Aziz diz ser fácil indiciar Roberto Dias

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Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Na presidência da CPI, Omar Aziz tem um jeito caótico e uma mesa sempre bagunçada. “Às vezes o Randolfe, que deve ter algum transtorno obsessivo compulsivo, chega lá mesa da presidência quando dou uma saída e vai deixando tudo certinho, no lugar. Aí eu volto e digo pra ele: ‘meu irmão, agora eu tô lascado pra achar as coisas, porque sou desarrumado'”, diz.

Pela montanha de dados que coletou, e da importância política que tomou, ao descortinar suspeitas de corrupção no coração do Ministério da Saúde durante uma pandemia que já matou mais de 550 mil brasileiros, a comissão, que deveria ter encerrar seus trabalhos em 7 de agosto, teve prazo prolongado até outubro — e recomeça nesta terça-feira (3), com a volta do recesso parlamentar.

Sentado no escritório de sua casa em Manaus, Omar Aziz acompanha os desdobramentos da CPI pelo grupo de WhatsApp “Filhos do Otto e Tasso”. São conversas sobre os dois terabytes de informações que caíram no colo dos oito senadores que participam das sete linhas de investigação.

De vez em quando, alguém liga para avisar que vai mandar algum material importante. “Ok, obrigado, caboclo véio!”, responde ele.

Aqui, o senador comenta alguns dos momentos de maior voltagem que viveu nos últimos meses:

TAB: Do que se arrepende de ter feito na CPI?
Omar Aziz: O único arrependimento: não seria agressivo de novo com o senador Eduardo Girão [em uma das seções, Aziz chamou o colega do Podemos do Ceará de “oportunista pequeno” que “não entende patavina de saúde e quer impor a cloroquina na cabeça da população”]. Pedi desculpas a ele. Não era meu papel naquele momento e não era para tanto. Ele tem uma fé espírita muito forte, acho que fui deselegante. Embates, tem muitos, mas aí foi outra coisa.

TAB: Quais foram os momentos de maior voltagem dos últimos meses?
OA: A prisão do Roberto Dias, claro. O cara mentiu muito, muito. Antes da sessão, tínhamos informações sobre um dossiê que está nas mãos do primo dele na Espanha, Ronaldo Dias — tanto é que ele nunca desmentiu isso. Eu dei várias oportunidades para ele falar: ‘senhor Roberto Dias, por favor, contribua’. No final, percebemos que os governistas tinham feito uma proteção em torno dele. Quer dizer: o cara sai do governo do presidente que se diz o grande defensor da anticorrupção, por indício de pedir propina. E você vê o governo defendendo esse cara? É porque ele tinha muita coisa a falar, não quis dizer. Tem coisas gravíssimas que a gente sabe sobre ele. Não vai ser difícil de provar, então vamos aguardar os acontecimentos.

TAB: Por que só mandou prender o Roberto Dias, se um monte de gente mentiu na CPI?
OA: Esse negócio de prender… Se você visse a quantidade de pessoas que diziam, inclusive nas redes sociais, para prender o Fábio Wajngarten [ex-secretário de Comunicação da Presidência, que prestou um tenso depoimento em maio]. Mas eu respondi: “esse cara deu a maior contribuição, a CPI estava patinando antes dele”. Levou aquela carta [a oferta de vacinas da Pfizer, que ficou sem resposta] e o senador Randolfe, que é um cara muito perspicaz e saca as coisas na hora, pá!, percebeu imediatamente que era uma grande contribuição. Hoje, com as peças sendo jogadas, você está vendo que o Brasil não quis comprar a Pfizer mas se interessou pela Covaxin, uma vacina mais cara. Tenho colegas delegados que uma hora querem que prenda, outra hora querem que não, como o Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Ou o Fabiano Contarato (Rede-AP), um grande amigo, um cara muito corajoso. Às vezes ele chega lá, passa dois minutos e diz: “presidente! O senhor tem que prender, por causa do artigo tal e tal”. Bota fogo, vai embora e me deixa lá.

TAB: Quem foi o depoente mais desprezível?
OA: A pessoa que eu prenderia sem nenhuma dor na consciência é o Carlos Wizard [empresário que, amparado por uma decisão do STF, recusou-se a responder às 45 questões elaboradas pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL)]. Um verdadeiro cretino, um imbecil, um desumano que ri das pessoas que morreram desse vírus que está causando dor em mais de 500 mil famílias brasileiras.

TAB: O que é briga de verdade e o que é catimba de parlamento?
OA: A composição da CPI, na verdade, tem bons quadros. O Marcos Rogério, por exemplo, é um quadro. A gente tem uma ótima relação [em um dos muitos quebra-paus com o senador governista, Omar Aziz foi chamado de “chefe do circo” e, virando para o relator Renan Calheiros fora do microfone, comentou: ‘rapaz, ainda vou encontrar com esse cara e ‘quebrar ele’ todinho’]. O Parlamento é isso: ele defende uma coisa que se contrapõe a outra que todos nós defendemos. Agora, se ele puder atrapalhar, ele atrapalha. Assim como eu também atrapalho o dele! Tenho um carinho enorme pelo Luis Carlos Heinze (PP-RS). Todos chegam ali com seus méritos – não adianta querer desmerecer ninguém. A composição tem o momento de tensão, mas uma hora baixa a temperatura e sempre vai para o equilíbrio.

TAB: Por que o senhor deixava o senador Flávio Bolsonaro chegar ao fim da seção, puxando briga?
OA: Muita gente fala desse negócio do Flávio. Veja, ele chega ali às 8h30 e se inscreve para conseguir falar só às 18h. Ele é um senador e as pessoas querem vê-lo como filho do presidente – para mim, tem uma diferença muito grande. Se o Randolfe, o Marcos Rogério e o Renan intervêm, por que ele, como senador, não poderia? Aí o pessoal diz: “manda calar a boca”. Não é assim. Um dia ele foi querer falar sem máscara, aí eu falei: “coloca a máscara”. Ele disse que estava embaçando os óculos e tal. Mas eu não analiso a pessoa ali como se estivesse querendo desrespeitar alguém. Já teve bate-boca dele com o Renan, isso é natural, é normal. As meninas, as senadoras muito presentes e combativas na CPI, por exemplo, não baixam a cabeça, vão para a porrada.

TAB: A CPI vai acabar em pizza?
OA: Em um primeiro momento, todo mundo tentou desqualificar a CPI, havia uma desconfiança muito grande inclusive por parte da imprensa. Eu sempre digo: essa CPI é diferente, não é aquela coisa abstrata, segmentada como a dos Correios, em que você chega no feirante e diz: “ah, é tudo ladrão”. CPI que investiga corrupção, quando chega às falcatruas, elas cessam – porque um sujeito para de falar com o outro. Essa não, essa está na nossa casa. Todos nós brasileiros perdemos alguém, ficamos assustados, queremos saber como chegamos a esse ponto.

Uol

 

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