Moralista, ditadura militar financiou hotelaria do sexo

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Foto: Salomon Cytrynowicz/VEJA

A placa com o brasão da República sobre a faixa verde e amarela anunciava os cinco metros de extensão do Galaxie negro, um modelo superlativo em conforto talhado pela Ford para chefes do governo militar.

Pelas janelas, o general de brigada João Baptista Figueiredo, chefe do Gabinete Militar do general-presidente Emilio Garrastazú Medici, podia ver as pessoas aglomeradas à sua espera, dividindo canapés servidos em louça inglesa comprada para aquele dia de julho de 1973.

Figueiredo estava nos seus melhores dias, desfrutando uma rotina de homenagens, às vésperas. Acabara de receber a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal, emblema do conservadorismo pautado pelas ditaduras nas duas margens do Atlântico. Logo assumiria a chefia do Serviço Nacional de Informações, a temida agência de espionagem política.

O general desembarcou, cumprimentou amigos empresários e presidiu a inauguração do Motel Dunas, o mais novo das três dezenas de estabelecimentos cariocas voltados para o sexo na então paradisíaca Barra da Tijuca, no Rio.

Contada pelos jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo no recém-lançado “Os Motéis e o Poder”, a cena condensava ambiguidades do regime autoritário do qual Figueiredo seria o último general-presidente seis anos mais tarde.

A ditadura satanizava a liberdade sexual, entendida como parte da “infiltração comunista” que se desenvolvia “na corrupção dos costumes e da moral, no barateamento do sexo, no acanalhamento da mulher, do lar, (…) para o fim único da dissolução da família”, como definiu o brigadeiro Agemar Santos no seu “alerta contra o inimigo”, lido numa solenidade promovida pelo Exército.

Toda nudez era castigada pela rígida censura nos jornais, revistas, televisão, cinema, teatro ou na música, mas era possível ir para cama com patrocínio da empresa estatal Embratur.

Sob a capa do anticomunismo e do ultraconservadorismo nos costumes, o governo extraía dinheiro do Tesouro Nacional, via incentivos fiscais, para financiar o florescimento da indústria de motéis para sexo.

Fomentava a fortuna de um grupo de empresários amigos do regime com subsídios estatais a um segmento da hotelaria que se tornou bilionário — 250 mil empregados antes da pandemia.

Eram negócios e poder — sexo mesmo, só um detalhe. A cena do general Figueiredo descendo do carro negro com placa oficial para inaugurar o Motel das Dunas, no inverno de 48 anos atrás, traduzia uma observação do escritor irlandês Oscar Wilde, autor de O retrato de Dorian Grey, feita na alvorada do século XX: “Tudo no mundo tem a ver com sexo, exceto o sexo. Sexo se refere a poder.”

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