PSDB leva a sério candidatura presidencial de Doria

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Foto: Becker/Futura Press

Em qualquer partido, comandar o maior estado do país e ter uma bem-sucedida carreira nas urnas seriam credenciais suficientes para transformar um político em candidato natural da sigla à Presidência. No conturbado ninho tucano, no entanto, o governador paulista João Doria está longe de ser unanimidade no PSDB para encabeçar uma chapa ao Palácio do Planalto em 2022 e, por isso, terá de se provar internamente como o melhor nome em uma verdadeira corrida de obstáculos. No último fim de semana, viajou pela primeira vez para fora de São Paulo em sua campanha para tentar vencer as prévias da legenda. No sábado 10, visitou Campo Grande (MS) e, na sequência, foi a Goiânia (GO), onde discursou que o PSDB não é “partido de rico, nem das elites, mas do povo brasileiro” e foi aclamado por dezenas de militantes como o “pai da vacina”.

Acostumados a trabalhar com um chefe metódico e perfeccionista, seus principais auxiliares sabem de cabeça o número de filiados, vereadores, prefeitos, vices, deputados e senadores de cada estado que ele precisa conquistar — o fato de a primeira viagem ter sido a Mato Grosso do Sul, aliás, não é despropositado, já que o estado tem hoje em número de tucanos eleitos, 300, quase a mesma quantidade do Rio Grande do Sul, terra do governador Eduardo Leite, principal adversário dele na disputa. Tendo como maior trunfo um elogiável trabalho de saneamento das contas públicas em sua gestão, o gaúcho já percorreu seis estados, em encontros mais discretos — mas com o apoio de gente de fora do PSDB, como o apresentador de TV Luciano Huck e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). Nas últimas semanas, Leite também chamou atenção nacional ao se declarar gay nas entrevistas, atitude que lhe rendeu aplausos até de Doria. “Eu acho o Doria um bom gestor. Mas o Eduardo, além de bom administrador, tem humildade suficiente para buscar o diálogo”, avalia o deputado Daniel Trzeciak (RS), que faz campanha por Leite.

Mesmo entre seus desafetos dentro e fora do partido (e não são poucos), o governador paulista é considerado favorito, embora tenha perdido a primeira batalha, que diminuiu o peso de São Paulo na equação escolhida pelo partido para definir o vencedor das prévias. Além disso, ele não conta com a simpatia dos caciques da sigla, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que declarou preferência em entrevista a VEJA pelo senador Tasso Jereissati, outro nome na disputa, mas com uma cotação bem menor na bolsa de apostas, assim como o quarto candidato tucano nas prévias agendadas para novembro, o ex-senador Arthur Virgílio (AM). O governador paulista não se intimida. “De dificuldade no partido, eu entendo”, afirmou ele a VEJA. “Isso não me assusta. Estimula ainda mais a minha vontade de competir e vencer. Nessa eleição presidencial não tem escolha. Tem enfrentamento. E eu estou preparado para esse combate pesado”, completou o governador. Ele gosta de frisar que só “entra em disputa se for para vencer” e tem como música-lema o hino da vitória de Ayrton Senna.

A oposição tucana a Doria gosta de lembrar que, mesmo com uma forte exposição do governador no período da pandemia, no qual se manteve em pé de guerra contra o negacionismo do presidente, viabilizou com a CoronaVac o início da vacinação no país e exagerou na dose de entrevistas coletivas no Palácio dos Bandeirantes, o governador continua tendo um desempenho decepcionante nas sondagens eleitorais. Em resposta, Doria repete (e com razão) que nunca largou com números robustos nos pleitos nos quais se saiu vitorioso. Além disso, jacta-se de estar invicto nas prévias do partido, tendo vencido as duas que disputou: uma como azarão para prefeito de São Paulo, em 2016, e outra como favorito ao governo, em 2018.

Na batalha do momento, há um ar diplomático entre os principais candidatos em público — e um clima de guerra nos bastidores. Um dos principais desafetos internos do governador paulista, o deputado federal Aécio Neves (MG) já deixou claro que prefere que o partido não tenha candidato e, segundo acusam auxiliares de Doria, enviou emissários aos estados-chave para minar a sua influência. Velho conhecedor das artimanhas da política, Aécio prefere que o PSDB não tenha um cabeça de chapa à Presidência porque sobrariam mais recursos para os postulantes ao Congresso e nos estados (um argumento atraente não apenas para ele próprio, mas para vários dos votantes nas prévias).

Apesar das fortes resistências, o governador de São Paulo dispõe de boas armas para utilizar na luta. Depois da CoronaVac, ele corre para viabilizar ainda neste ano a ButanVac, o primeiro imunizante a ser produzido quase inteiramente em solo nacional. Sabendo que a pandemia pode ser um assunto secundário na campanha de 2022, quando todo mundo já estiver imunizado, Doria tem na ponta da língua os bons resultados da economia paulista, cuja perspectiva do PIB é crescer 7,1%, segundo a Fundação Seade, bem acima da expectativa nacional, que é de 5,3%. Com as contas em dia, o governador ainda tem lançado programas de impacto na área social, como o Bolsa do Povo de SP e o Vale Gás, que oferecem um benefício de até 500 reais e auxílio de 100 reais para a compra do botijão aos mais pobres, enquanto acena ao mercado com a extinção de dez estatais e a concessão de aeroportos, parques e linhas de trem. Segundo seus aliados, ainda tem “mais 21 bilhões de reais na rua”, referentes a obras a serem inauguradas nos próximos meses.

Mas, inegavelmente, os obstáculos são muitos — internos e externos. Embora não seja o atual campeão de rejeição nacional (título que cabe hoje a Bolsonaro), Doria ostenta o segundo pior índice, 37%, o mesmo de Lula, de acordo com pesquisa recente do Datafolha. Na visão do entorno do governador, essa avaliação dele tende a melhorar, principalmente à medida que a população brasileira tiver um conhecimento maior do seu papel na imunização contra a Covid-19. Com base nessa crença, a vacina é vista como o “Plano Real” de Doria para 2022, na comparação com a vitória contra a inflação que catapultou Fernando Henrique Cardoso ao Palácio do Planalto em 1994. “Durante a pandemia, muita gente não entendeu as medidas de fechamento que eram absolutamente necessárias. A máquina de destruição bolsonarista também não economizou fake news e ataques contra o governador. E seguem com esse objetivo destrutivo, porque sabem que ele é o principal adversário de Bolsonaro no campo dele”, diz o marqueteiro Lula Guimarães, que é amigo do governador e chegou a dar conselhos a ele nos últimos dias.

Outro ponto que hoje lhe tira apoio é a percepção de seu perfil pessoal. Visto como um empresário milionário e excessivamente paulista, Doria ainda não conseguiu criar um canal de identificação com o brasileiro de menor poder aquisitivo, justamente aquele que vem decidindo as últimas eleições. Para dissipar essa imagem, ele abandonou os blazers nos eventos públicos e passou a frisar nos vídeos de campanha que é o “João”, “nome simples e comum”, filho de “pai baiano” e “mãe batalhadora” que construiu o seu “caminho de sucesso” trabalhando desde os 13 anos. “Há um espaço para crescer até 2022, principalmente no eleitorado mais conservador. Mas isso só deve aparecer a partir da metade do ano que vem”, avalia Murilo Hidalgo, diretor do instituto Paraná Pesquisas. Antes de pensar em Lula e Bolsonaro, no entanto, Doria tem muito trabalho a fazer ainda para vencer a corrida de obstáculos dentro do PSDB.

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