Vacinação incompleta torna perigoso liberar aglomerações

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Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Nos últimos dois anos, quem escapou dos piores efeitos da Covid-19 tem corrido o risco de bater as botas apoplético de raiva, diante da absoluta incapacidade de aprender com os erros do passado demonstrada por gente poderosa.

O problema é ainda pior no Brasil porque, em diversos momentos, as coisas aconteceram mais tarde por aqui do que em outros lugares do mundo. Isso significa que, em tese, tivemos tempo para ver o que funcionou e o que foi desastroso em outros países –e, no entanto, insistimos nos mesmos erros ou somamos a eles os nossos, frequentemente ainda piores.

Chamo a atenção do gentil leitor para o que se deu após a primeira fase da vacinação em massa em países como Israel e os EUA neste ano, por exemplo. Ambas as nações ultrapassaram com relativa rapidez a marca de 50% da população adulta vacinada, o que trouxe uma redução marcante dos casos graves de Covid-19 e das mortes causadas pela doença.

Tudo lindo, não é? A pandemia parecia estar prestes a ser derrotada nesses locais. As restrições foram caindo, uma a uma, até que as máscaras pararam de ser exigidas mesmo em espaços fechados. (Em outras circunstâncias, eu faria aqui uma piada sobre a bagunça regional dos EUA, onde cada estado fez e desfez regras sobre o tema de forma independente, ao sabor das tretas ideológicas e políticas do país, mas a nossa mixórdia nesse sentido tem conseguido superar a americana.)

Bem, neste começo de agosto de 2021, Israel voltou a falar em lockdowns, enquanto os EUA tentam se virar nos trinta diante do avanço da variante delta, forma mais transmissível do Sars-CoV-2, coronavírus causador da doença. Em ambos os locais, a relutância de parte da população tem impedido que as vacinas protejam mais pessoas.

Ficou claro que o “liberou geral” das máscaras foi prematuro e temerário. Não que isso não pudesse ser inferido antes mesmo da chegada arrasadora da variante delta: vírus que afetam as vias respiratórias superiores costumam se espalhar com facilidade, e tudo indica que será preciso vacinar uma porcentagem bastante elevada da população para de fato estrangular os grandes surtos de Covid-19.

Recorde ainda que a infecção natural pela doença muito provavelmente protege menos os recuperados de adoecerem do que a vacinação, e que mesmo essa suposta “proteção natural” muitas vezes é transitória, por causa do aparecimento de novas variantes do vírus.

A soma desses fatores mostra que foi uma tremenda ideia de jerico anunciar quatro dias de festa no Rio de Janeiro para celebrar o “fim da pandemia” em setembro, como fez o prefeito Eduardo Paes (PSD). Paes resolveu se desdizer sobre o tema enquanto eu escrevia esta coluna. Menos mal, mas a bagunça de comunicação pública de riscos causa um estrago muito difícil de ser consertado. E ainda resta explicar onde o prefeito estava com a cabeça para fazer esse tipo de anúncio considerando que, do ponto de vista epidemiológico, setembro é praticamente amanhã –a transmissão da doença tem uma inércia que é dificílima de alterar em apenas um mês.

No momento, temos um único grande trunfo: a população brasileira é uma das mais favoráveis à vacinação no mundo. Seria criminoso jogar essa vantagem fora. É preciso ganhar tempo para a vacinação reforçando o uso de máscaras até o fim do ano, em vez de enfraquecê-lo. Paes e os demais prefeitos do país deveriam gastar o dinheiro das festas na distribuição de máscaras de alta qualidade filtrante para a população, substituindo as improvisadas, de pano. É o único caminho para um 2022 com mais esperança.​

Folha  

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