Polícias são questionadas por atacarem críticos de Bolsonaro

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Junior Boo/O Fotográfico/Estadão Conteúdo

Após as recentes manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, nas quais a reação policial resultou em violência em alguns locais como no Recife em maio, internautas voltaram a questionar um possível tratamento diferenciado da polícia frente a manifestantes de ideologias distintas. Enquanto em atos bolsonaristas quase não há repressão, com a oposição haveria maior truculência.

Especialistas ouvidos pelo UOL, no entanto, alertam que a questão é mais complexa e remonta aos atritos históricos entre forças policiais e manifestações políticas. Porém, como há uma forte identificação das bases policiais com o presidente Jair Bolsonaro, isso gera uma condescendência maior aos atos bolsonaristas.

“Os manifestantes de direita têm uma atitude em geral positiva relação à polícia. Então, o conflito também é menos provável nesses casos”, explica Ignácio Cano, professor do ICS-UFRJ (Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

A principal diferença é que a polícia encara manifestantes de esquerda como potenciais vândalos e pessoas que estão atrapalhando a ordem e encara manifestantes de direita como pessoas que exercem a sua liberdade de expressão.
Ignácio Cano, professor do ICS-UFRJ

Já para o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando, a reação policial depende muito mais do tom da manifestação do que necessariamente do espectro político. “Eu diria que a polícia tende a aumentar a sua truculência e uso progressivo da força de acordo com o comportamento dos manifestantes”, diz.

Ele ressalta que, no caso de pessoas que realizam depredação de espaço público ou privado ou fazem algum ataque contra os policiais, a polícia tem o dever de reagir, como ocorreu no fim do protesto de sábado em São Paulo.

Nas redes sociais da Polícia Militar, no entanto, as imagens das cenas de depredação e até de um policial ferido foram destacadas, causando a impressão de que o protesto havia sido inteiramente violento. O ato foi pacífico na maior parte do tempo e em todas as cidades em que ocorreu.

De acordo com o professor da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) Rafael Alcadipani, essa utilização das redes demonstra a ausência de isenção com relação ao ato.

“A gente vê a Polícia Militar utilizando as suas redes sociais de uma forma que não deveria ser e é importante que o comando da PM e também o governo do estado de São Paulo garanta que na mídia social seja reportada a manifestação de forma isenta.”

No entanto, os três especialistas são unânimes em apontar que há por parte das bases da polícia militar uma forte identificação com o governo de Jair Bolsonaro e isso pode levar a um enviesamento por parte dos policiais.

“Há uma identificação maior com o governo e essa identificação pode gerar um sentimento na tropa”, explica Rodrigo Prando. “A gente não pode tirar a característica de que o policial é humano, é dado à subjetividade e tem predileções, e isso pode sim se manifestar na forma como ele pode ser mais ou menos truculento em relação à manifestação.”

“Existe um histórico de uma identificação ideológica bastante forte entre os manifestantes pró-Bolsonaro e a Polícia Militar”, acrescenta Rafael Alcadipani. “Quando existe essa identificação ideológica, a situação fica muito mais fácil, porque não existe provocação por parte dos manifestantes de direita.”

A polícia tende a ser mais ou menos condescendente com os desvios que acontecem de um lado e de outro. Quando há essa identidade ideológica entre policiais que estão na rua e os manifestantes, claro que isso fica mais fácil.
Rafael Alcadipani, professor da FGV

Os especialistas destacam a dificuldade das polícias em coibir atos violentos durante manifestantes e também identificar responsáveis depois. “Quantos black blocs foram presos e foram julgados até hoje?”, questiona Alcadipani.

A gente fica nesse samba de uma nota só desde quando começaram as grandes manifestações e a gente não consegue ver uma inteligência policial para evitar que isso aconteça.
Rafael Alcadipani, professor da FGV

Duas pessoas foram presas em flagrante e outras duas estão sendo investigadas pela depredação nos atos de sábado na avenida Paulista, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Questionada pelo UOL, a secretaria não soube precisar dados de presos em manifestações de ideologias distintas.

“Um deles [dos presos] responde pelos crimes de dano e incêndio; o outro, por dano, lesão corporal e furto. Ambos permanecem detidos aguardando audiência de custódia”, disse a secretaria em nota.

A reportagem também questionou se houve demora por parte da PM em controlar os atos de vandalismo no fim da manifestação e se há parcialidade por parte da corporação, mas não obteve essas respostas.

“A Polícia Militar esclarece que foi preciso o uso de técnicas para controlar o tumulto e uso de equipamentos não letais. Não foi utilizado elastômero. Um policial militar ficou ferido na ação”, a secretaria se limitou a dizer.

“Essas pessoas que jogaram pedras em segurança do metrô e atacaram policiais precisam ser rapidamente encontradas e punidas”, finaliza Alcadipani. “A força da Justiça tem que chegar a essas pessoas para se aprender. Só que raramente isso acaba acontecendo.”

Uol 

Assinatura
CARTA AO LEITOR

O Blog da Cidadania é um dos mais antigos blogs políticos do país. Fundado em março de 2005, este espaço acolheu grandes lutas contra os grupos de mídia e chegou a ser alvo dos golpistas de 2016, ou do braço armado deles, o juiz Sergio Moro e a Operação Lava jato.

No alvorecer de 2017, o blogueiro Eduardo Guimarães foi alvo de operação da Polícia Federal não por ter cometido qualquer tipo de crime, mas por ter feito jornalismo publicando neste Blog matéria sobre a 24a fase da Operação Lava Jato, que focava no ex-presidente Lula.

O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

O trabalho do Blog da Cidadania sempre foi feito às expensas do editor da página, Eduardo Guimarães. Porém, com a perseguição que o blogueiro sofreu não tem mais como custear o Blog, o qual, agora, dependerá de você para continuar existindo. Apoie financeiramente o Blog

FORMAS DE DOAÇÃO

1 – Para fazer um depósito via PIX, a chave é edu.guim@uol.com.br

2 – Abaixo, duas opções de contribuição via cartão de crédito. Na primeira, você contribui mensalmente com o valor que quiser; na segunda opção, você pode contribuir uma só vez também com o valor que quiser. Clique na frase escrita em vermelho (abaixo) Doação Mensal ou na frase em vermelho (abaixo) Doação Única

DOAÇÃO MENSAL – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf

DOAÇÃO ÚNICA – CLIQUE NO LINK ABAIXO
https://www.mercadopago.com.br/subscriptions/checkout?preapproval_plan_id=282c035437934f48bb0e0e40940950bf