Vem aí o “Bolsonaro da África”

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Foto: Seyllou/AFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convidou um líder africano acusado de promover uma guinada autoritária em seu país para uma visita oficial ao Brasil.

A informação foi revelada pelo próprio Bolsonaro em conversa com apoiadores na noite de quarta-feira (28). Porém, na ocasião ele não se lembrou do nome de seu convidado ou do país governado por ele.

“Eu vou receber, final de setembro se eu não me engano. Lá da África, qual o país da África? Eu conversei com ele”, disse o presidente aos simpatizantes.

“Ele é conhecido como Bolsonaro da África. Ele por acaso é general de Exército”, afirmou.

De acordo com interlocutores, Bolsonaro se referiu ao presidente de Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló. O presidente brasileiro conversou por telefone com Embaló na semana passada. O compromisso não constou da agenda oficial.

No telefonema, o presidente realizou o convite para que Embaló venha ao Brasil.

Apesar de o presidente ter dito que espera receber o guineense em setembro, pessoas que acompanham o tema disseram à Folha que ainda não há planejamento para a visita.

O líder guineense é um admirador de Bolsonaro e partilha com o brasileiro um passado militar.

Na Guiné-Bissau, ele é criticado pela indicação de militares para postos-chave da estrutura do Estado, em detrimento de servidores civis, e por apoiar a repressão policial contra uma greve de professores e profissionais de saúde.

Embaló também tem defendido uma reforma da Constituição do país. Segundo críticos, a mudança constitucional tem por objetivo concentrar poderes nas mãos do presidente.

O autoritarismo do líder guineense faz com que opositores o acusem de tentar implementar uma ditadura no país.

Militar da reserva, Embaló disse em entrevista recente ver Bolsonaro como uma inspiração.

“O vice-presidente do Brasil [Hamilton Mourão] disse-me durante a cimeira [cúpula] da CPLP [Comunidade dos Países da Língua Portuguesa], em Luanda, que o Jair Bolsonaro decidiu candidatar-se à Presidência brasileira por entender que o Brasil não podia correr mais riscos. Porque os civis não se entendem”, afirmou Embaló em 20 de julho, segundo o serviço em português da Deutsche Welle, rede pública de comunicação da Alemanha.

Guiné-Bissau é uma ex-colônia portuguesa, que faz parte da CPLP.

“Então, [Bolsonaro disse:] vamos concorrer às presidenciais e, se ganharmos, vamos pôr ordem no Brasil”, disse o presidente guineense ainda de acordo com o portal alemão. Embaló afirmou feito a mesma coisa em seu país.

A cúpula da CPLP ocorreu em meados de julho, na capital de Angola.

De acordo com Alexandre dos Santos, professor de África no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Embaló usa a associação com Bolsonaro para defender suas ações de política interna.

Ele citou o presidente brasileiro para justificar a militarização de seu governo, ao afirmar que os fardados estão preenchendo diversos cargos no Estado para lidar com problemas para os quais os civis não encontraram solução, como a corrupção.

Além do mais, disse Santos, Embaló usou a retórica de Bolsonaro ainda na campanha presidencial, ao se apresentar como um postulante contra a “velha política”.

Se a visita se concretizar, Embaló deve encontrar em Brasília um cenário diferente do que o descrito por ele para a população guineense.

Acuado por uma crise de popularidade e com sua reeleição ameaçada, Bolsonaro selou uma aliança com o centrão, que, na prática, reduziu o poder da ala militar do governo.

Na avaliação de Santos, a eventual visita a Brasília representará um ganho político expressivo para Embaló e deve ser explorada pelo guineense.

“Para o Bolsonaro não vai fazer diferença alguma, porque ele vai receber alguém com quem apenas tem proximidade ideológica. Quem vai ganhar muito é o Embaló, porque vai usar a viagem para defender suas posições ideológicas internamente, o que é muito ruim para a democracia de Guiné-Bissau”, afirmou.

O convite ao líder guineense ocorre na mesma semana em que Bolsonaro foi criticado por ter recebido no Palácio do Planalto a líder de ultradireita alemã Beatrix von Storch. Ela é neta de um ex-ministro das Finanças do governo do nazista Adolf Hitler.

Folha  

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