Sérgio Reis: de ídolo sertanejo a bolsonarista investigado

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Foto: Silvana Garzaro

Menos de uma semana depois de o cantor Sérgio Reis convocar manifestação a favor do presidente Jair Bolsonaro e pelo impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o artista e ex-deputado foi alvo de buscas da Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, 20. As ordens, no total de 29 mandados, incluindo outros alvos, como o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), foram expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, a pedido da Procuradoria-Geral da República.

Famoso por sucessos como “Menino da Porteira” e “Pinga Ni Mim”, o cantor e ganhador do Grammy Latino enveredou para a política em 2014, quando foi eleito deputado federal, aos 74 anos, graças graças à alta votação de Celso Russomanno (PRB), que acabou puxando o sertanejo, para a Câmara.

Mas como o cantor que foi ídolo da Jovem Guarda virou um dos porta-vozes do bolsonarismo e investigado pela PF por “incitar a população” a praticar “atos violentos e ameaçadores contra a democracia, o Estado de Direito e suas instituições, bem como contra os membros dos Poderes”?

O estopim foi justamente o vídeo e áudio que circularam no fim de semana nas mídias sociais prometendo uma greve de caminhoneiros a partir de 7 de setembro. Confira a trajetória política de Sérgio Reis e os desdobramentos que o colocaram na mira da PF:

Sérgio Reis foi eleito deputado federal pelo Estado de São Paulo em 2014, pelo PRB, atual Republicanos. A entrada para política, com 45.330 votos, veio após 60 anos de carreira na música.

Na Câmara, o então deputado se aproximou ainda mais do campo, a partir da participação em comissões relacionadas ao agronegócio. Em 2018, quando o então colega de Câmara Jair Bolsonaro foi eleito presidente, Sérgio Reis não tentou a reeleição. Após deixar o cargo, ele declarou que seu propósito na política era “retribuir o povo”

As pautas defendidas por Sérgio Reis na Câmara já colocavam o cantor como um “bolsonarista em potencial”. Estiveram, por exemplo, entre as bandeiras do sertanejo, a redução da maioridade penal e a moralização da política.

Relação com políticos
A boa relação do cantor com políticos veio antes mesmo de sua eleição. Em 2014, ele afirmou ter amizade com nomes que vão dos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin a Lula, que, segundo o cantor, ia a seus shows.

Um ano antes da última eleição presidencial, o cantor já declarava abertamente seu apoio a Bolsonaro. Em vídeo publicado em 2017 pelo atual presidente da República, Reis afirmava: “Precisa de um linha-dura? É Bolsonaro”. Na gravação, em que também defende o porte de arma, o cantor disse “gostar” de Bolsonaro e que ele seria capaz de “botar a casa em dia”, pois tem “pulso firme”.

No último sábado, 14, o cantor deixou explícita a tentativa de atuar como porta-voz do governo Bolsonaro. Em áudios e vídeos que circularam nas redes sociais, Sérgio Reis convoca caminhoneiros e ruralistas para uma manifestação em 7 de setembro pelo impeachment de ministros do STF — tema que o próprio presidente da República quer propor ao Senado — e pelo voto impresso, pauta que já foi rejeitada em votação no plenário da Câmara dos Deputados.

“Nós vamos parar 72 horas. Se não fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País, não vai ter nem caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro”, disse Reis em uma reunião, em Brasília, com representantes do agronegócio, sentado ao lado do presidente da Aprosoja, Antonio Galvan. “Nada vai ser igual, nunca foi igual ao que vai acontecer em 7, 8, 9 e 10 de setembro, e se eles não obedecerem nosso pedido, eles vão ver como a cobra vai fumar, e ai do caminhoneiro que furar esse bloqueio”, ameaçou Reis no vídeo.

Em um dos áudios, o cantor sugere que o movimento conta com apoio financeiro para manter os manifestantes hospedados e alimentados em Brasília por mais de um mês. Seria uma forma de forçar os senadores a aprovar o afastamento dos ministros do STF e o voto impresso. O artista dá a entender que o presidente Jair Bolsonaro apoia o movimento.

Como mostrou o Estadão, líderes da categoria negaram ter definido qualquer manifestação política ou paralisação nessa linha.

Três dias após o chamado à paralisação, o cantor virou alvo de uma representação assinada por 29 subprocuradores da República, que pediram a abertura de investigação para apurar se o artista cometeu crimes como incitação à subversão da ordem política ou social e incitação ao crime. O documento foi enviado na terça-feira, 17, à Procuradoria da República no Distrito Federal.

Os subprocuradores argumentaram que é preciso considerar o contexto recente de ‘ameaças de ruptura institucional’ e “desrespeito à independência dos Poderes e de seus integrantes”.

“(…) O movimento que está sendo organizado por Sérgio Reis pretende obstruir rodovias, fechar portos, aeroportos e impedir a livre circulação de pessoas e bens, a fim de pressionar o Congresso Nacional a implementar o voto impresso para o próximo pleito e, também, processar o pedido de impeachment de Ministros do Supremo Tribunal Federal. Extrai-se, ainda, que, caso os pedidos não sejam acolhidos no prazo estipulado, haverá uma tentativa de subversão da ordem mediante o uso da força e da violência”, diz um trecho da representação.

Após a repercussão dos vídeos e áudios — e no contexto da guerra travada entre o Palácio do Planalto e o STF — o cantor e o deputado bolsonarista Otoni de Paula foram alvo, na manhã desta sexta-feira, 20, de mandados de busca e apreensão da PF.

As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, a pedido da PGR.

Ao todo são cumpridos mandados de busca e apreensão em 29 endereços. De acordo com a corporação, as diligências são realizadas no Distrito Federal, e nos Estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Ceará e Paraná.

O Estadão apurou que pelo menos um empresário do agronegócio, que estaria financiando o movimento, também é alvo das buscas. Trata-se do produtor rural Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja. Galvan participou de encontro em que Sérgio Reis apresentou a proposta de convocar a paralisação das atividades dos caminhoneiros, em defesa do voto impresso e contra os ministros do STF.

Como mostrou o Estadão, a proximidade do cantor com o setor de transportes inclui o repasse de R$ 398,2 mil em verbas de origem pública que são repassadas a entidades de transportes ligadas ao Sistema S.

Ele recebeu os pagamentos para divulgar ações do setor em suas mídias sociais entre janeiro e setembro de 2020, pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).

Cada uma das duas entidades fez depósitos de R$ 18,1 mil mensais à empresa do cantor, chamada Sérgio Reis Produções e Promoções Artísticas Ltda. Os pagamentos constam da prestação de contas do Sest/Senat para 2020, e se referem à divulgação de iniciativas das entidades nas redes sociais de Sérgio Reis, como o Facebook e o Instagram.

Estadão

 

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