Bolsonaro e Prevent Senior firmaram pacto pró-cloroquina
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O chamado “gabinete paralelo”, que orientava o presidente Jair Bolsonaro em temas ligados à pandemia, voltou ontem aos holofotes da CPI da Covid durante o depoimento da advogada Bruna Morato. Durante a oitiva, ela relatou que a direção da Prevent Senior buscou aproximação política com os médicos e integrantes do governo que apoiavam o presidente Jair Bolsonaro na defesa do tratamento precoce. Ela representa um grupo de médicos que prepara um dossiê para denunciar as irregularidades e que não foi chamado para depor por se dizerem ameaçados.
Bruna Morato fez um relato das supostas irregularidades da operadora de plano de saúde, o que incluia prescrição do kit covid, a retaliação a profissionais que recusaram a seguir o tratamento precoce, o uso de métodos paliativos para pacientes já em estado grave e a estratégia para reduzir despesas com internações.
A advogada contou que executivos da Prevent Senior chegaram a procurar o Ministério da Saúde, comandado na época por Luiz Henrique Mandetta. O ministro, disse ela, não concordou com as práticas adotadas. Foi, então, que os executivos da empresa recorreram não só a médicos que defendiam o uso de cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada, mas também a integrantes do governo que buscavam alternativas às estratégias do lockdown e da vacinação em massa.
Segundo a advogada, ao buscar conexões políticas, a Prevent Senior dava como certo que não seria fiscalizada ou investigada pelo Ministério da Saúde e órgãos vinculados. Os executivos, disse ela, queriam estabelecer um “pacto” com o chamado “gabinete paralelo. Na sessão da CPI, a advogada citou nomes dos médicos que colaboraram com o governo, entre eles Anthony Wong (falecido este ano de covid), Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto.
Bruna Morato disse que os médicos que criticaram abertamente as práticas duvidosas da Prevent Senior foram demitidos ou sofreram outros tipos de retaliação. Ela contou que, pessoalmente, tem sofrido ameaças anônimas e chegou a ter seu escritório invadido. “Foi uma invasão um tanto assustadora”, comentou, relatando que os invasores chegaram a levar um iPad e um computador. “Não levaram nem provas e nem dossiê, porque não estavam lá”.
Sobre a prescrição do kit covid, a advogada disse que era apresentado um termo de consentimento “genérico”, que era assinado pelo pacientes ou seus familiares. Segundo ela, os pacientes recebiam a informação de que se tratava de um método “novo e eficaz”.
A advogada lembrou que a operadora foi concebida para prestar atendimento ao público idoso. “São parte de uma população vulnerável. Não sabiam que seriam feitos de cobaias. Sabiam que receberiam o medicamento, são coisas diferentes”, argumentou, reforçando que a operadora não detalhava os riscos.
De acordo com a depoente, os médicos da rede Prevent Senior eram orientados a retirar informação de que os pacientes deram entrada nos hospitais com o diagnóstico de covid-19, após 14 dias de internação. Outra denúncia apresentada pela advogada deu conta de que a operadora mantém leitos improvisados em unidade hospitalar, no bairro Vila Olímpia, em São Paulo, voltados para tratamento paliativo. O hospital, disse ela, estaria funcionando sem alvará. “Este prédio comercial sequer tem em seus elevadores a possibilidade de comportar macas”, afirmou.
Além disso, Bruna Morato contou que as equipes do pronto-socorro eram orientadas a sugerir aos familiares de pacientes em estado grave que fosse adotado o tratamento paliativo, em vez de submetê-los à intubação. Com isso, os pacientes com síndrome respiratória aguda grave recebiam bombas de morfina e logo evoluiam para óbito.
No depoimento, a advogada afirmou que os médicos eram orientados a prescreverem o kit de tratamento precoce, que chegava pelo serviço de motoboy. Segundo ela, o procedimento servia para conter número de internações.
“Existia uma orientação expressa para entregar o kit como medida de contenção das internações. Ou seja, entrega o kit e não interna o paciente. Era uma ordem expressa”, afirmou, em resposta ao questionamento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
O parlamentar afirmou que, ao adotar o procedimento para reduzir eventuais custos com UTI, a Prevent Senior dá uma “orientação de base econômica travestida de ciência”.
A advogada afirmou que chegou a ouvir o relato de que a direção da empresa usava a expressão que “óbito também é alta”, o que foi repudiado pelos integrantes da comissão.
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