Mídia americana tem saudade de Trump

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Os números seguem castigando os canais de notícias nos EUA, desde a saída de Donald Trump no final de janeiro. A MSNBC perdeu 38% dos espectadores, na média diária, do primeiro para o segundo trimestre, segundo a Nielsen. Fox News, 10%.

A maior vítima é a CNN, que perdeu mais da metade, 51% (53% no horário nobre). Talvez o quadro ajude a explicar a cobertura mais próxima dos democratas, como a Fox com os republicanos.

Paralelamente, o site Daily Beast noticia que a maior audiência da MSNBC, apresentadora Rachel Maddow, estuda deixar o canal no fim do ano, indo para streaming.

O colunista de mídia do New York Times, Ben Smith, já vê os canais em “declínio terminal”. Mas o desafio não se restringe à TV paga.

O próprio NYT vem de divulgar os resultados do segundo trimestre, com destaque de ter atingido 8 milhões de assinantes. E para a projeção de que chegará no ano a 8,5 milhões, acrescentando em 2021 tantos assinantes como em 2019, “quando Trump dominava as manchetes”.

Acontece que para chegar aos 8 milhões foram acrescentadas no trimestre 142 mil assinaturas digitais —das quais “45% foram para Cooking, Games e o aplicativo de áudio Audm”, anota o Nieman Lab, “o restante assinou notícias”.

É a proporção mais alta já alcançada por “não notícias” (non-news) e indica como pode ser a vida pós-Trump. Antes de mais nada, confirma que muito do “Trump bump”, o solavanco de cinco anos que disparou as assinaturas nos EUA, não foi propriamente por notícia.

A dose diária do ex-presidente era similar à de “reality show”, não o que se costuma chamar de informação. Culinária e games são parte da saída buscada agora pelo NYT, para seguir sem ele, mas há outras.

Uma, noticiada pelo Wall Street Journal, é a negociação para adquirir o site The Athletic, bem-sucedido na cobertura de esportes concentrada em clubes, que acrescentaria mais de um milhão de assinantes ao NYT. Mas ela teria sido suspensa por divergência sobre preço.

Noutra direção, o jornal acaba de anunciar seu clone de Substack, a plataforma de newsletters de conteúdo mais personalizado, que vinha tirando profissionais do próprio NYT. Para tanto, já tirou Peter Coy, referência na cobertura americana de tecnologia, da Bloomberg.

DESERTOS DE NOTÍCIAS
Com a imagem da capa de 25 de julho de 1889 do Edmond Sun (acima), de Oklahoma, o site de mídia Poynter noticia que 85 Redações locais foram fechadas desde o início da pandemia nos EUA, desaparecendo títulos como Journal-Express, de Iowa, fundado por um amigo de Abraham Lincoln.

Uma pesquisadora da Universidade da Carolina do Norte diz que com isso “você perde o jornalista que iria aparecer na reunião do conselho escolar, na reunião do comissariado de polícia”, ou seja, as comunidades perdem transparência e cobrança.

Folha de SP