a média de 2020.

Enquanto isso, em relação à população geral, o aumento foi 110,5% na média semanal de 2021 em relação ao ano passado.

Além da maior chance de morte de parturientes, há maior possibilidade de complicações, como mostra o estudo publicado no Oxford Academic. O risco de sepse —popularmente conhecida como infecção generalizada— é 14 vezes maior e as chances de precisar de ventilação mecânica são multiplicadas por 13. As probabilidades de ter AVC, insuficiência renal, evento cardíaco adverso e doença tromboembólica também são aumentadas.

Jean Gorinchteyn, médico infectologista do Hospital Emílio Ribas e Albert Einstein e secretário estadual de Saúde de São Paulo, lembra que, com a gestação, há uma diminuição da imunidade.

Nesse caso, assim como em outras doenças virais, como dengue e febre amarela, a tendência é que a carga viral aumente e, assim, as gestantes podem desenvolver formas mais graves da enfermidade.

Além disso, segundo a presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Febrasgo, no fim da gravidez, existe uma dificuldade de expansão dos pulmões devido ao crescimento uterino.

Assim, aumenta a necessidade de ventilação mecânica e muitas vezes é preciso antecipar o parto, o que pode levar a um maior risco de morte fetal e até do recém-nascido.

E é isso que mostra um estudo publicado pelo University of Texas Southwestern Medical Center na revista científica Jama Pediatrics. Segundo a pesquisa, mulheres grávidas com infecção grave ou crítica devido à infecção pelo coronavírus tiveram chances aumentadas de parto prematuro e até de perda do bebê em 2019.

O risco de parto antes do tempo entre gestantes infectadas variou entre 10% e 25%, enquanto entre as que estavam em estado crítico, essa taxa chegou a até 60%.

Para a médica obstetra Melania Amorim, professora da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), na Paraíba, existem os médicos que não querem dar o atestado porque ficam temerosos de se responsabilizar pela vacina e há também os que são contra a vacinação porque estão desatualizados das evidências médicas e científicas.

Segundo Amorim, a principal vilã é a covid e não a vacina. “É a covid-19 que está levando a mortes maternas, óbitos fetais, a complicações gestacionais diversas, a aborto, restrição de crescimento, descolamento prematuro de placenta, parto prematuro, pré-eclâmpsia, aumento do risco de hemorragia pós-parto e também o fato de que a covid-19 é muito mais grave nas gestantes”, explica a especialista.

Ela, que também é integrante do Grupo Brasileiro de Estudos de Covid-19 e Gravidez e do Observatório Obstétrico, conta que passou os últimos meses lutando para que as vacinas estivessem disponíveis para todas as gestantes e puérperas.

Além de combater fake news e participar de estudos sobre a doença, a médica criou um e-mail somente para prescrever a vacina para gestantes que precisassem do encaminhamento para se vacinar.

A médica lida diretamente com gestantes com covid e deixa um conselho para as parturientes. “Na prática, eu vejo a dor do luto, a devastação, então a minha recomendação é de que realmente elas [as grávidas] corram para o primeiro posto e tomem a vacina”, diz.

A vacina da covid-19 é que tem o potencial de diminuir essa mortandade, esse verdadeiro genocídio de gestantes que está acontecendo em nosso país”.

A dica que Jean Gorinchteyn dá aos profissionais de saúde que não orientam as pacientes a se vacinar é que eles se reportem à literatura e leiam os artigos científicos mais recentes para se atualizar.

“Nós, médicos, temos o fundamento de nos basear na ciência para aconselhar os nossos pacientes, para orientar que façam e para orientar que não façam”, diz.

Já Cecilia Martins, da Febrasgo, diz achar “uma pena” as correntes de médicos antivacinas, que desestimulam o paciente e a coletividade.

“É um pensamento extremamente egoísta, porque você está mantendo um vírus em circulação e está possibilitando passagem para outras pessoas num momento que todo o mundo está tentando se proteger”, afirma.

Assim, ela conta que a federação está fazendo uma campanha para sensibilizar os ginecologistas obstetras sobre a necessidade da vacinação e orientá-los para que, se a mulher desejar se vacinar, ela seja incentivada, recebendo o devido suporte para que tenha segurança de ir em frente.

Depois de suspender a recomendação da vacinação de gestantes e puérperas em maio, o governo federal voltou a incluir esse grupo no PNI (Programa Nacional de Vacinação) no dia 8 de julho.

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga recomendou que grávidas sem comorbidades acima de 18 devem receber preferencialmente os imunizantes da Pfizer e CoronaVac, excluindo as da AstraZeneca e Janssen.

Uol

 

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