Bolsonaro se agarra ao golpismo como último recurso

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Foto: Adriano Machado / Reuters

Pressionado pela falta de resultados concretos do governo e sem uma saída clara para reverter a queda de popularidade, o presidente Jair Bolsonaro intensificou o apelo a nichos de apoiadores, radicalização simbolizada pela convocação para as manifestações de terça-feira. Levantamento feito pelo GLOBO mapeou 30 das principais promessas de campanha, direcionadas a setores mais amplos e a grupos fiéis — 18 não saíram do papel, nove foram implementadas e três foram entregues em parte. A lista foi feita com base no programa de governo e em declarações.

Uma delas, aposta para mudar a curva acentuada de rejeição identificada pelas pesquisas, é a criação de um programa com valor superior ao do Bolsa Família. Batizada recentemente de Auxílio Brasil, a iniciativa esbarra na falta de espaço fiscal: o Orçamento enviado ao Congresso prevê um valor igual ao do programa criado pelo seu potencial adversário em 2022, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Completam o cenário a desarticulação na relação com os parlamentares — ponto que a adesão do Centrão ainda não equacionou, haja vista a derrota imposta pelo Senado na rejeição da minirreforma trabalhista na quinta-feira — e as desconfianças mútuas entre equipe econômica e coordenação política: auxiliares do ministro Paulo Guedes se queixam da falta de empenho dos colegas do Planalto.

Na economia, área em que Bolsonaro investiu numa roupagem liberal para alargar seu eleitorado em 2018, houve a aprovação da reforma da Previdência, a autonomia do Banco Central e o novo marco do gás. As privatizações, no entanto, patinaram. Em entrevista na campanha, ele disse que extinguiria “no mínimo 50”, mas, durante a gestão, a atuação no setor se limitou a fazer concessões e abrir mão de participação em subsidiárias, caso da BR Distribuidora — uma estatal chegou a ser criada, a NAV Brasil.

As intenções de privatizar a Eletrobras e os Correios esbarram no Congresso — no caso da firma do setor postal, a proposta foi aprovada na Câmara, mas há resistências no Senado. O governo acrescentou itens ao texto, como estabilidade de 18 meses para funcionários e a impossibilidade de fechar agências em áreas remotas por cinco anos, para driblar senadores, mas até agora o projeto não andou na Casa. O texto precisa ser votado até novembro para que o cronograma do governo de privatizar os Correios no começo de 2022 se concretize.

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Sem o indicativo de que terá uma agenda para atrair, em 2022, segmentos do eleitorado que o apoiaram há três anos, com sinais negativos na economia (crise hídrica, queda de 0,1% do PIB no trimestre e inflação em alta) e uma gestão na pandemia criticada pelo elevado número de mortes e a demora na compra de vacinas, Bolsonaro tem direcionado a atenção aos grupos cuja adesão é mais arraigada — 11% dos eleitores compõem o conjunto de quem votou nele em 2018, aprova a gestão e confia em tudo o que fala.

— O contexto político e social, além da pandemia, o deixam em maus lençóis com grupos distintos de apoiadores, então ele aposta na construção de uma narrativa baseada numa ideia de ameaça, de que existe um risco a ser contido — analisa a cientista política Flávia Biroli, da UnB.

O processo de radicalização é simbolizado por declarações (“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô”), gestos — o desfile de tanques em Brasília no mesmo dia em que a Câmara analisou e rejeitou o voto impresso — e atitudes concretas, caso do pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já arquivado pelo Senado. Ontem, o presidente voltou a falar em “ruptura”:

— O Supremo Tribunal Federal não pode ser diferente do Poder Executivo ou do Poder Legislativo. Se lá tem alguém que ousa continuar agindo fora das quatro linhas da Constituição, aquele Poder tem que chamar essa pessoa e enquadrá-la (…) Se assim não ocorrer, a tendência é acontecer uma ruptura.

Para o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, a sequência de acontecimentos indica um “método”:

—Ele precisa criar esses factoides, para que a discussão seja no campo dele. Não é espontâneo. Quando perde uma bandeira, apresenta outra.

Mesmo os setores que Bolsonaro busca atingir mais diretamente, como integrantes de forças de segurança e representantes do agronegócio, não foram contemplados com tudo o que foi aventado na eleição. Flexibilizações em série facilitaram o acesso a armas de fogo, mas o porte seguiu vetado, com exceção para categorias profissionais específicas. A maioridade penal não foi reduzida para 16 anos e, no setor rural, se, por um lado, abrandamento de normas e redução de multas incentivaram a ação de desmatadores, de outro, os choques constantes com outros Poderes levaram entidades do agronegócio a se manifestarem em defesa da democracia, expondo uma fissura.

— A belicosidade do Bolsonaro e essa postura de confronto são decorrentes de uma escolha equivocada de governar sempre na condição de minoria. E isso foi paulatinamente fragilizando o governo, perante Legislativo, Judiciário e sociedade — define o cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getulio Vargas.

O Globo

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