Contabilidade das mentiras e distorções de Bolsonaro chega a 11

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Foto: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apresentou cinco mentiras e seis afirmações distorcidas no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, na sede do órgão em Nova York, na manhã de hoje (21). Bolsonaro desferiu críticas às medidas de restrição contra a covid-19 e fez alegações falsas sobre tratamento precoce, agricultura, benefícios sociais e preservação ambiental.

Conforme publicado pelo UOL Confere, muitas das falas do presidente já foram repetidas em outras ocasiões. Algumas, como as referentes às políticas de preservação da Amazônia, estiveram presentes nos discursos de abertura da ONU em 2019 e 2020.

Outras afirmações de Bolsonaro foram apresentadas sem contexto ou de forma insustentável — ou seja, sem dados públicos passíveis de comprovação. Na lista abaixo constam apenas as declarações falsas e distorcidas:

Mentiras

Inflação
Crítico das medidas de isolamento adotadas para tentar frear a covid, Bolsonaro já mentiu outras vezes sobre elas terem provocado inflação nos preços. Na ONU não foi diferente: ele atribuiu o aumento no preço de alimentos ao lockdown.

Segundo especialistas ouvidos pelo UOL Economia há diversos fatores por trás da alta nos preços, o que inclui a crise hídrica, ondas de frio, alta do dólar, mudanças em logísticas comerciais em todo o mundo, e também a nova política de preços da Petrobras, atrelada ao mercado internacional de petróleo.

Tratamento precoce
Não há medicações com eficácia cientificamente comprovada para estágios iniciais da covid-19, uma das mentiras defendidas por Bolsonaro desde o início da pandemia e repetida novamente, hoje, diante de líderes mundiais.

O CFM (Conselho Federal de Medicina) aprovou um parecer no ano passado dando autonomia aos médicos que queiram receitar as medicações, desde que os pacientes tenham ciência de possíveis efeitos colaterais. No entanto, o conselho não recomenda o suposto “tratamento precoce”.

A hidroxicloroquina, uma das medicações mais citadas pelo presidente, é contraindicada em casos de covid pela OMS, pela Anvisa e pela maioria dos fabricantes brasileiros.

Benefício para preservação do emprego
O presidente errou o valor gasto pelo governo com o programa de manutenção de emprego e renda. Na ONU, Bolsonaro alegou ter gastado US$ 40 bilhões (cerca de R$ 211 bilhões, pelo câmbio atual), quando o custo dos benefícios está mais próximo de R$ 40 bilhões.

Somando os valores de 2020 e 2021, as despesas do Ministério da Economia relacionadas à covid chegaram a R$ 190,7 bilhões, número ainda inferior ao apresentado pelo chefe do Executivo brasileiro.

Fortalecimento de órgãos ambientais
Outra afirmação falsa foi de que os recursos destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais “foram dobrados” — isso sequer aconteceu, já que o aumento do orçamento para o Ibama e o ICMBio está previsto apenas para 2022.

A fala também omitiu que o valor dobrado parte de números já reduzidos: foram cortados mais de R$ 240 milhões do Ministério do Meio Ambiente. O ICMBio apontava restrições financeiras severas em abril, enquanto o Ibama teve reduzido o poder de multas e precisou interromper autuações por crimes ambientais.

Sete de setembro
Ao mencionar os atos de 7 de setembro favoráveis ao seu governo, Bolsonaro disse que “milhões” foram às ruas. Não há dados que corroborem a afirmação, pelo contrário: a estimativa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo aponta que 125 mil pessoas compareceram ao ato da Avenida Paulista.

O maior ato político na região, de acordo com o Datafolha, reuniu 500 mil pessoas em 2016 para pedir o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

Distorções
Governadores e prefeitos
Ainda na cruzada contra o lockdown e as medidas restritivas, Bolsonaro criticou mais uma vez prefeitos e governadores por políticas de isolamento e afirmou que os cidadãos foram “obrigados a ficar em casa”. Na verdade, as medidas mais drásticas tiveram lugar durante poucas semanas ao longo de 2020 e 2021 para tentar aliviar a pressão sobre hospitais superlotados durante picos de notificações da covid.

Energia renovável
Bolsonaro declarou que 83% da geração de energia do Brasil vem de fontes renováveis. No entanto, o percentual corresponde ao uso de fontes renováveis para produzir energia elétrica — e não energia total. Segundo documento da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério de Minas e Energia, as fontes renováveis correspondem a 48,4% do total da matriz energética do país.

Vegetação nativa
O presidente também afirmou que 66% do território nacional é composto de vegetação nativa, que permaneceria “a mesma desde o seu descobrimento”. No entanto, especialistas apontam que isso não significa que as áreas sejam preservadas. O projeto MapBiomas aponta parte do crescimento agropecuário em áreas onde a vegetação nativa foi derrubada.

Amazônia intacta
Na mesma linha da distorção sobre a vegetação nativa, Bolsonaro declarou que “84% da floresta [amazônica] está intacta”. De acordo com especialistas, o predomínio de florestas na região não significa que as áreas estejam intactas.

Reportagem de Ecoa mostra dados da WWF-Brasil, a partir de informações do Inpe, estimando a perda de 19% da área original da Amazônia — que seria de 81%, e não 84%. A diferença de três pontos percentuais, em números absolutos, representa uma área quase igual à do estado do Amapá (quase 800 mil km²).

Uso do território pela agricultura
Bolsonaro afirmou de forma equivocada que 8% do território nacional é utilizado pela agricultura, embora o percentual seja correspondente apenas ao plantio agrícola. A agricultura e a pecuária, juntas, utilizam cerca de 27% do território nacional — números apresentados pelo próprio Bolsonaro em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU no ano passado.

População alimentada pela agricultura brasileira
Outro dado distorcido foi o da população mundial alimentada pela agricultura brasileira. Embora a Embrapa calcule que o Brasil seja responsável por 10% da produção mundial de trigo, soja, milho, arroz e cevada, isso não significa que o valor seja capaz de alimentar 10% da população mundial (cerca 800 milhões), incluindo brasileiros. O cálculo não leva em conta aspectos como desperdício na cadeia produtiva, e nem o fato de que boa parte da produção de soja e milho não é voltada para consumo humano.

Uol 

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