Presidente da CPI rebate acusações de politização da CPI

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Foto: Pedro Ladeira/ Folhapress

Em 28 de abril, um dia após a instalação da CPI da Covid, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) fez um prognóstico a empresários e banqueiros, em uma reunião em São Paulo: aquela comissão não causaria nenhum impacto no governo Jair Bolsonaro.

A avaliação do presidente do PP, um dos líderes da tropa aliada de Bolsonaro na CPI e hoje na iminência de assumir a Casa Civil do governo, não se distinguia em muito da opinião de boa parte do mundo político e da própria população.

De acordo com pesquisa do Datafolha do início de maio, apesar de a grande maioria dos brasileiros apoiar a criação da CPI pelo Senado, quase 60% diziam acreditar que ela não apresentaria nenhum resultado.

Dois meses depois, entretanto, e após a comissão explorar depoimentos e documentos que reforçam os erros e omissões de Bolsonaro no combate à pandemia, tudo isso acrescido de suspeitas de corrupção, o próprio Datafolha colheu outro cenário nas ruas: mais de 60% acreditam ter havido corrupção por parte do
governo na compra de vacinas e que Bolsonaro sabia.

Desde a redemocratização, quatro CPIs causaram, durante ou após os seus trabalhos, desdobramentos de maior monta —PC Farias (1992), Anões do Orçamento (1993-94), Correios (2005) e Sanguessugas (2006).

Em entrevista à Folha, ex-integrantes dessas CPIs históricas criticam a condução da Covid-19, afirmando que, apesar de CPIs serem políticas, haveria um excesso de politização e uma ação enviesada. A opinião é similar à defendida pelos aliados de Bolsonaro.

Os alvos das críticas são os senadores do chamado G7, o grupo majoritário, que tem adotado uma linha crítica ao governo e, às vezes, de embate com os depoentes —um ex-diretor do Ministério da Saúde já saiu preso da comissão. Em especial, o presidente, Omar Aziz (PSD-AM), e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

“Eu estou achando ridícula a forma como está sendo conduzida. Nem em delegacia de polícia se permite esse tipo de conduta hoje. Forçar, conduzir, ameaçar, é o fim do mundo”, afirma o ex-deputado e ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PP-PR).

Serraglio, que pediu voto para Bolsonaro na eleição de 2018, foi o relator a CPI dos Correios, a principal comissão de investigação do mensalão.

O escândalo derrubou o então homem forte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Dirceu, levou à cassação do petista e de mais dois parlamentares, sendo que outros quatro renunciaram. Ele chegou a ameaçar o mandato de Lula, mas o petista se reergueu politicamente e conseguiu a reeleição no ano seguinte.

O trabalho da CPI foi um dos embasamentos do julgamento do escândalo pelo Supremo Tribunal Federal, que em 2012 condenou 24 pessoas por participação no esquema.

“O Ministério Público é quem vai apresentar eventualmente uma denúncia. Se chega maculado, evidente que vai ter dificuldade para ir para frente, vai ter que ser tudo novamente checado”, diz Serraglio.

Também integrante da CPI dos Correios, o presidente nacional do DEM, ACM Neto, afirma que é cedo para conclusões, mas que a CPI da Covid “precisa mostrar resultados contundentes, não dá para ficar só na política, tem que ir além disso”.

O ex-senador Amir Lando (MDB-RO) relatou as CPIs do caso PC e a dos Sanguessugas. Ele também é um crítico do método da atual: “Naquela época, quando me perguntavam o que eu achava de alguma coisa, eu respondia: o relator não responde nada, o relator questiona apenas”, diz Lando.

Ele também afirma ser um erro dar publicidade aos atos da comissão. “A investigação trabalha no campo do sigilo, no campo do discreto. O relatório final deve ser a peça máxima, porque senão você vai passando na brita, vai saindo aos pedaços, e perde aquela força, o impacto. O Brasil parou para ouvir o relatório [do caso PC].”

PC farias, amigo e tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello, foi para o centro das atenções nacionais quando um irmão do presidente, Pedro Collor, o acusou de coordenar um esquema de corrupção no governo, com o beneplácito do próprio mandatário.

A CPI reuniu provas de um esquema de correntistas fantasmas ligados a empresas de PC que bancavam gastos de Collor e familiares. O relatório final foi aprovado em agosto de 1992 e, dias depois, foi aberto o processo de impeachment que derrubou o presidente.

O ex-deputado federal Benito Gama (PTB-BA) presidiu aquela comissão. “Na CPI do PC Farias nós demos uma descarga ideológica, uma descarga demagógica, uma descarga político-partidária, não deixamos que nada disso influenciasse na apuração e na investigação. Para mim foi o segredo do sucesso. Ao contrário da atual, que tem muita política partidária, muita ideologia e muita demagogia.”

Presidente da CPI da Covid, Omar Aziz diz estar aberto a conselhos e os respeita, mas defende o método que ele e Renan —a Folha não conseguiu falar com o relator— tem usado.

“Quando eles fizeram essas CPIs, o país era outro, tinha um presidente diferente. Não era o Bolsonaro. Na CPI dos Correios, não tinha o Lula ameaçando com as Forças Armadas, esculhambando o Supremo, batendo boca com parlamentares. Às vezes é o próprio presidente que politiza e a gente revida de uma forma até elegante em relação ao que ele fala.”

Aziz reforça que, em sua opinião, cada momento exige um método adequado a ele. “Na CPI dos Correios não tinha 1.000, 2.000, 3.000 pessoas morrendo por dia. Não tinha gabinete paralelo, existia sanidade no Ministério da Saúde.”

Desde o início de maio, o noticiário e as redes sociais reverberaram assuntos que surgiram da CPI ou, após vir à tona pela imprensa, acabaram indo parar nas sessões da comissão.

Para além de erros e omissões do governo no combate à pandemia, surgiram, entre outro pontos, a suspeita de pressão indevida para fechamento de contrato, a suspeita de cobrança de propina para compra de vacina e o vídeo em que o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, trata da compra da Coronavac com intermediários que ofereceram o imunizante ao ministério pelo triplo do preço negociado com o instituto Butatan. Os casos foram revelados pela Folha.

Parlamentares das antigas e da atual CPI também destacaram, entre as diferenças, o fenômeno das redes sociais e das coberturas ao vivo. Informações recebidas podem ser checadas instantaneamente, posturas e perguntas são moldadas de acordo com as reações nas redes e uma infinidade de dados dispersos, muitos enganosos, contribui para possível perda de objetividade.

Folha  

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