E o 7 de setembro começou dia 6

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Foto: Reprodução

As manifestações de rua convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro em Brasília e em São Paulo para o dia 7 de setembro começaram antes mesmo da data chegar. Na capital federal, a Polícia Militar do Distrito Federal não reagiu ao rompimento do bloqueio de segurança que impedia a entrada dos manifestantes na segunda-feira. Aumenta portanto a possibilidade de episódios de caos e violência, sobretudo em Brasília.

Bolsonaro estará presente no ato da capital federal, pela manhã, e viajará para a capital paulista na sequência. A motivação clara dos atos é pressionar o Judiciário e o Congresso, agravando a crise institucional e montando um cenário que pode levar a uma ruptura.

É improvável que esta estratégia funcione, e nos últimos dias operadores do presidente nas redes sociais se empenharam em pedir moderação aos manifestantes. A aposta no momento parece ser mais em exibir capacidade de mobilização do que saltar no escuro, mas os primeiros movimentos da massa dos militantes, descendo a Esplanada na noite de segunda, deixavam no ar o risco da situação sair do controle.

Não importa se serão milhões ou milhares os que atenderão a convocação presidencial. Serão o suficiente para o bolsonarismo proclamar a sua vitória, ainda que se torne evidente que o isolamento do presidente se aprofunda, como indicam a última pesquisa de opinião e outra de monitoramento de redes sociais, divulgadas na tarde de segunda-feira.

Na pesquisa de intenção de voto, do Atlas Político, o percentual de votos dos que aprovam o presidente (32%) estatisticamente é igual aos que optam por ele na pesquisa estimulada (34,5%) e no segundo turno contra Lula, Ciro e Doria (de 35,9% a 36,3%). Ou seja, Bolsonaro não consegue agregar praticamente nada fora da bolha que o acompanha.

No levantamento da AP Exata e Banco Modalmais, constatou-se na análise de 1,2 milhão de tuítes na última semana que “houve um movimento de concentração em bolhas de apoiadores do presidente”. A correlação entre menções de protesto e grupos específicos, como os de policiais militares, caminhoneiros e evangélicos aumentou.

Para tentar furar a bolha, o bolsonarismo mascarou o caráter anti-institucional das convocatórias. Diminuíram os apelos a que o presidente use o artigo 142 da Constituição Federal para acionar o Exército a intervir no Supremo e no Congresso. Cresceram narrativas de que o que está em jogo hoje é a liberdade de expressão, supostamente ameaçada pelo avanço das investigações a cargo do ministro do STF Alexandre Moraes.

Além de se apropriar da data cívica, o bolsonarismo também pretende avançar sobre mais essa bandeira: a da defesa da liberdade de expressão e das garantias individuais. Tenta-se construir um mundo ao avesso. Os que espalham fake news acusam a imprensa de mentir, os que evocam ditaduras denunciam um avanço autoritário, e por aí vai. O bolsonarismo tenta dar demonstrações de força dizendo-se fraco. O ato em Brasília é sugestivamente chamado pelos seus organizadores de “ homenagem às vítimas da censura e presos políticos pela ditadura de toga”.

Bolsonaro desencadeia um processo que potencialmente pode levar a uma convulsão permanente. Já na quarta-feira, dia 8, ele estará promovendo outro comício em São Paulo, indo inaugurar um posto de atendimento da Caixa Econômica Federal dentro da Ceagesp, comandada por um grupo de PMs bolsonaristas. Também na quarta, manifestantes se programam para entregar sua pauta de reivindicações aos presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco.

A pauta das ruas bolsonaristas, como se sabe, com certeza não será a das reformas econômicas que encontram tanta dificuldade de avançar no Congresso. É a da PEC do voto impresso, dos pedidos de impeachment de ministros do Supremo e outras cortinas de fumaça do mesmo porte. Tentar segurar essas quimeras para seguir tendo o controle da pauta do Legislativo será o desafio da cúpula das duas Casas.

Nada indica também que o Supremo irá afrouxar o laço. Já nesta segunda-feira operações de busca e apreensão da Polícia Federal foram desencadeadas por ordem do ministro Alexandre Moraes, no âmbito do inquérito das atividades antidemocráticas. A menos de 24 horas do ato, as ações foram um gesto por completo, um alerta de que o Supremo não irá se intimidar com os atos desta terça.

O que pode desestabilizar esta espiral de radicalização que é obra e graça de Bolsonaro são os atos de violência ou de provocação. Se extremistas de direita concretizarem um décimo de suas ameaças tendem a desencadear um processo em que o Legislativo cerrará fileiras com o Judiciário e a oposição ficará estimulada a ir para as ruas também. É um cenário que diminuiria rapidamente a governabilidade do presidente.

Valor Econômico

 

 

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