Mercado financeiro compara Lula a Bolsonaro

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Foto: Reprodução

O aumento da preocupação com a situação fiscal do país antecipou no mercado o debate sobre a eleição presidencial do próximo ano. Ouvidos pelo Valor nos últimos dias, dez dirigentes de bancos de varejo, de bancos de investimento, gestores de recursos e economistas que atuam no setor financeiro apontam uma preocupação em comum sobre os dois candidatos que, segundo as pesquisas de opinião, hoje lideram as intenções de voto neste momento: o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em um e em outro caso, a razão para o temor é a mesma: a expectativa de que, diante da polarização da disputa eleitoral, Bolsonaro e Lula respondam com promessas incompatíveis com a situação fiscal do país. As fontes ouvidas sinalizam que essa foi uma das razões para a elevação das taxas de juros de papéis de longo prazo,

Para esses ag[entes do mercado, o presidente indica que pode deixar a disciplina fiscal de lado para aumentar sua popularidade. O exemplo mais citado é a proposta de escalonamento de pagamento de precatórios judiciais para viabilizar o novo Bolsa Família. Recentemente, Bolsonaro acenou com aumento ao funcionalismo e isenção tributária para óleo diesel.

Quanto ao futuro candidato do PT, a dúvida no mercado é saber se, em 2022, prevalecerá o Lula do primeiro mandato (2003-2006), quando se promoveu o maior arrocho fiscal desde o início do Plano Real, ou o do segundo (2007-2010), em que o governo elevou gastos e impostos e legou à sucessora uma inflação pressionada.

Agentes financeiros começaram a trabalhar suas análises considerando um cenário de favoritismo do ex-presidente Lula. Ainda que a esperança de que surja um nome competitivo de centro não tenha desaparecido, parte dos representantes de instituições financeiras já faz cálculos com Lula como o “cenário-base”. E busca informações sobre qual seria a linha de política econômica defendida pelo petista.

O que gerou essa mudança de visão sobre o cenário é que a melhora esperada na economia não aconteceu. E isso enfraquece muito as chances de Bolsonaro se reeleger. A aposta era de que, com a vacinação e a reabertura, a sensação de bem-estar da população estaria em alta. Em vez disso, u aumento da inflação e a piora dos ativos financeiros indicam que a economia não irá ajudar o presidente.

Casas de análise política têm feito exercícios estatísticos para avaliar o impacto da queda de popularidade presidencial. Uma das observações feitas é que, em 300 eleições acompanhadas, o nível de aprovação que viabiliza a reeleição do candidato incumbente é 40%. Bolsonaro tem hoje cerca de 34%. Em seus pronunciamentos públicos, Lula não demonstra preocupação fiscal.

Em um tuíte no dia 17 de junho, por exemplo, fez a seguinte promessa: “A quem interessa o teto de gastos? Aos banqueiros? Ao sistema financeiro? Gasto é quando você investe um dinheiro que não tem retorno. Quando você dá R$ 1 bilhão pra rico é investimento e quando você dá R$ 300 pro pobre é gasto?! Nós vamos revogar esse teto de gastos.”

Também pelo Twitter, Lula atacou as privatizações. No dia 4, escreveu: “Em defesa do patrimônio do povo brasileiro, e por serviços postais eficientes e acessíveis a toda a população, é preciso dizer não à privatização dos Correios!” Ainda pelo Twitter, escreveu em 18 de maio: “Privatizar a Eletrobras é entregar de bandeja esse inestimável patrimônio duramente construído pelo povo brasileiro. É permitir que interesses privados passem a controlar as barragens e as vazões das águas, bem como o acesso a importantes fontes hídricas do nosso país”.

Não há informação de contato entre Lula e representantes do mercado ou definição por parte do petista de uma equipe econômica que agrade aos agentes financeiros. Quem faz o papel de interlocutor é o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

Ex-professor do Insper, Haddad é visto como alguém tecnicamente preparado, capaz de “entender e se fazer entender” pelos agentes econômicos. Segundo relatos, ele se reuniu há cerca de três semanas com um grupo composto por executivos e membros de conselhos de instituições financeiras. Mas não revelou ali intenção de Lula de caminhar na direção do mercado. Um dos presentes, frustrado, definiu-o como “negacionista” do ponto de vista econômico.

O ex-prefeito dificilmente, deve permanecer como um interlocutor na área econômica. Ele provavelmente será o candidato do PT ao governo de São Paulo. Procurado pelo Valor, Haddad confirmou o encontro, mas não quis comentá-lo.

O interesse em capturar qual será o posicionamento de Lula em termos de política econômica tem levado alguns grandes nomes do setor financeiro a pedir encontros privados com Haddad. O Valor apurou que um grande banco de varejo e um grande fundo de investimentos aguardam disponibilidade de agenda do ex-prefeito, que segue postergando essas conversas.

Há um consenso entre os ouvidos de que o primeiro sinal sobre para onde um eventual governo deve caminhar é a definição de um interlocutor na economia. O nome de Henrique Meirelles, que dirigiu o Banco Central durante todo o período em que Lula foi presidente, é sempre mencionado como uma alternativa, embora ele já tenha dito que não foi sondado. Ao Valor, afirmou que estuda um convite para sair candidato ao Senado por Goiás.

Dessa vez, os agentes do mercado financeiro dizem que a indicação de um potencial bom ministro não trará credibilidade imediata. Será preciso dar indicações de força e autonomia à equipe para que se afaste o risco da repetição do que ocorreu com Joaquim Levy em 2015 e, agora, com o ministro Paulo Guedes – que perdeu capacidade de implementação da agenda liberal prometida, na visão do mercado.

A despeito de toda a incerteza em torno do que seria um novo governo do PT neste momento, a maioria dos entrevistados considera provável que Lula opte por um caminho mais moderado economicamente. “Lula nunca foi um extremista, um revolucionário”, nas palavras de um dos entrevistados, que acompanhou de perto a transição dos governos Fernando Henrique para o do petista.

Outro fator observado pelos agentes é que, hoje, há limitações institucionais para uma política excessivamente expansionista. Teto de gastos, reforma trabalhista, lei da governança das estatais, fim do crédito subsidiado pelo BNDES e autonomia formal do Banco Central compõem um arcabouço que pode dificultar a retomada plena do que foi o segundo governo Lula. Ele poderia tentar recuperar as alavancas, dizem, mas isso demandaria uma difícil negociação com o Congresso.

Valor Econômico

 

 

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