Bolsonaro “encosta” ministros que substituíram radicais

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Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Em pouco mais de dois anos e nove meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já realizou 29 trocas ministeriais. As mudanças buscam, por vezes, acomodar políticos do chamado Centrão ou ainda por pressão de outros Poderes, forçando o chefe do Executivo a se desvincular da ala mais radical do governo.

O grupo, que tem a tutela do escritor Olavo de Carvalho, considerado o guru do bolsonarismo, é conhecido por ter à frente figuras que abordam, de maneira incisiva e por vezes agressiva, pautas que atacam a ciência, são contra as universidades federais – por, segundo eles, defenderem o comunismo e a legalização da maconha – e a favor do negacionismo dos crimes cometidos durante a ditadura militar.

As constantes mudanças no primeiro escalão do chefe do Executivo fizeram com que Bolsonaro dedicasse menos tempo a pastas que antes eram chefiadas por figuras da ala mais radical e atualmente são comandadas por perfis considerados mais “neutros”.

De acordo com um levantamento feito pelo Metrópoles, que levou em conta as trocas nos comandos dos ministérios da Cidadania; da Educação; das Relações Exteriores; e da Saúde, o mandatário do país diminuiu em 65% o número de encontros com os novos ministros, segundo registros da agenda presidencial.

A pesquisa teve como base o tempo em que cada um dos quatro atuais ministros está no primeiro escalão do governo e comparou o mesmo período com os seus antecessores, retrocedendo da data de saída dos antigos ministros.

Por exemplo, o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está no comando da pasta há 171 dias (número atualizado até 10 de setembro). A reportagem, então, considerou os últimos 171 dias da gestão do militar Eduardo Pazuello à frente do ministério.

A partir dos períodos, a reportagem levantou a quantidade de reuniões que Bolsonaro teve com os respectivos ministros. Foram contabilizadas apenas as agendas privadas, quando não havia a presença de outras pessoas.

Desde que entregou o comando do Ministério da Cidadania ao deputado João Roma (Republicanos-BA), do Centrão, em 12 de fevereiro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o ministro de forma privada em apenas três ocasiões.

Em contrapartida, foram 12 encontros com Onyx Lorenzoni (DEM-RS), antecessor de Roma. Onyx se considera uma pessoa conservadora e religiosa. Crítico da grande mídia e do petismo, ele costuma dizer que Bolsonaro é um “líder de verdade”.

Deputado federal desde 2003, Onyx Lorenzoni é aliado fiel do presidente Bolsonaro desde que eram colegas na Câmara. Em 2018, comandou a transição de governo e iniciou a gestão do presidente como ministro da Casa Civil.

Depois, após descontentamentos de Bolsonaro, foi remanejado para o Ministério da Cidadania, que atualmente é comandado por Roma. O gaúcho ainda passou pela Secretaria-Geral e atualmente chefia o Ministério do Trabalho e Previdência Social.

O atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, se reuniu a sós com Bolsonaro 16 vezes, segundo registros oficiais.

Apesar de Milton ser considerado da ala mais conservadora do governo, dando declarações contra homossexuais e a inclusão escolar de crianças deficientes, por exemplo, o número de encontros com o presidente desde que o pastor presbiteriano assumiu o MEC é bem menor se comparado com o seu antecessor.

Retrocedendo o período, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub teve 41 encontros com o chefe do Executivo. Ele também colecionou polêmicas no período em que chefiou o MEC.

Defensor de Bolsonaro, Weintraub movimentava as redes sociais com publicações que, embora atiçassem a militância bolsonarista, costumavam gerar crises institucionais.

Em uma das publicações mais polêmicas durante sua gestão, o ex-ministro virou alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por racismo contra chineses.

O ex-ministro também foi alvo de outro inquérito no Supremo por chamar os ministros da Corte de “vagabundos”. Após a crise, Weintraub foi demitido.

Quando chegou no Itamaraty, em 29 de março deste ano, Carlos Alberto Franco França tinha a missão de melhorar a imagem do país no exterior. Desde a posse como ministro, no entanto, ele teve apenas três encontros privados com presidente Jair Bolsonaro.

Seu antecessor teve 16 encontros no mesmo período de tempo. Ernesto Araújo fez diversos ataques à China como chanceler do governo Bolsonaro. Na pandemia de coronavírus, por exemplo, publicou um artigo em que chamou a infecção de “comunavírus”.

Além disso, desde que as negociações para a compra de vacinas contra a Covid-19 tiveram início, em dezembro do ano passado, o governo federal, com Araújo no comando do Itamaraty, enfrentou dificuldades para importar doses e insumos necessários para a produção de imunizantes em razão das reiteradas críticas à China.

Logo no início do governo, em março de 2019, o então ministro também fez outra declaração polêmica. Na ocasião, disse que não considerava que houve um “golpe” no país em 1964. Segundo ele, o que houve foi um “movimento necessário” para que o país não se tornasse uma “ditadura”.

Ainda que o Ministério da Saúde esteja em evidência em um momento em que o país enfrenta sua pior crise sanitária em razão da pandemia de coronavírus, Bolsonaro pouco se reuniu, de forma privada, com o atual ministro, Marcelo Queiroga, e seu antecessor imediato, Eduardo Pazuello.

De acordo com registros oficiais, foram quatro encontros com Queiroga desde que ele passou a integrar o primeiro escalão do governo e outros três com Pazuello.

Desde o início do governo Bolsonaro, o Ministério da Saúde já tem seu quarto chefe. O presidente começou o mandato ao lado do também médico Luiz Henrique Mandetta, que permaneceu no cargo de ministro por um ano e quatro meses. A exoneração ocorreu em abril de 2020, ainda no início da crise da pandemia.

Bolsonaro e Mandetta discordavam sobre como lidar com o combate à pandemia. O ex-ministro apoiava medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos, constantemente atacadas por Bolsonaro.

O médico também se negou a endossar o uso geral de medicamentos sem comprovação científica no tratamento da Covid-19, como defendeu o chefe do Executivo no início da pandemia, a exemplo da cloroquina.

Para o lugar de Mandetta, Bolsonaro escolheu o oncologista Nelson Teich, que permaneceu no cargo durante 28 dias. No período em que comandou a pasta, Teich manteve o posicionamento adotado por Mandetta, em defesa do isolamento social e contrário ao uso de medicamentos sem eficácia no tratamento da doença.

O oncologista, inclusive, negou-se a alterar o protocolo do Ministério da Saúde sobre o “tratamento precoce” da Covid-19. Dias depois, já com o general Pazuello no comando interino da pasta, o governo divulgou uma nota informativa com orientações para “manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”.

Durante sua gestão, Pazuello foi criticado pela forma como a pandemia foi conduzida no país. Ele foi acusado de “maquiar” números da Covid-19 ao atrasar a divulgação de boletins e deixar de divulgar números absolutos de casos da doença.

Além disso, Pazuello ainda é investigado por suposta omissão no enfrentamento da pandemia no Amazonas. A investigação tem como foco o colapso da saúde em Manaus, no início deste ano.

Metrópoles

 

 

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