Roberto Jefferson subverte legenda criada por Getúlio Vargas

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Foto: Reprodução

Para tentar surfar a onda bolsonarista e se apresentar como um partido conservador na eleição de 2022, o PTB promoveu uma guinada em sua orientação política, alterou seu estatuto e expurgou quadros históricos. Lideranças que deixaram a legenda acusam o presidente Roberto Jefferson de ter levado a sigla para a extrema-direita.

O novo estatuto da legenda, aprovado em novembro do ano passado, tem como lema “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, defende o direito ao porte de arma e condena o aborto. Diz ainda que a União deve atuar apenas na saúde preventiva dos cidadãos e que o Estado poderá participar do ensino superior, mas terá de ser reembolsado pelos formados.

Além das sinalizações programáticas, Jefferson tem promovido a filiação de nomes vinculados a Bolsonaro nos estados e ainda sonha com a entrada do próprio presidente. O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), preso após ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), foi convidado a entrar na sigla — a entrada não chegou a ser formalizada —, assim como o ex-ministro Ernesto Araújo e Mayra Pinheiro, secretário de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, conhecida como “Capitã Cloroquina”.

Os comandos de pelo menos 11 diretórios estaduais foram trocados. Mesmo que Bolsonaro decida se filiar a outra legenda, está certo, segundo o seu presidente, que terá o apoio do PTB.

— Não reconheço o Roberto Jefferson. Ele transformou o partido numa seita . Acha que vai fazer o maior partido conservador do ocidente, mas vai acabar com o partido — diz o ex-deputado Alex Canziani, que foi filiado ao PTB por mais de 30 anos e presidia o diretório do Paraná.

Filha de Alex, Luisa Canziani é deputada federal e ingressou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com pedido para deixar a legenda antes da janela partidária de março do ano que vem. O pai da parlamentar acredita que, dos dez deputados da bancada, devem ficar três ou quatro.

— O partido está completamente fora do que foi a vida inteira. Hoje, é direita radical, extrema-direita — lamenta Alex.

Entre os quadros históricos, também deixaram o PTB o ex-senador Armando Monteiro (PE) e o ex-deputado Benito Gama (BA), que chegou a ocupar a presidência da legenda no período em que Jefferson esteve preso por causa da condenação no escândalo do mensalão.

Para Alex, Jefferson se empolgou quando passou a se alinhar a Bolsonaro.

— Acho que isso o encantou, porque voltou a ter um protagonismo que não tinha mais.

Em São Paulo, Campos Machado era a principal liderança do partido nos últimos 30 anos, mas migrou para o nanico Avante.

— Era um irmão de fé. A gente jogava junto em tudo. Esteve doente, ficou muito depressivo. Quando voltou, era outro Roberto. Hoje, o grande inimigo dele é a China — afirma Campos.

No lugar dele no comando PTB de São Paulo, assumiu o empresário Otavio Fakhoury, apoiador de Bolsonaro e investigado no inquérito das fake news. A sua posse no fim do mês passado, com a presença de Jefferson, foi marcada por discurso repleto de ataques aos ministros do STF e questionamentos sobre a eficácia das vacinas contra a Covid-19. Boa parte dos presentes na sede do partido na capital paulista não usava máscara, mesmo com o auditório lotado.

Fundado em 1945 por Getúlio Vargas no final do Estado Novo, o PTB foi concebido para ser o partido que representaria o trabalhador brasileiro em alternativa ao comunismo do PCB, que tinha grande influência no movimento sindical da época.

Depois do suicídio de Vargas, em 1954, o partido voltaria ao poder com João Goulart, o presidente deposto pelo golpe de 1964. A ditadura militar extinguiu a legenda juntamente com todas as outras.

Com o fim do bipartidarismo, no começo da década de 1980, houve uma disputa pela sigla PTB entre os grupos de Yvete Vargas, sobrinha-neta de Getúlio e ex-presidente do diretório de São Paulo, e de Leonel Brizola, herdeiro político de Goulart. A Justiça acabou se decidindo por Yvete, e Brizola fundou o PDT.

Após a redemocratização, o PTB adotou uma linha mais de centro com participação nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula (PT) e Michel Temer, enquanto o PDT tem atuação mais à esquerda.

No estatuto do PTB que esteve em vigor até o ano passado, a carta-testamento de Getúlio era considerada como um dos símbolos do partido. A nova versão excluiu o documento. Nas 106 páginas atuais, Getúlio é citado apenas três vezes.

— No estatuto novo, tem vários parágrafos que são contra o que o Vargas fazia. A gente se coloca, por exemplo, contra a Justiça do Trabalho, que é criação do Vargas. Não há estatuto mais conservador, mais de direita, do que o do PTB — afirma o empresário bolsonarista Otavio Fakhoury, que assumiu o comando do diretório de São Paulo.

O PTB filiou recentemente representantes da Frente Integralista Brasileira. Liderados por Plínio Salgado, integralistas tentaram golpe contra Vargas em 1938.

— Nem sei quem são esses caras. Até onde eu sei, não vão chefiar nada — diz Fakhoury.

O empresário nega que o PTB tenha se radicalizado.

— Não tem nada de radical. Isso é um truque. Hoje na esquerda ninguém é chamado de radical. É uma técnica para vilanizar um lado — afirma.

O Globo 

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