Salles, Araújo e Weintraub serão candidatos

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Foto: Andre Ribeiro/Brazil Photo Press/.

Sumido dos holofotes desde que pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente, Ricardo Salles reapareceu no domingo 1º, na manifestação bolsonarista em prol do voto impresso, na Avenida Paulista. A volta foi em grande estilo. Andou entre os manifestantes, distribuindo cumprimentos e selfies, e subiu no carro de som do Movimento nas Ruas, onde discursou rapidamente a favor da auditagem analógica das urnas eletrônicas ao lado da deputada Carla Zambelli (PSL-SP). A grande estrela do ato era o presidente Jair Bolsonaro, que falou ao vivo com a multidão de um telão instalado no trio, mas Salles não ficou muito atrás no quesito tietagem, comprovando que tem um considerável cacife entre os seguidores do capitão, a despeito de ter saído bastante chamuscado por sua passagem no governo, sendo chamado por críticos de antiministro do Meio Ambiente.

Para tentar transformar esse crédito em votos, Salles está em tratativas avançadas com o PTB a fim de se lançar candidato à Câmara dos Deputados em 2022. Ex-filiado do PFL, DEM, PSDB e Novo, Salles já tentou se eleger ao Legislativo municipal, estadual e federal quatro vezes — o máximo que chegou foi a suplente de deputado federal em 2018. Ele puxa o cordão que pode ser chamado de “a volta dos que não foram”. O carro abre-alas conta também com a presença do ex-chanceler Ernesto Araújo e do ex-titular da pasta da Educação Abraham Weintraub. Em comum, são todos ex-integrantes do núcleo mais ideológico do Palácio do Planalto. O fato de vestirem tanto essa camisa em prova de fidelidade ao mundo particular de Bolsonaro acabou se transformando em um tiro no pé. Precisando de uma base de apoio político mais forte para chegar vivo até 2022, o capitão teve de rifar esses soldados, mas eles continuam mantendo boas relações com o bolsonarismo e contam com isso para seus planos futuros.

A exemplo de Salles, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo também marcou presença no protesto de domingo pró-voto impresso, mas em outra localidade: a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Ali, declarou que está “apoiando a pauta conservadora com o presidente”. Dois dias depois, Araújo fez uma visita ao diretório do PTB de Brasília acompanhado do presidente da sigla, Roberto Jefferson, que o convidou a ingressar no partido. Diferentemente de Salles, que sempre desejou ser eleito ao Legislativo, Araújo nunca quis seguir esse rumo, mas mudou de ideia depois que percebeu que lhe restaram poucas opções na carreira diplomática.

Outro ex-ministro que possui fã-clube cativo entre os bolsonaristas e tem se articulado para as eleições de 2022 é Abraham Weintraub. Ele só não foi à manifestação de domingo porque está morando nos Estados Unidos. Mas os seus apoiadores fizeram questão de levar cartazes com imagens dele ao lado da frase dita na famosa reunião presidencial de 22 de abril (“Eu por mim botava esses vagabundos na cadeia, começando no STF”). Ao contrário dos colegas, Weintraub não quer o Legislativo. Sua ambição é concorrer ao governo de São Paulo. Intermediários do ex-ministro da Educação chegaram a procurar recentemente algumas legendas nanicas para discutir a filiação dele, como o PTC, mas receberam um “não” diante da exigência de entrega do diretório paulista ao comando da turma de Weintraub. Com as opções cada vez menores e a aproximação do pleito, o ex-ministro seguiu o mesmo caminho de Salles e Araújo e agora conversa com o PTB.

Do velho Partido Trabalhista Brasileiro, que foi idealizado em 1945 pelo ex-presidente Getúlio Vargas (nas palavras do próprio, para servir de “anteparo entre os sindicatos e os comunistas”), não sobrou quase nada. Nos últimos tempos, o dono da sigla, o mensaleiro Roberto Jefferson, passou a estruturar o partido que comanda há mais de treze anos (cedeu o cargo à filha, a ex-deputada Cristiane Brasil, em 2014, quando foi preso no caso do mensalão, mas depois o retomou em 2016) especialmente para abrigar os bolsonaristas “sem-teto”. “Nós limpamos a casa e enchemos a geladeira para a chegada deles”, descreveu um dirigente que participou ativamente do projeto de transformação. Jefferson reformulou o estatuto com o lema “Deus, pátria e família” e iniciou o expurgo de velhos caciques, como o deputado estadual de nove mandatos Campos Machado e o ex-ministro Armando Monteiro. E, na última semana, consagrou a guinada ao conservadorismo de direita ao entregar o diretório mais importante, o de São Paulo, nas mãos do empresário Otávio Fakhoury, figura ilustre no meio bolsonarista. “O PTB foi o único partido que abriu as portas incondicionalmente para nós”, diz Fakhoury. “Recebi carta branca para fazer os movimentos e mudanças necessárias para atingirmos essa condição de partido de direita conservadora do país.”

Dentro dessa linha política, os ex-ministros de Bolsonaro caem como uma luva. Conforme os dirigentes do PTB planejam, a estratégia é transformá-los em cabos eleitorais para quintuplicar a bancada no Congresso, chegando a cinquenta deputados. Além de apoiador incondicional do presidente, um dos pré-requisitos fundamentais é ser inimigo do Supremo Tribunal Federal, como o próprio Jefferson (condenado a sete anos no âmbito do mensalão), Weintraub (alvo do inquérito dos atos antidemocráticos), Salles (investigado em dois inquéritos por associação com madeireiros ilegais) e Fakhoury (também investigado por financiar atos antidemocráticos). O partido ainda pretende lançar ao Senado o deputado Daniel Silveira (pelo Rio de Janeiro) e o jornalista Oswaldo Eustáquio (pelo Paraná), que foram presos por ameaçar ou confrontar o Supremo. “O Jefferson também deixou a porta aberta a Bolsonaro e, se ele não quiser, pode lançar o vice pelo partido”, diz o advogado do PTB, Paulo Fernando Melo, que é um dos principais auxiliares de Jefferson. Só na última semana, Bolsonaro teve dois encontros presenciais com dirigentes petebistas, um durante a inauguração de um hospital em Presidente Prudente (SP) e outro no Palácio do Planalto, em reunião fora da agenda oficial. O objetivo maior da turma agora é convencer Eduardo Bolsonaro, o filho Zero Três, a migrar para o PTB.

Na teoria, parece um ótimo negócio a energia gasta pelo partido com essas movimentações, assim como as esperanças dos ex-ministros em pegar carona no nome do presidente. Na prática, o plano tem alguns problemas. Especialistas avaliam que a onda bolsonarista vista em 2018 pode não se repetir no próximo ano. “Tendo a achar que será mais igual a 2020 do que a 2018”, diz Sérgio Praça, professor de ciências sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), referindo-se à última eleição municipal, em que boa parte dos candidatos apoiados pelo presidente colecionou insucessos, como o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella e o deputado federal Celso Russomanno. Como agravante, a popularidade do presidente encontra-se hoje em um ponto muito mais baixo. De qualquer forma, Sérgio Praça aposta que o movimento bolsonarista ainda tem força suficiente para levar alguns nomes ao Congresso. “Para um cargo majoritário é mais difícil”, completa o cientista político.

Não por acaso, a pretensão de Weintraub é a mais difícil de se concretizar. O ex-ministro enfrenta resistência até dentro do bolsonarismo para se candidatar ao Palácio dos Bandeirantes. Isso porque o próprio presidente já lançou pelo menos em três oportunidades a candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e encomendou pesquisas para saber o seu desempenho no estado. Para Bolsonaro, essa eleição é fundamental na estratégia de minar a força do arqui-inimigo, o governador paulista João Doria (PSDB). Freitas ainda reluta em abraçar a missão, ao contrário dos ministros Onyx Lorenzoni (Trabalho), Gilson Machado (Turismo) e Fábio Faria (Secom). Com o apoio do chefe, eles se preparam para disputar o governo de seus respectivos estados, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Dentro ou fora do governo, os “generais” da tropa bolsonarista vão marchar em bloco no pleito de 2022.

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