Senadoras da CPI levam governistas à loucura

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Foto: Edilson Rodrigues/Ag. Senado

Defender o governo parece ser missão cada dia mais difícil de ser cumprida na CPI da Pandemia. Por isso, senadores aliados de Jair Bolsonaro tentam coordenar a ação no plenário da comissão para não deixar alguém da oposição terminar de falar.

É do jogo, tática antiga, de inspiração militar, com potencial de arruinar a estratégia do adversário — são incontáveis os generais com vitórias traçadas no papel que acabaram derrotados por detalhes do campo de batalha.

O problema, na CPI, é que os senadores governistas quase sempre se atrapalham na defesa de Bolsonaro. Uma vez na confusão, partem para a luta com senadoras, inclusive as aliadas do governo. Ninguém consegue explicar a lógica, se é que existe, mas tem sido o padrão nesse inquérito parlamentar televisionado, recordista de audiência nas últimas dez semanas.

A bancada governista gastou o primeiro mês numa luta inglória, para não deixar que as mulheres pudessem falar. Todos os 18 integrantes (11 titulares) da comissão, com voz e voto, são homens. Esquecidas pelos líderes dos próprios partidos, as senadoras se inscreveram na comissão, batalharam e conseguiram direito à voz — mas sem voto. “Se foi um erro das lideranças [partidárias] não indicarem as mulheres, a culpa não é nossa”, tem repetido o governista Ciro Nogueira, presidente do PP e líder do Centrão.

Ontem, a senadora Eliziane Gama, do Cidadania do Maranhão, presidia a sessão em que a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Francieli Fantinato, relatava obstáculos criados dentro do governo à vacinação em massa contra a Covid-19.

Surpreendidos, os senadores governistas persistiram na tática de sucessivas interrupções, e mais uma vez se atrapalharam. De repente, Marcos Rogério, do DEM de Rondônia, voltou-se contra Eliziane.

Ela se manteve calma: — Senhor senador Marcos Rogério, deixe eu falar uma coisa aqui para o senhor: nós estamos diante de um acordo feito aqui…

— Não corte o meu microfone, por favor.

– Eu cortei? — disse Eliziane. — Desculpa, foi sem querer. Mas realmente eu não posso ceder a palavra a vossa excelência.

Ele insistiu: — Pode, pode, porque eu estou pedindo a palavra.

Ela cedeu: — Um minuto. Um minuto.

Então, ele protestou, enfático: — Não, não é um minuto!

Ela retrucou: – Senador, senador, deixa eu falar uma coisa pra o senhor aqui, ó… Não, não, não, não e não… Não, senador, não venha gritar aqui não, senador.

– Não, eu não estou gritando…

– Não, não grite.

– Não, eu não estou gritando.

– Não grite, porque aqui todo mundo sabe gritar!

– Não, quem está gritando é o Regimento [do Senado] e a Constituição.

– Não, não, não, não… Tenha a tranquilidade de fazer o pedido e não fazer a sua imposição, porque vossa excelência não vai impor nada. Quem está presidindo esta sessão aqui sou eu, então vossa excelência não vai impor, não. Então, baixe seu tom de voz!

– Meu tom de voz…

– … Peça, e eu vou decidir…

– … Meu tom de voz é esse, presidente.

– … Se eu defiro ou não o seu pedido.

– O.k.

– Então por favor…

– Meu tom de voz é esse. Vossa excelência não consegue mudar meu tom de voz.

– Não grite. Então, não grite. Não venha impor aqui que eu tenho que decidir o que vossa excelência pede.

Ele se acalmou, ela deu-lhe o minuto previsto, e a sessão avançou com a bancada governista cada vez mais atordoada pelas voz de outra mulher, a ex-coordenadora do programa nacional de vacinação. Pacientemente, ela repetia as razões de sua renúncia depois de quase dois anos no Ministério da Saúde:

— Bem, senhoras e senhores, para um programa de vacinação ter sucesso, é simples: é necessário ter vacinas, é necessário ter campanha publicitária efetiva. E, infelizmente, eu não tive nenhum dos dois.

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